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Estado de Minas PEDRO LOBATO

Todos à espera do FED

Além da tradicional segurança, os treasuries passarem a oferecer uma remuneração (juros) atraente, a migração do dinheiro para os EUA será inevitável


19/07/2022 04:00 - atualizado 19/07/2022 08:31

Bolsa de Valores de Nova York
Bolsa de valores de Nova York: olhos dos agentes financeiros estão voltados para a decisão sobre os juros nos EUA marcada para a próxima semana (foto: Timothy A. Clary/AFP - 15/6/22 )


O calendário sobre a mesa da maioria dos agentes financeiros, empresários e economistas em todo o mundo destaca em cores vivas a terça e a quarta-feira da próxima semana (26 e 27 de julho). Até lá, a vida dessa gente continuará marcada pela ansiedade e atormentada por um festival de palpites e de trágicas profecias de estagflação ou de recessão econômica.

Naquelas datas, o Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) fará mais uma reunião para decidir qual será o percentual de aumento das taxas básicas dos juros na maior economia do mundo, a dos Estados Unidos. O Fomc tem o mesmo papel do nosso Copom, igualmente formado pela cúpula dirigente do banco central dos americanos, o Federal Reserve (FED).

Esse clima de incerteza e maus augúrios que antecede a esperada reunião ganhou intensidade com a divulgação, na semana passada, da inflação do mês de junho nos EUA. Ela foi de 1,3%, muito acima das previsões, e já acumula, em 12 meses, taxa anual de 9,1%. É o nível mais alto alcançado pela inflação no país mais rico do mundo desde novembro de 1981.

Isso aumentou a pressão sobre a autoridade monetária americana. Ao contrário de outros países, como o Brasil, que, desde abril do ano passado vêm adotando uma agressiva sequência de aumento das taxas de juros para frear a inflação, o FED não apenas demorou a inverter sua leniente política monetária como, ao modificá-la, passou apenas a praticar tímidas elevações de suas taxas básicas.

O primeiro aumento só ocorreu em março deste ano e foi de apenas 0,25%. Em maio, o FED decidiu acelerar o aperto monetário, mas só aprovou a elevação das taxas em 0,5%. Desde então, a inflação tem sido crescente e as projeções do setor privado para a taxa acumulada em junho já convergiam para 8,5% ao ano.

Convergência também errada. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de 9,1% ao ano surpreendeu e deixou claro que a persistência da inflação requeria maior agressividade da autoridade monetária. Hoje, a discussão no mercado americano é se o FED vai se contentar com mais uma dose de 0,5 ponto percentual de aumento, ou se vai um pouco além, com 0,75, ou, ainda, se vai logo partir para a inédita elevação de 1 ponto percentual.

As duas últimas opções parecem ser as mais prováveis e de ambas se espera uma desaceleração da economia para reduzir a pressão sobre os preços. Mas também se teme que, em vez da desaceleração, venha uma recessão da economia que, no atual contexto mundial, poderá ser tão longa quanto a guerra na Ucrânia e os desarranjos pós-pandemia das cadeias de suprimento.

Esse temor cresce na mesma proporção do percentual do aumento dos juros que o FED adotar, já que uma recessão prolongada da maior economia do mundo é tudo que os demais países, incluindo o Brasil, não precisam neste momento. Afinal, já são claros os sinais de perda de dinamismo em economias regionais, a começar pela da China, passando pelas do Japão, Reino Unido e Alemanha.

Juros atraentes


Para esses países, além da redução do comércio mundial, a imediata valorização do dólar pode pesar a favor da inflação fora dos Estados Unidos. Cabe aqui uma reflexão: se a inflação reflete a perda do poder de compra da moeda, por que o dólar continua a se valorizar, mesmo quando a inflação está tão alta nos EUA?

A frase inicial de uma famosa ária do primeiro ato da ópera Carmen, do francês Charles Bizet, “l’amour est un oiseau rebelle, que nul ne peut apprivoiser” (o amor é um pássaro rebelde, que ninguém consegue domesticar), pode também se aplicar ao câmbio. É inútil e perigoso para qualquer país tentar “domesticá-lo” em regras locais de controle ou tabelamento.

Menos ainda quando se trata da única moeda amplamente aceita nas relações de troca comercial e transações financeiras internacionais. O que move as cotações do dólar em relação às outras moedas vai muito além da inflação interna dos Estados Unidos. Na verdade, são numerosos os fatores que afetam o valor da moeda americana no mundo, a maioria deles totalmente fora do controle de qualquer outro país.

Um desses fatores é a ainda inabalável aceitação do dólar como reserva de valor. Praticamente todos os países, inclusive o Brasil e, principalmente, a China e a Rússia, mantêm reservas bilionárias em títulos do tesouro americano, os chamados treasuries. As do Brasil são da ordem de US$ 350 bilhões.

Aspirador


Para isso, a segurança da economia americana é o principal atrativo, mas não é o único. E é aí que mora o perigo temido pelo resto do mundo. Na verdade, se, além da tradicional segurança, os treasuries passarem a oferecer uma remuneração (juros) atraente, a migração do dinheiro para os EUA será inevitável.

Nesse caso, os títulos da dívida americana funcionam como um gigantesco aspirador de poupanças mundo afora. Ou seja, as aplicações dos grandes fundos estrangeiros, que vieram em busca de ganhos nos países onde os juros são mais altos, como no Brasil, tendem a bater em retirada.

Com isso, a procura por dólar aumenta e empurra para cima as cotações dessa moeda, afetando toda a economia mundial. É esse um dos efeitos colaterais negativos que podem vir da decisão programada para a semana que vem nos EUA. Se não podemos evitá-lo, melhor será nos prepararmos para ele.

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