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Estado de Minas LITERATURA

Isabel Allende se inspira na própria mãe para escrever o romance 'Violeta'

Protagonista do novo livro da escritora chilena nasce durante uma pandemia e morre em outra


31/01/2022 04:00

Isabel Allende sentada numa cadeira branca, vestindo calças pretas e casaco amarelo dourado, com brincos e anéis de ouro
Inspirada na figura de sua mãe, Isabel Allende escreveu o romance 'Violeta', cuja protagonista nasce durante uma pandemia e morre em outra (foto: PIERRE-PHILIPPE MARCOU / AFP)

A escritora chilena Isabel Allende acaba de lançar "Violeta". Esse seu novo romance conta a história de uma mulher independente, que nasce durante uma pandemia e morre em outra. Ao longo do caminho, a protagonista testemunha as inúmeras transformações sofridas por um país sul-americano muito parecido com o Chile. 

Allende é autora de aproximadamente 30 livros que venderam cerca de 70 milhões de exemplares, traduzidos para mais de 40 idiomas. A escritora, filha de um diplomata chileno e nascida em Lima, em 1942, concedeu uma entrevista por videochamada de sua residência, perto de San Francisco (Califórnia), no Oeste dos Estados Unidos. 

Durante a conversa, ela falou sobre mulheres fortes, desigualdade nos países latino-americanos, a recente vitória do esquerdista Gabriel Boric no Chile e seu trabalho como escritora. Acompanhe a seguir. 

Como nasceu este romance? 
Tive a ideia depois que minha mãe morreu. Ela morreu pouco antes da pandemia [de COVID-19] e nasceu quando a gripe espanhola chegou ao Chile, em 1920. Ela viveu 98 anos, mas imaginei que, se tivesse vivido um pouco mais, teria nascido em um pandemia e morrido em outra. "Violeta" se passa no tempo que minha mãe viveu, um período do século 20 com guerras, depressões, ditaduras na América Latina, revoluções. Criei uma protagonista que se parece muito com minha mãe, mas que não é ela e tem uma vida muito mais interessante. 

O que sua mãe tinha da Violeta? 
Minha mãe era linda, inteligente, talentosa, independente e forte. No entanto, ela nunca conseguiu se sustentar, e isso foi decisivo em sua vida. A diferença entre Violeta e minha mãe é que Violeta consegue se sustentar, e isso lhe dá uma grande liberdade. Minha mãe dependeu de dois maridos e depois de mim. Ela também tinha, como Violeta, uma visão financeira. Ela poderia ter ganho dinheiro se tivesse algo em que investir, mas ninguém lhe deu atenção.

Violeta e sua família saem da capital para se estabelecer no Sul do país, onde vivem com pessoas mais humildes do que eles. Foi importante mostrar essa diferença entre as classes? 
Sim, porque quem já viveu em um país latino-americano sabe que existe um sistema de castas, que em algumas partes é muito impermeável. E o Chile é um país com muitos preconceitos de classe, mais do que outros países, talvez porque teve pouca imigração no início. Então, Violeta, se ela tivesse permanecido em sua classe social, levando a vida que lhe correspondia, nunca teria uma visão mais ampla do país e da vida.

O que você acha da vitória de Gabriel Boric para a Presidência do Chile? 
Estou feliz com a vitória dele, por vários motivos. O primeiro é porque é uma geração jovem que assume o poder. No Chile, os velhos capangas da política e do mundo financeiro têm que ir para casa ou para um asilo. O segundo é que não é só esse jovem que ganha a presidência e nomeia um gabinete com 14 mulheres e 10 homens, mas que o governo vai ter que aplicar uma nova Constituição. E essa nova Constituição é uma oportunidade para nos perguntarmos que país queremos. 

Você mora no exterior há muitos anos. Como você se sente quando volta? 
Na primeira semana fico feliz, e depois percebo que sou estrangeira lá também. Eu sou uma estrangeira em todos os lugares. Esse é o meu destino. Nos Estados Unidos, falo inglês com sotaque. Quem me vê na rua sabe que sou latina e imigrante. Em relação ao Chile, morei 40 anos no exterior, e o país mudou muito. Tenho na cabeça e no coração um país que já não existe.


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