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Estado de Minas

Não se deixe enganar

Buscar informação segura e desconfiar. Essas são saídas para evitar que você seja ludibriado por alimentos 'vendidos' como saudáveis e que, além de mais caros, podem ser substituídos


postado em 04/08/2019 04:06

Para o nutrólogo Enio Cardillo Vieira, o ser humano gosta de fórmulas mágicas, que nos livrem de problemas(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 4/4/19 )
Para o nutrólogo Enio Cardillo Vieira, o ser humano gosta de fórmulas mágicas, que nos livrem de problemas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 4/4/19 )







Moda, crendice, mágica, milagre... Parece surreal, mas a realidade é que, de tempos em tempos, um alimento ou outro surge como a solução para todos os problemas: do mais saudável ao que cura; daquele que emagrece ao que retardará o envelhecimento... Fale sério! A questão é que milhares de pessoas ainda caem na história dessas “novidades”. O nutrólogo Enio Cardillo Vieira, professor doutor e professor emérito do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que costuma fazer uma brincadeira (ou analogia) com seus pacientes quando se refere a alimentos mágicos na alimentação.

“O ser humano gosta de ser enganado. Ele sempre busca fórmulas mágicas para solução de problemas. Um exemplo. Suponhamos que o médico diga para um fumante: ‘Sua chance de ter um câncer pulmonar é de 0,2%’. Isso significa que a incidência de câncer pulmonar no fumante é de 2 em mil. Claro que o fumante está sujeito a inúmeras doenças decorrentes do consumo de tabaco, como câncer na boca, na faringe, na laringe ou em qualquer outro órgão, problemas pulmonares, problemas cardíacos etc. Contudo, a doença mais temível é o câncer pulmonar. O paciente replica: “Doutor, vou deixar de ter o prazer de fumar porque posso ser dois em mil? Não acredito que terei esse azar”. A chance de alguém ganhar na Mega-sena é uma em 50 milhões. O paciente acredita que ganhará na Mega-sena, mas não acredita que terá câncer pulmonar. Falo isso para mostrar como todos queremos ser enganados. Sempre buscamos fórmulas mágicas, que nos livrem de problemas.”

CAMINHO DAS ÍNDIAS

 Para Enio Cardillo, é fato que a alimentação e a nutrição são sujeitas a modismos. Ele alerta que, frequentemente, surgem alimentos preconizados como mágicos. “Recentemente, indústrias e distribuidores de alimentos lançaram produtos com propriedades “mágicas”, que prometem resolver ou evitar inúmeros problemas de saúde. Esclareça-se que todo alimento pode ser considerado bom alimento por conter nutrientes essenciais ou promover a saúde ou – por que não dizer – ser fonte de prazer. O ser humano sempre consagrou o prazer que a alimentação proporciona. O que os europeus buscavam no caminho das Índias no século 15? Era para matar a fome? Não. Eles iam buscar as especiarias, segundo nossos livros de história. Enfrentavam as tormentas na costa oeste da África, enfrentavam canibais, caso houvesse naufrágio, estavam sujeitos à chamada “doença dos marinheiros”, que era a doença causada pela deficiência de vitamina C. Tudo isso para trazer prazer à mesa. Portanto, não se deve estigmatizar a busca de alimentos que só proporcionam prazer. Não se deve abusar    desses alimentos. O refrigerante é fonte de prazer, mas não é aconselhável seu consumo diário.”




. alimentos considerados mágicos
O professor emérito do ICB Enio Cardillo faz uma lista:

» Barrinha de cereal – com castanhas ou nozes, são bons alimentos, ricos em gorduras essenciais ao organismo. Contudo, não há nenhuma magia, porque seus componentes são encontrados em outros produtos. Essas barrinhas surgiram nos últimos decênios. Como o ser humano conseguiu sobreviver sem elas?

» Arroz integral – arroz integral nunca foi integral. Seria integral se fosse consumido com a casca amarela, conhecida como “marinheiro”. Um produto com trigo, aveia ou centeio integrais contém o grão inteiro, incluída a casca. Arroz integral não contém fibra. Contém, sim, vitaminas e sais minerais, que estarão presentes em inúmeros outros alimentos. A fibra do arroz integral pode ser obtida em um produto que se denomina farelo de arroz, que é a casca do arroz moída. Não dependemos do arroz chamado integral para suprimento de vitaminas e sais minerais.
 

» Biscoito integral – cereais integrais são mais nutritivos do que os refinados, por conter mais vitaminas, sais minerais e fibras. Portanto, é preferível consumir pão integral em vez do pão branco. Isso não é justificativa para se consumirem biscoitos recheados feitos com cereais integrais.
 

» Açúcar mascavo – açúcar é um carboidrato (sacarose) que consiste de uma molécula de glicose ligada a uma molécula de frutose. No intestino, uma enzima desdobra essa molécula, gerando glicose e frutose, que serão absorvidas. O açúcar mascavo contém minerais responsáveis por sua cor. Esses minerais estão presentes em praticamente todos os alimentos que consumimos. Se dependêssemos desses minerais do açúcar mascavo, estaríamos mortos há muito tempo. O açúcar refinado é sacarose pura. Não tem nenhuma substância tóxica. Em seu processamento não há adição de ácidos ou soda cáustica, como muitos acreditam.

» Chia e quinoa – esses grãos não têm propriedades mágicas. São alimentos de custo elevado. Alguém ganha dinheiro com sua comercialização. Cereais (aveia, centeio, arroz, milho, trigo), leguminosas (feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha, soja, gergelim, amendoim), castanhas e nozes contêm os componentes desses alimentos.
 

» Linhaça – a gordura da linhaça é rica em um ácido graxo, que pertence à família do ômega-3. Componentes dessa família são abundantes em óleos de peixes marinhos. Os esquimós comem muito peixe ou animais que comeram peixes. Os esquimós são protegidos contra diversas doenças, como aterosclerose, doenças autoimunes, asma. Essa proteção é atribuída ao consumo de ômega-3. Ocorre que nos peixes marinhos os ácidos graxos têm 20 e 22 átomos de carbono. O ômega-3 da linhaça contém 18 átomos de carbono. A capacidade do ser humano de transformar o ômega-3 de 18 em 20 ou 22 átomos de carbono é menor que 1%. Portanto, se uma pessoa consome linhaça, pensando que terá os benefícios que o esquimó tem, está enriquecendo o distribuidor de linhaça. Resumindo: linhaça é um bom alimento, mas não é mágico.

» Sal do Himalaia – o nome químico do sal de cozinha é cloreto de sódio. Será que o sal do Himalaia é cloreto de ouro? Pelo preço, parece ser. Esse sal tem um pigmento que não tem nenhuma propriedade mágica.
 


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