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Estado de Minas FILOSOFIA

A harmonia e a ordem nos dias atuais

A harmonia como a coexistência de coisas diferentes e uma relação favorável entre elas gera a ordem social


13/09/2021 06:00

(foto: Reprodução)

A doutrina do filósofo e educador Confúcio (500-501 A.C) é uma das bases da sociedade chinesa. Os ensinamentos confucionistas, com mais de 2500 anos de história, têm como um dos ideais mais sólidos a busca pela harmonia, que pressupõe a ordem social. Para alcançá-la, um dos princípios defendidos pelo mestre é o respeito às hierarquias. 
 
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O respeito hierárquico, para o erudito, seria exercido dentro de "círculos naturais" como a família, o clã e a aldeia. Estabelece-se, assim, a ordem e, com esta a harmonia das coisas. A palavra "harmonia" na China, há mais de 5 mil anos, não é um jargão político, mas uma tradição filosófica, que ainda influencia este país, a mais antiga civilização do mundo.
 
 
É expressa por valores de ordem e respeito que, segundo os cientistas, explica uma certa aversão chinesa ao conflito e à competição, que caracteriza os sistemas multipartidários. 
 
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Confúcio era um crítico das leis estabelecidas pelo homem, pois acreditava que isso destruía o sentido moral e humano do individuo, substituindo valores morais por regras legais. Acreditava que estas podem sofrer com as injustiças ou entrar em conflito com a moralidade, o que levaria à contaminação do indivíduo. 

A doutrina visava, portanto, garantir a harmonia natural sem a ajuda de leis que a perturbem. O homem existe e é definido para os seus relacionamentos com os outros. 

Entretanto, para os juristas no Ocidente e parcela expressiva do Oriente, o homem não é bom por natureza, então o governo e suas instituições, por lei, são necessários. Nessa dualidade temos o Li, o governo pelos homens, defendido por Confúcio e o Fa, instrumento normativo, defendido pelos juristas.

Nos últimos anos, todavia, o que se observa é uma ruptura acentuada no equilíbrio das relações sociais em escala quase global. As interações entre grupos humanos estão fragmentadas. A obediência à ordem natural (mais utópica) ou às leis impostas pelos homens (mais concreta) não exercem mais a função de manter os grupos sociais em mínima simetria. 

Assiste-se, cotidianamente, ao desrespeito aos valores inerentes ao indivíduo (ou que se espera sejam inatos a ele) e aqueles que são estabelecidos pelo homem. Não se visualiza, praticamente, mais a retidão dos líderes, e isso compromete a confiança dos cidadãos naqueles que os lideram. 

As escolhas das lideranças atuais são marcadas por rancores e manipulações . As redes sociais tornaram-se a nova Bíblia a ser seguida. O conhecimento não vem de sábios, estudiosos e dos valores familiares. O adulto que seria referência para o os mais jovens são cringes e objetos de zombaria.  O "conhecimento" se traduz por falácias e bravatas, que se proliferam mais rápido que os vírus mais mortais que nos atingem e com efeito mais devastador.  

O respeito e o sentimento de solidariedade ao outro são rompidos. Não existe harmonia e quase não há um minuto de paz, exceto para os alienados que não possuem uma autocrítica dos seus atos, quase sempre vis e, vivem em um mundo paralelo de constante hostilidade.

As fakes news são a ordem da vez. Os diálogos não avançam, pois, as verdades individuais, impedem de escutar o outro.  A sabedoria do filósofo e da experiência vivida - sim, a sabedoria vem também do dia após outro, e não é necessário a academia, para alcançá-la - são ignoradas. Todo esse cenário de instabilidade reinante explica os momentos de incertezas e temores que nos acompanham. 

Quando a coerência das escolhas é ausente, os objetivos esperados dificilmente serão alcançados, prevalecendo a discordância e a desarmonia social.  O que deveria ser essencial para a sociedade é banalizado em ameaças, acusações infundadas e gritos dos desajustados. Não há respeito. O respeito leva à ordem e a esta leva à harmonia, como dizia Confúcio, 30 séculos atrás. Mas, a modernidade ignora esse preceito simples. 
 
A harmonia social é um pré-requisito para a estabilidade. Nem o crescimento econômico a substitui. Considerando que não há crescimento e desenvolvimento social, o futuro torna-se obscuro. 

Somado à instabilidade social, o aumento da depredação sobre os recursos naturais é um perigo para o presente e o futuro, além de aumentar a desigualdade e a corrupção. O resultado não é otimista. A desilusão cresce. Amplia-se o fosso entre a realidade e a esperança.  A harmonia se desvanece. Parodiando Claude Lévi-Strauss, são tristes trópicos. 
  

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