(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Temos o trabalho de dar sentido à vida ou ela não terá nenhum valor

Embora não todo amado, pois amores são sempre imperfeitos, precisamos encontrar nosso modo de prosseguir nesta tarefa, ora árdua, ora grata, de viver


28/11/2021 04:00 - atualizado 28/11/2021 02:13

ilustração mostra telefone laranjado, do modelo com disco, com o fone vermelho
.

A coisa mais dolorosa na vida de uma família é ter em seu seio alguém que desiste. Da família, da vida, de si próprio. Nunca saberemos onde colocar isso em nossos corações, a cada dia tentaremos dar um sentido para o que parece gesto sem sentido, o mistério de abrir mão de nosso dom mais valioso, que é a luta e defesa da vida.

Coutinho Jorge comenta que no discurso capitalista Lacan aponta a inversão que desvaloriza a vida humana com a máxima  “ninguém é insubstituível”. Trata-se, para a psicanálise, exatamente o contrário: “Ninguém é substituível”.

Isto nos torna mais responsáveis ainda. Temos em nossas mãos o dever de sustentar nosso valor, mesmo que os obstáculos no caminho tenham nos feito sofrer. Além disso, nossa condição humana subordinada à linguagem e a cultura nos retira da natureza, fazendo em nós uma cisão incurável.

Quando Georges Bataille, citado por Coutinho Jorge, disse que o animal está em homogeneidade entre mundo e corpo, ou seja, que o animal está no mundo como água para água, destaca que,  para o homem, ser de linguagem e desejo,  entre corpo e mundo há o profundo abismo que torna o mundo uma alteridade radical para cada um.

Este fato torna a vida extremamente trabalhosa, quem não sabe? Nascemos sem manual de instruções, não somos dotados de instinto como os animais, que já nascem sabendo o que vão comer, como parir e têm no cio a regulação da vida reprodutiva.

Nós, seres falantes, somos submetidos às pulsões, elas saem do corpo em busca de um objeto de satisfação plena e voltam sem encontrá-la. Nossa sexualidade é um espinho na carne por não ter a adequação de um objeto certo.  Nada nesse campo da relação com o desejo é predeterminado. O desejo é, em grande parte, inconsciente. Nem sempre sabemos o que desejamos.

Temos o trabalho de dar sentido à vida ou ela não terá nenhum. O que traz sentido para a vida é o desejo único em cada um; trazê-lo à consciência é se encontrar. Este desejo é o que em cada um de nós oferece o motivo da vida, o ânimo para o trabalho e sustenta a vida.

Porque a vida é difícil, é luta, é esforço diário de levantar para o ganha-pão diário, é produzir desde o alimento mais básico até as mais complexas tarefas – como estudar, trabalhar, se relacionar. E relacionar-se não apenas com o outro, mas consigo, por sermos dotados de um inconsciente, um desconhecido estranho e incômodo que se percebe em sonhos, atos falhos, lapsos de linguagem e na escuta.

A escuta da subjetividade é sensível. Nem todos se detêm e se perguntam sobre o que fazem, como fazem, por que fazem. E mais: nem todos conseguem sair da negação de estar sempre fugindo, adiando adentrar suas dores, seus desamores.

Nem todo pai responde como pai. Nem todo pai sabe que sua função é imprescindível para salvar o filho. Seu afeto e limites ensinam a vida e mostram o valor que dá a este ser que trouxe ao mundo. Este valor, recebemos deste outro que nos engendrou.

Nem toda mãe desejou o filho completamente. Algumas nem mesmo o quiseram, sem condições de acolher, conduzir. Sem abraços e calor do afeto.

Mesmo assim, embora não todo amado, pois amores são sempre imperfeitos, mesmo o dos pais e mães, ainda assim precisamos encontrar nosso modo de prosseguir nesta tarefa, ora árdua, ora grata, de viver, alguns dias sobreviver...

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)