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Estado de Minas GEOPOLÍTICA

Mentira, o mal imoral dos tempos atuais

A responsabilidade de uma mentira ainda é incerta: não se sabe, efetivamente, se é daquele que a comete ou daquele a quem se destina


31/05/2021 06:00 - atualizado 02/06/2021 18:42

Immanuel Kant e a mentira(foto: Reprodução)
Immanuel Kant e a mentira (foto: Reprodução)

Vamos falar da mentira. No nosso dia a dia, tanto entre as pessoas anônimas quanto entre os maiores líderes deste mundo, as mentiras tornaram-se comuns. Quer sejam ditas com a intenção de enganar quer com a intenção de poupar de uma verdade prejudicial, a mentira continua sendo um engano. 

A responsabilidade de uma mentira ainda é incerta: não se sabe, efetivamente, se é daquele que a comete ou daquele a quem se destina. Pode ser que o destinatário não suporte a verdade, o que obriga o remetente a mentir. 

A mais dura das verdades é que todos nós mentimos em algum momento da vida: mentimos, às vezes, ao iniciar um relacionamento, para parecermos melhores que na realidade somos (talvez com leve desejo de sedução), mentimos para as almas frágeis, quando a realidade é por demasiado angustiante; mentimos por polidez para não desagradar a imagem ou a estética alheia, entre outras mentiras, tratadas como mentirinhas aceitáveis para viver bem em sociedade, para alguns. 

Que Kant não nos escute e, se escutar, nos perdoe.

Trata-se de um ato, tristemente, cotidiano, que somente o homem está dotado de possuir, ao atingir um elevado desempenho cognitivo, diferentemente de outras espécies animais (sem desmerecer a capacidade mental de outras espécies não humanas, que podem enganar), mas o homem altera de nível ao mentir. 

Fala-se o falso da mesma forma como se fala a verdade. Não existe uma marca linguística que as distinga, o raciocínio gramatical é o mesmo. Se existissem estruturas linguísticas destinadas às mentiras, pouco sucesso, com certeza, elas teriam. 

De modo geral, o triunfo da mentira depende da credibilidade que ela alcança. Pior é que se pode mentir sem dizer uma única palavra, só pela omissão, num ato silencioso da linguagem.      

Os estudos realizados indicam que, quanto mais crível, mais bem sucedida torna-se a falsidade difundida. Principalmente, quando o autor da mentira, o mitomaníaco (em negrito mesmo para se referir a um certo indivíduo mentiroso que assim é chamado por aqueles que o devotam), sabe que o ouvinte está pronto para ouvi-la. 

O mitomaníaco é a pessoa que tem a impressão, mais ou menos consciente, de que não tem grande valor. São pessoas sem confiança, segundo os especialistas. A necessidade de mentir vem do desejo de se exibir, ou para se proteger, encobrir fatos e informações que não querem ver conhecidas. Elas podem não estar mentindo, mas ainda mentem. 

Os cientistas acreditam que a mentira chega na tenra idade; a partir dos 3 a 4 anos, a criança já testa o adulto com leves mentiras, o que indica, para a ciência, uma complexidade da mente de elaborar teorias. Entre 10 e 11 anos, as crianças podem mentir como um adulto, segundo os estudiosos. 

Alguns consideram o feito notável. Os pais, entretanto, devem incutir em seus filhos que eles não devem mentir, mesmo que eles próprios mintam. 

"Todo homem é um mentiroso".  Esta afirmação aparece no livro de Salmos (116, 11). Tal atitude é tão universal que aquele que nunca mentiu atire a primeira pedra naquele que mente. O mentiroso poderia dizer a verdade, mas, considerando todas as possibilidades, opta por dizer o falso. 

Joseph Goebbels disse que “uma mentira repetida dez vezes permanece uma mentira; repetido dez mil vezes, torna-se uma verdade. Nunca vimos verdade maior como nos tempos de polarização, pandemia, fake news e de CPIs

Há estudos que mostram que o indivíduo pode ser treinado para mentir e, como resultado, menos esforço cognitivo será gerado para repetir continuamente a mentira, tornando-a mais difícil de ser detectada e convencendo mais facilmente multidões cegas (ou surdas) às claras evidências de trapaças recorrentes. 

O mais incompreensível de tudo é que é mais difícil mentir do que dizer a verdade. A verdade ocorre espontaneamente; já a mentira é intencional e cuidadosa e, portanto, requer esforço mental para produzi-la. Gasta-se tempo e energia preciosa para construí-la.

O mentiroso deve inventar sua história garantindo que ela seja verossímil e que esteja em conformidade com tudo o que o interlocutor sabe ou poderia saber. O embusteiro deve, portanto, lembrar de sua mentira, tão fielmente quanto possível, para permanecer o mais coerente e se esforçar para parecer honesto aos olhos do ouvinte. 

Não é isso a que estamos assistindo. 

Uma pesquisa realizada no Centro de Economia e Neurociências, da Universidade de Bonn, na Alemanha, em 2008, com 91 homens: 46 deles receberam aplicação de gel de testosterona e a outra metade placebo, e a pesquisa concluiu que, aqueles com maior concentração de testosterona (o mais poderoso hormônio masculino, estimulador da sexualidade, libido, coragem...blábláblá), mentiam menos. 

Há um bando de homens no alto escalão do poder precisando de dosagens cavalares desse hormônio. Endocrinologistas de plantão ofereçam tratamento gratuito, por favor. 

É fácil identificar os necessitados!

E contrariando, em parte, Pinóquio (o boneco que encantou crianças em todo o mundo), cujo nariz crescia a cada mentira contada, os pesquisadores da Universidade de Granada, na Espanha, ao usarem uma câmara térmica, identificaram que esse órgão da face incha e se aquece na ponta, laterais e próximo ao músculo orbital ao mentir. 

Conclusão: pode-se mentir ao outro, mas não ao nosso corpo. A mentira muda a temperatura do nariz. Dá vontade de sair apertando narizes por aí!  

Mas, é preciso lembrar que a única maneira de ter certeza de que uma pessoa mentiu é saber a verdade e, diante da inverdade, as vozes não podem se calar.

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