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Estado de Minas VITALidade

Intervenções estéticas masculinas: o caso Stênio Garcia

Quando um homem decide realizar procedimentos estéticos semelhantes aos feitos por mulheres, frequentemente enfrenta críticas e ridicularização


03/07/2023 06:00 - atualizado 07/08/2023 16:09
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Montagem com duas fotos mostra o ator antes e depois da harmonização facial
Ao se sentir mais confiante, o ator nos mostra que procedimentos estéticos podem sim impactar positivamente a qualidade de vida de uma pessoa (foto: Divulgação/TV Globo/SBT)
Há algumas semanas não se comentou outra coisa na internet que não o processo de rejuvenescimento facial pelo qual passou o ator Stênio Garcia. Ele ganhou de um programa de televisão uma mudança radical no visual. No Twitter, o ex-ator global virou meme e recebeu uma enxurrada de críticas por sua nova aparência, bem mais remoçada e alegre que na foto de comparação.

Após as excessivas reações do público, o ator concedeu uma entrevista à jornalista Patrícia Kogut, e afirmou que não se importava com as críticas que estava recebendo e que fez os procedimentos em razão de sua profissão, pois, segundo acredita, estar rejuvenescido pode ser um atributo a mais para conseguir papéis. Questionado se achava que tinha ficado bonito após a harmonização facial, Stênio Garcia disse que estava se sentindo com menos de 15 anos e que sua autoestima tinha melhorado muito.

Ainda que a autoestima não esteja ligada diretamente à aparência, não temos dúvida de que dar uma repaginada, seja por meio de procedimentos estéticos, seja por meio de processos de emagrecimento, por exemplo, pode ser muito positivo para o sujeito.


E provavelmente foi isso o que aconteceu com o ator, que relatou que após o procedimento estava se sentindo com mais qualidade de vida. Ao se sentir mais confiante após a harmonização facial, o ator nos mostra que procedimentos estéticos podem sim impactar positivamente a qualidade de vida de uma pessoa e não deveria haver qualquer problema nisto.

Deixando de lado o debate sobre a busca de juventude eterna, que não parece ter sido o objetivo do ator, o que a situação em questão nos mostra é que o modo como a sociedade encara as intervenções estéticas femininas é muito diverso do modo como encara as masculinas. Provavelmente, se fosse uma mulher de 91 anos, como é o caso do ator, passando pelo mesmo procedimento, ela não seria vítima de tão severas críticas e tampouco viraria meme.

Os estereótipos de gênero são construções sociais profundamente enraizadas em nossa sociedade, moldando as expectativas e normas impostas a homens e mulheres. Embora tenhamos avançado em muitos aspectos na busca pela igualdade de gênero, é surpreendente como pouco progresso foi feito na alteração dessas expectativas em relação ao masculino e ao feminino.  

Segundo os estereótipos do masculino e do feminino enraizados em nossas sociedades, quando uma mulher decide se submeter a procedimento estético, é comum que isto seja encarado como uma forma de cuidado pessoal, aceitação social e até mesmo de empoderamento. Muitas vezes a mulher é elogiada por sua coragem de assumir o controle de sua aparência e se sentir bem consigo mesma. Por outro lado, quando um homem decide realizar procedimentos estéticos semelhantes, frequentemente enfrenta críticas e ridicularização. 

Essa disparidade reflete as expectativas sociais impostas a homens no que se refere à sua aparência: que deve ser imutável. Enquanto a feminina pode ser flexível e passível de aprimoramentos. Tais estereótipos de gênero têm raízes profundas em nossa cultura, reforçando a pressão para que os homens se enquadrem em uma imagem de virilidade, força e praticidade, sem qualquer espaço para “futilidades”.

Os estereótipos de gênero são repetidos e reforçados em nossas práticas cotidianas. Por meio dessas reafirmações as expectativas e as normas de masculinidade são constantemente reafirmadas e acabam por limitar a expressão e a liberdade dos homens. Essa rigidez na concepção do masculino contribui para a criação de uma imagem estereotipada que exclui a possibilidade do cuidado com a aparência. 

A manutenção dos estereótipos, associada com uma visão limitada da situação coloca uma forte carga sobre os ombros dos homens, restringindo sua expressão e limitando suas opções para buscar qualidade de vida, que foi o que Stênio Garcia achou ter conseguido com a intervenção que sofreu. É fundamental desconstruirmos os estereótipos de gênero ligados ao feminino e ao masculino, reconhecendo que os homens também têm o direito de se cuidar, buscar melhorias estéticas e reforçar sua autoestima do melhor modo que lhes convier. 



 

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