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Estado de Minas SUSTENTABILIDADE

Em defesa do meio ambiente e da vida

Movimento prega a redução no consumo de produtos que envolvem o manejo e o abate animal em larga escala


08/09/2019 04:00 - atualizado 06/09/2019 19:44

 
 
 
Prato de comida com arroz, feijão, salada e ovo
Prato mais simples é o ideal para os adeptos da dieta (foto: Paulo Filgueiras/E.M/D.A Press)


Nem vegetariano e nem vegano: o movimento reducetarianista envolve a redução gradual no consumo de carnes, peixes, frutos do mar, ovos e laticínios, mas não os corta 100% da dieta.

Lançado pelo norte-americano Brian Kateman, em 2014, criador da Reducetarian Foundation, a ideia se propõe a contribuir para a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Como? Reduzindo o consumo de produtos que envolvem o manejo e o abate animal em larga escala. Para o indivíduo, o movimento propõe uma alimentação mais equilibrada.

No Brasil, o reducetarianismo encontra adeptos e respaldo entre médicos e nutricionistas. Mas é preciso começar o programa com o devido acompanhamento, já que a carne e os derivados animais representam a maior fonte de proteína na dieta humana. “A carne é uma das principais fontes de proteínas da nossa alimentação, de importância fundamental para o funcionamento adequado do organismo, exercendo diversas funções no corpo”, informa Flávio Moreira Greco Cosso, médico endocrinologista do corpo clínico do Hospital Madre Teresa.

O endocrinologista cita, ainda, que a proteína animal é fonte de várias vitaminas e minerais, como as vitaminas do complexo B, principalmente B6 e B12, aminoácidos e minerais como ferro, zinco, selênio e fósforo.

No entanto, é sim possível e, muitas vezes, benéfico reduzir o consumo de carne e derivados animais, explica o endocrinologista. “Embora a carne e outros alimentos de origem animal sejam a principal fonte de várias vitaminas e minerais, é possível encontrar esses nutrientes em outros alimentos de origem vegetal. Em algumas situações, há a possibilidade de se fazer a suplementação com vitaminas para evitar a sua deficiência em pessoas que desejam reduzir ou mesmo abolir os alimentos de origem animal de sua alimentação.”

MEIO AMBIENTE 

O endocrinologista lembra que o reducetarianismo é um movimento recente, que tem se consolidado principalmente nos EUA nos últimos 4 anos. “Um dos principais focos do movimento é a preocupação ambiental. Ele prega uma alimentação balanceada e, no lugar de eliminar a carne e alimentos de origem animal, como o vegetarianismo e o veganismo, as pessoas reduzem drasticamente o seu consumo.”

Cosso garante que tal redução dos alimentos de origem animal pode ser bem-vinda, principalmente em pessoas cujo consumo de carne vermelha rica em gordura é muito elevado, o que pode contribuir para a geração de radicais livres e o aumento do risco de doenças cardiovasculares, degenerativas e mesmo de câncer. A redução do consumo de derivados animais, principalmente quando são alimentos muito gordurosos, poderia ainda contribuir para facilitar a digestão e a perda de peso, promovendo uma vida mais saudável.

“Ao contrário, em excesso, o consumo de carne vermelha – principalmente quando se ultrapassam 500 gramas por semana –, pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto e o derrame, além do aumento do risco de câncer de intestino, próstata e de pâncreas. Deve-se priorizar o consumo de carne branca, mas também sem excessos. O ideal é ter sempre uma dieta balanceada”, indica o endocrinologista.

No consultório, o médico já tem percebido interesse pelo reducetarianismo. “Há, sim, uma preocupação crescente por parte dos pacientes por uma mudança de hábitos de vida, em sintonia a ideais de sustentabilidade e de defesa dos animais. Sabemos que a atividade pecuária contribui para cerca de 15% da emissão dos gases de efeito estufa, portanto, a preocupação com o menor consumo de alimentos de origem animal, de fato, deveria fazer parte da rotina das pessoas, não só visando à conquista de hábitos mais saudáveis como também contribuindo para a proteção do meio ambiente.”
 
 
Para o endocrinologista Flávio Cosso, o excesso do consumo de proteína animal pode aumentar o risco de infarto
Para o endocrinologista Flávio Cosso, o excesso do consumo de proteína animal pode aumentar o risco de infarto (foto: Arquivo pessoal)
 
 

SUBSTITUIÇÃO  

A nutricionista Cristina Marques, que trabalha com reeducação alimentar, com elaboração de cardápios, controle de deficiências e objetivos específicos, acredita nos benefícios do movimento. “O alto consumo de proteína animal pode gerar colesterol alto, pressão arterial e ácido úrico elevados, sobrecarga renal e outras patologias.” Mas lembra sobre a importância do acompanhamento especializado. “Com a suspensão abrupta do consumo de proteína animal, pode haver comprometimento de ferro e da vitamina B12 no organismo”, alerta.

Na dieta, Cristina lembra que a fonte de proteína animal pode ser substituída por diversos alimentos. “Uma combinação de grãos e cereais, por exemplo, como arroz, feijão, lentilha, quinoa, grão-de-bico, sementes. De forma geral, a ingestão diária recomendada é de 0,8 grama por quilograma de peso corporal. Isso quer dizer que uma pessoa que pesa 60 quilos deve consumir 48 gramas de proteínas, o equivalente a cerca de 10% das calorias diárias. Mas esse cálculo pode variar e ajustes individuais podem ser feitos por um nutricionista”, descreve.

Sobre o movimento, a nutricionista destaca que estudos científicos já comprovam que a redução do consumo de proteína animal, em geral, melhora a saúde humana. “Tanto pela melhora na capacidade digestiva e absortiva do corpo quanto na redução de substâncias químicas e até metais pesados. Dessa forma, o metabolismo melhora como um todo”, aponta.

O segredo, então, está no equilíbrio? A nutricionista aposta que sim. “Certamente, temos que repensar nosso modo de consumo em todos os níveis. Na alimentação, oriento e incentivo pacientes a buscarem produtos locais e orgânicos, frequentar feiras livres, pequenos produtores, armazéns. Porque reduzir nosso próprio consumo e lixo produzido é zelar pelo planeta.”




Palavra de especialista

 
Haryni Costa
nutricionista comportamental


Contra o exagero
“No contexto do exagerado consumo de carne, o reducetarianismo de Brian Kateman, autor do livro The reducetarian, é medida pertinente e necessária. A redução do consumo de carne vai ao encontro da linha nutricional da alimentação consciente e intuitiva, que propõe o resgate da sabedoria alimentar natural de cada indivíduo desde o nascimento, e que é perdida ao longo da vida. São importantes, principalmente, os sinais físicos de fome e saciedade, juntamente com escolhas saudáveis, pensadas individual e coletivamente. É essencial que venhamos a desenvolver formas mais conscientes de consumir, com escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis.”


» Conheça as funções da proteína animal na saúde
 
1) Estrutural, fazendo parte da estrutura das células e contribuindo para sua integridade, como o colágeno e a queratina;

2) Transporte, sendo responsáveis pelo transporte de   substâncias pelo corpo, como a albumina;

3)Reguladora, fazendo parte da estrutura de vários hormônios, como a insulina;

4)Metabólica, sendo responsáveis pelo controle de todas as reações químicas do organismo, como as enzimas digestivas;

5)Defesa, fazendo parte do sistema imunológico na forma de anticorpos.


Fonte: Flávio Moreira Greco Cosso, médico endocrinologista 


Personagem da notícia
Lila Alves
adepta da dieta com redução 
de proteína animal
 
 
Mulher comendo um prato saudável
A fotógrafa e jornalista Lila Alves é adepta da dieta com redução de proteína animal (foto: Paulo Filgueiras/E.M/D.A Press)
 
 
O processo na prática 

Há 24 anos sem comer carne vermelha e há quatro também sem consumir aves, Lila Alves, jornalista e fotógrafa, é adepta do reducetarianismo antes mesmo de o movimento ganhar nome e se espalhar pelo mundo. “Atualmente, como peixes de duas a três vezes por semana e, esporadicamente, frutos do mar. Consigo suprir a necessidade da proteína animal com ovos, leite e derivados. Também me alimento de legumes, frutas e vegetais ricos em ferro, como a soja e o feijão.”

A decisão de abolir carne bovina e de aves é baseada em um estilo de vida mais consciente. “Não me alimentar de carne é uma questão de ética, saúde e preocupação com o meio ambiente. Sinto arrepios de pensar no cruel destino dos animais nascidos, criados, confinados e abatidos com requintes de crueldade.”

A saúde, conta, vai bem, com respaldo no resultado de exames. “Considero a minha dieta 'pisciovolactovegetariana' e, em constantes checapes clínicos, nunca houve carências de ferro e de B12. Minha pele é hidratada e viçosa e, mesmo sem cuidados estéticos, ela não entrega meus 46 outonos. Acredito nos estudos que indicam que as dietas com baixo consumo de carne promovem uma vida mais longa e saudável.”
A questão ambiental também é um ideal caro para a jornalista. “Sabemos que a criação de animais em escala industrial pressupõe o desmatamento, consome água em volumes estratosféricos e polui o ar, o que contribui para o aquecimento global, para a devastação, problemas muitos sérios.”

Vale a pena? Para ela, o desejo é abolir 100% o consumo de proteína animal, uma conquista que pretende alcançar aos poucos. “A partir da minha escolha, me sinto saudável, feliz e de consciência quase limpa. Quase, porque, embora saiba tudo o que envolve a escolha de comer ovos, peixes ou outros alimentos de origem animal, ainda não consigo abdicar totalmente desses prazeres. Meu estilo de vida colabora com a minha saúde, com a vida animal, com a preservação dos recursos naturais do planeta, mas ainda não é o suficiente. De acordo com minhas convicções ideológicas, sei que são necessários mais alguns passos no meu processo de evolução espiritual para que eu realmente durma com a consciência tranquila.” 
 


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