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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Saiba como defender seus argumentos e vencer um debate mesmo sem ter razão

O que os haters e Schopenhauer têm em comum? Os odiadores da internet não sabem, mas eles seguem à risca alguns estratagemas demonstrados na obra A arte de ter razão, escrita pelo filósofo


postado em 31/03/2019 14:42 / atualizado em 31/03/2019 14:42

(foto: geralt/Pixabay)
(foto: geralt/Pixabay)


Nascido em Dazing, em 1788, Schopenhauer foi importante filósofo alemão, que influenciou o pensamento do século 19 e continua a influenciar até os dias de hoje. Ele ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e teve ascendência sobre grandes escritores, como Léon Tolstoi, Kafka, Machado de Assis, Augusto dos Anjos e Jorge Luis Borges, entre outros. Em seu livro Schopenhauer – A arte de ter razão, da Editora Edipro, ele apresenta brilhante, polêmica e bem-sucedida argumentação sobre como vencer um debate sem ter razão. Mestre da filosofia satírica, ele não só mostra a capacidade retórica de defender de forma inteligente seus próprios argumentos, como a compreensão das estratégias adotadas pelos parceiros de debate. Em tempos de haters, os odiadores da internet, essa obra nunca esteve tão atual. Claro, eles não sabem. No entanto, seguem à risca alguns estratagemas propostos pelo autor.

Nas redes sociais, os haters se preocupam em entrar nas páginas das pessoas comuns, artistas, partidos, empresas, instituições e comércios para falar mal, destilar ódio e ofensas. E para que todos os impropérios se justifiquem, eles usam técnicas antigas, também sem perceber, e se destacam nas discussões na internet pelo fato de refutar o discurso do indivíduo que ele está contra, técnica apresentada no Estratagema 2 da obra de Schopenhauer. Guilherme Marconi Germer, doutor em filosofia alemã e austríaca pela Unicamp e pós-doutorando em filosofia moderna pela USP, explica o quão atual se apresentam as ideias de Schopenhauer. “Ele é um filósofo extremamente atual em diversos aspectos. Jair Barboza afirma que compõe, ao lado de Karl Marx, os dois pilares fundamentais da filosofia contemporânea. De fato, algumas das principais correntes da filosofia continental dos séculos 20 e 21 têm no autor referencial incontornável. Entre seus mais eminentes admiradores se destaca Friedrich Nietzsche, que o identifica como seu 'grande mestre', revela que sua descoberta de Schopenhauer lhe trouxe 'revolução espiritual', e o define como o filósofo educador ideal. A riqueza pedagógico-filosófica desse autor, conforme Nietzsche, se deve ao fato de ele saber 'dizer as coisas profundas com simplicidade, as coisas comoventes sem retórica, e as rigorosamente científicas sem pedantismo'.”

No entanto, para Guilherme Marconi Germer, o perfil contemporâneo corriqueiro do hater nada tem em comum com Schopenhauer, e muito pouco com a dialética erística (como vencer um debate sem precisar ter razão – em 38 estratagemas). “Os haters não praticam a dialética erística (e muito menos a filosofia) porque negam a própria situação do diálogo. Eles não querem dialogar, mas apenas manifestar uma repulsa ou ódio. Durante um debate, eles seriam aqueles que só sabem ficar do lado de fora, vaiando, sem nada acrescentar. O dialético erístico já é bem mais evoluído. Do ponto de vista intelectual não rejeita o debate, pelo contrário, busca as conversas, uma vez que vê nelas a oportunidade de se beneficiar positivamente, com base em suas estratégias de vitória dialógica (sem precisar ter razão). Por isso, ele dá voz ao interlocutor, escuta-o até certo ponto, pois muitas vezes buscará usar as próprias armas do interlocutor contra ele mesmo.” Para ele, “os textos culturais mais tardios de Freud sobre o impulso de destruição, e os de Adorno sobre a barbárie, me parecem ensinar um pouco mais de perto o perfil psicológico e sociológico do que hoje se denomina haters”.


DEBATE Guilherme Marconi Germer explica que Schopenhauer quer nos ensinar o poder consolador da verdade e do conhecimento, em um mundo mergulhado no acaso e no erro. “Se partirmos de A arte de ter razão, Schopenhauer diz que a 'verdade é indestrutível diamante. É a única coisa que permanece firme, que persevera e se mantém fiel’. Sempre é um grande risco se afastar dela. Porém, tê-la em mãos nunca é suficiente em qualquer debate. Assim, tão importante quanto tê-la é saber preservá-la de seus depravadores desleais. E, para tanto, sempre valerá a regra da justeza de que os combatentes duelem com as mesmas armas. Com esse fim, sobretudo, de defesa da verdade contra os erísticos trapaceiros e com os recursos da própria erística, bem como com o fim de denunciar ironicamente o comportamento dos últimos, Schopenhauer escreveu esse livro, cuja leitura é uma porta de entrada privilegiada e de grande valor atual ao cerne de sua filosofia.”

Para Guilherme Marconi, doutor em filosofia alemã e austríaca, os haters não querem dialogar, mas apenas manifestar uma repulsa ou ódio(foto: Arquivo pessoal)
Para Guilherme Marconi, doutor em filosofia alemã e austríaca, os haters não querem dialogar, mas apenas manifestar uma repulsa ou ódio (foto: Arquivo pessoal)
Entre os 38 estratagemas do livro, Guilherme Marconi Germer afirma que todos são amplamente praticados ainda. “Infelizmente, o último estratagema é o mais usado, pois marca, justamente, o fim do debate, e a passagem para o não debate. Isso é, o rebaixamento da 'humanitas' para a animalidade da agressão e do ódio. E, por isso, a transição da dialética erística para o comportamento do hater. Último estratagema: 'se percebemos que o oponente é superior e que não ficaremos com a razão, então devemos nos tornar ofensivos, ultrajantes e rudes'. Tornar-se ofensivo consiste em passar do objeto da disputa (que está perdida) para seu sujeito, atacando-o pessoalmente (...) É um apelo das forças intelectuais às do corpo ou à animalidade. Essa regra é muito apreciada, uma vez que qualquer um é capaz de executá-la”.

SERVIÇO
(foto: Editora Edipro/Reprodução)
(foto: Editora Edipro/Reprodução)

Livro: Schopenhauer – A arte de ter razão
Apresentação: Guilherme Marconi Germer
Tradução: Érica Gonçalves de Castro e Guilherme Ignácio da Silva
Editora: Edipro, 1ª edição, 2019, 80 páginas, R$ 32,90


Aprenda a lidar com os haters

O que leva alguém a ser hater? Pode ser que essa pessoa esteja chateada, frustrada ou que se comporta assim, simplesmente por diversão mesmo. Não existe uma causa única. Mas existem alguns passos que podem ser úteis na hora de evitá-los:

1 – Não caia no jogo deles
Silenciar é a melhor decisão, já que tudo que um hater deseja é continuar sendo um hater. Deixem que falem sozinhos

2 – Moderação nos comentários
Apague (bloqueie) qualquer tipo de comentário que seja ofensivo, odioso, preconceituoso e que não deve ter espaço reconhecido

3 – Reflita sobre os "ataques"
Avalie as críticas, algumas podem ser importantes para o crescimento, principalmente, se elas estiverem bem embasadas. Mas, provavelmente, isso não virá de um hater

4 – Eles querem publicidade
Quanto menos atenção um hater receber, menos interessado ele estará em continuar, já que se orgulham de receber certa fama. Ter seus comentários ofensivos em destaque é uma espécie de prêmio para alguns

5 – Não os guarde com você
Para viver de forma saudável e conviver com esse tipo de comentário, é preciso não armazená-los


Fonte: www.canaltech.com.br



Pronto para debater

 

(foto: Paulinho Miranda)
(foto: Paulinho Miranda)
 

 

 

Os 38 estratagemas do livro Schopenhauer – A arte de ter razão, da editora Edipro, ensinam como vencer uma discussão mesmo que a razão esteja com o outro. Livro perturbador e sempre atual, ainda mais em tempos de haters nas redes sociais. Para Guilherme Marconi Germer, doutor em filosofia alemã e austríaca pela Unicamp e pós-doutorando em filosofia moderna pela USP, é lamentável ter que dizer, diante do abuso que se faz do último estratagema do livro (estratagema 38 – parta para o ataque pessoal, insultando grosseiramente, tão logo perceba que seu oponente está com a vantagem), diante do desesperado e derradeiro argumento, “que a verborragia e a violência atual nos fazem ter saudade dos antigos sofistas. Esses, ao menos, não se subordinavam à animalidade, e tiveram a honra de ter sido eleitos por Platão como adversários dos filósofos. Não foram eles, certamente, que assassinaram Sócrates, mas os gregos, que, no declínio de Atenas, anteciparam os haters atuais.”

Para o também professor substituto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o ganho filosófico (para o bem) da dialética erística (como vencer um debate sem precisar ter razão) é, conforme Schopenhauer, duplo. “Em primeiro lugar, ela (dialética erística) serve de defesa contra os ataques desleais dos dialéticos eristas. Afinal, poder se defender com as mesmas armas do atacante é uma regra básica da Justiça. Além disso, o texto tem um ganho psicológico, à medida que descreve com bastante acerto e originalidade um comportamento muito recorrente, mas pouco reconhecido, dos homens em geral: eles não entram em um debate para ampliar o conhecimento e chegar a um acordo, de modo neutro e objetivo. Pelo contrário, o fazem, sobretudo, para vencer, persuadir e se beneficiar com isso. Muitas armas são usadas com esse fim – as quais podem ser resumidas nos 38 estratagemas compilados pelo filósofo de Frankfurt.”


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