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Estado de Minas

Na hora da papinha

[FOTO1] A introdução alimentar além do leite materno hoje geralmente se dá depois dos 6 meses, com alimentos separados e sem liquidificar. Há também restrição de açúcar até os dois anos


postado em 28/07/2019 04:19

O médico Mateus Coutinho alerta que é bom verificar a procedência dos conselhos e conversar sempre com o pediatra(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
O médico Mateus Coutinho alerta que é bom verificar a procedência dos conselhos e conversar sempre com o pediatra (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )





Na maior parte das vezes, os conselhos são bem-intencionados, mas alguns podem minar a segurança da nova mãe, já tão fragilizada, como ocorreu com a professora Carolina Hastenreiter, de 31 anos, quando do nascimento do primeiro filho. Desde a gravidez, ela conta que começou a se desentender com a sogra. "Teve um dia em que ela disse que eu precisava dar caldo de feijão. A Sofia tinha um mês", relata, Carol, que amamentou Sofia no peito e, antes mesmo de ela nascer, já sabia de todos os benefícios do leite materno.

Ler, inclusive, foi o que ela mais fez durante a gestação. Participou de grupos no Facebook para ajudar a se preparar para o parto, pesquisou sobre amamentação e introdução alimentar. "Comecei a pesquisar introdução de alimentos nos quatro primeiros meses de vida. Muitos artigos falavam que a maioria dos problemas gastrointestinais ocorrem devido a essa alimentação precoce. O feijão é um alimento muito forte, que produz muitos gases. Se você dá para uma criança cujo intestino está em processo de formação, isso pode causar uma gastrite mais pra frente, que é exatamente o que meus cunhados têm. Falei isso pra minha sogra e ela não aceitou, continuou batendo de frente comigo", desabafa a professora, que, por fim, desistiu de questionar.

A verdade é que muita coisa mudou nos cuidados com o recém-nascido ao longo dos anos. Maior que essas mudanças, porém, é o poder de decisão da mãe, que pode acatar o que ditam os novos estudos na área da pediatria ou simplesmente os conselhos de alguém querido. A internet também pode ser aliada nos cuidados, mas em era de fake news, todo cuidado é pouco. "É uma ótima ferramenta, tanto para o bem quanto para o mal. Há muita informação de qualidade, mas infelizmente há desinformação também. É sempre importante verificar a procedência e conversar abertamente com o pediatra. Toda opinião tem seu contraponto", alerta o médico pediatra Mateus Salzgeber Coutinho.

ANSIEDADE

 Questionado se hoje é mais fácil ou difícil criar os filhos do que antigamente, o pediatra toca num ponto que pode definir a principal característica das mães desta geração: ansiedade. Ele diz: "Criar os filhos hoje não é mais fácil, nem mais difícil. É diferente. Hoje, temos muito mais ferramentas, mais acesso, mais informação. Em contrapartida, temos maiores anseios e menos tempo. Os problemas que eram comuns há 20 anos, hoje são de fácil resolução, mas surgem novos desafios".








Resposta da avó

Apoio a qualquer hora


“Era véspera do Dia das Mães quando recebi a notícia de que seria avó. Estávamos no carro, eu e minha filha, quando ela de repente freou e estacionou. Me entregou um presente e disse: "Resolvi antecipar o Dia das Mães". Era um embrulho estampado com smiles, aquelas carinhas de sorriso. A princípio achei que era uma roupinha de cachorro, quando ouvi: "Mami, você vai ser vovó". Fiquei em estado de graça e meio sonsa. Meu Deus, pensei, um dos meus raminhos está florindo e logo dará fruto. Abraçou-me, choramos juntas e começamos a pensar se seria menino ou menina. Não esqueço o que ela me disse: "Pode deixar que tudo o que você falar, vou acatar". Grande engano, para os dois lados. Primeiro desentendimento: chegamos da maternidade e lá estava meu netinho só de fraldinhas, quase pelado. Fiquei brava e ela me enfrentou dizendo que a pediatra falou para deixá-lo só de fralda. Nossa, isso foi demais para mim. Ela não me ouvia e nada que eu falava tinha valor. Comeu comida gordurosa, sanduíche, não queria usar a cinta, tinha medo de que eu não soubesse cuidar do neném. Me sentia insegura e desconfortável com a situação. Tinha a sensação de que não confiavam em mim. Todos os meus conselhos e orientações eram em vão. Minha filha consultava o grupo de mães do WhatsApp todo o tempo e isso me tirava a paciência. Hoje, crescemos e amadurecemos. Eu, na arte de ser avó e ela na arte de ser mãe. Sobre a mentira de que eu cuidaria do seu filho, o que posso dizer? Minha filha é uma leoa, que defende sua cria e sabe que pode contar comigo, mas só ela pode ser mãe. E eu, avó.” 

.  Solange Alves dos Santos, avó de Isaac


depoimento

Gabriella Pacheco, 
de 33 anos, é mãe de Sofia, de 4 meses. 
Brasileira, hoje ela vive na Holanda
Longe da família

“Fazia ideia de que ter minha filha longe da família e amigos fosse ser difícil, mas a realidade tem superado minhas expectativas. A parte da gravidez aqui, ao contrário do que muitas mulheres receiam, não foi complicada. Quem faz o acompanhamento todo é uma parteira, não um médico.

E de X em X semanas, quando ia na clínica de parteiras, eu era estimulada a perguntar o que quer que me assolasse no momento, além de ser estimulada a fazer cursos e ler panfletos informativos sobre tudo que envolve a gravidez. Então, não falta conhecimento para os novos pais aqui. Fazer um curso preparatório (para pais) é algo de praxe e superrecomendado.

No pós-parto, o suporte também é similar. Na primeira semana de vida do bebê, os pais recebem em casa a ajuda diária de uma enfermeira (a kraamzorg), que ensina várias coisas, desde o banho do bebê até como fazer o berço. Então, todas aquelas dúvidas que fazem a gente recorrer à avó ou à mãe são respondidas aqui por uma profissional que estudou para saber como melhor proceder com um bebê.

Isso me trouxe um certo alento, dada a ausência das mulheres da minha vida. Mas não dá pra dizer que elas não fizeram falta. Falo com a minha mãe com frequência, mas raramente é pra perguntar pra ela como agir ou esclarecer alguma dúvida. Para mim, o que vale é o desabafo, porque ter um bebê é uma tarefa extremamente desgastante e exaustiva.

Por isso, o que mais sinto mesmo é a falta do apoio presencial, dos braços extras para me ajudarem com minha bebê. É claro que toda mãe vem com sua bagagem de crendices, além de toda sua própria experiência. Mãe que é mãe não deixa de ser opinativa. Mas o que a distância me ensinou é que talvez valha a pena escutar (ainda que não se deem ouvidos) e ter o alento dos braços extras e os ombros pra chorar, do que o contrário. Não à toa, a primeira coisa que vejo muitas mães expatriadas fazerem aqui é montar sua rede de apoio com outras mães na mesma condição.”



experiência da repórter

Alessandra Alves, 32 anos, mãe de Isaac, de 6 meses

Resistente a conselhos

“Jurava que seria uma mãe tranquila, sem neuras. Quando descobri que estava grávida, não fiz nenhum curso. Não li nenhum livro. Achei que tudo seria instintivo. Sou dessas que acreditam que se aprende vivendo. Para mim, não adianta avisar, instruir, insistir. Tenho que viver e pronto. E assim passei os nove meses da minha gravidez. Cuidei da minha saúde e do meu bebê, claro. Não ingeri bebida alcoólica, evitei cafeína, doces em excesso, remédios, carne de porco, todas essas coisas que dizem fazer mal. Por outro lado, não fiz exercícios para o assoalho pélvico, aulas de pilates, meditação, ioga, hidroginástica, curso de amamentação ou consultoria de sono. Não li um livro sequer sobre como ser mãe, educar os filhos, lidar com o puerpério ou escolher entre parto natural ou humanizado... Aliás, até o dia em que o Isaac nasceu, estava decidida a fazer uma cesárea. Esse assunto, talvez, tenha sido o único que admito ter estudado um pouco mais. Li artigos sobre parto natural e cesárea. Assisti ao filme O renascimento do parto, partes 1 e 2. Mas acho que parei por aí. Então, acreditei que depois que o Isaac nascesse, as coisas seriam instintivas. De fato, consegui amamentar sem maiores dificuldades. Agradeço a Deus por isso. Reconheço todas as dificuldades e jamais julgarei uma mãe que não conseguiu ou decidiu não amamentar. O tal do "instinto materno", no entanto, parou de dar as caras logo, logo. No primeiro mês de vida do meu filho, eu não sabia o que fazer. E mesmo assim, não aceitei opinião. Pedia auxílio, desesperadamente. Minha mãe ficou comigo por 20 dias. Mas a cada vez que tentava ajudar, era uma briga que nascia. Meu filho teve muita cólica e eu simplesmente não sabia o que fazer. Minha mãe, que descobriu a maternidade pela primeira vez aos 21 anos – 11 anos mais nova que eu –, queria tentar tudo que usou comigo e funcionou na época: Funchicória, chá de camomila, massagem com óleo. Eu achava tudo ultrapassado. Não porque sabia de alguma coisa. Eu não sabia de nada. Mas colocava tudo no Google. "Funchicória? Puro açúcar, vai acabar com a saúde do meu filho. Chá? Jamais, bebê que mama no peito não precisa disso! Massagem? Irrelevante", eu pensava. "Coloque ele de bruços, minha filha, que pressiona a barriguinha e alivia a dor", dizia minha mãe. "Meu Deus! Dormir de bruços é a maior causa de morte súbita entre os bebês", eu retrucava, questionando os métodos daquela que cuidou de mim e do meu irmão perfeitamente bem – aliás, temos saúde de ferro. Depois de 20 dias, minha mãe foi embora, perdida, chateada, com a sensação de impotência. E eu? Fiquei ainda mais perdida, agora sem ninguém para me dar conselhos. Mas de que adiantaria, se recusei todos eles? Depois de algumas brigas e muito diálogo, finalmente admiti minha arrogância. E minha mãe entendeu que, para além do fato de a medicina ter avançado, havia o meu direito de tomar decisões. Seis meses depois do nascimento do Isaac, consigo equilibrar os conselhos que recebo da minha mãe e da sogra com aquilo que acredito ser melhor para ele. Vovós, sem vocês não teríamos chegado até aqui. Obrigada por toda ajuda, paciência e amor com esta mamãe de primeira viagem.” 
 


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