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Estado de Minas Comportamento

Velhos hábitos, novos rumos

'Tudo ali na porta de casa aos moldes antigos, quando o mundo era menor'


23/01/2021 04:00

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

 
Até os 8 anos, morei no bairro Floresta, em frente ao Colégio Batista. Lembro-me de que adorava sair de casa em direção ao Centro porque era líquido e certo esbarrarmos no vendedor de quebra-queixo. Ele sempre estava lá, na esquina, à espera dos alunos e sua insaciável fome de doce após a aula, com sua bicicleta que sustentava um tabuleiro enorme de onde cortava grossas fatias do doce de coco.
 
Me atraía aquela cor marrom escura, o gosto e a textura de puxa-puxa, mas acho que gostava mais ainda daquela rotina que minha mãe seguia quando íamos às compras, mesmo tendo pressa para ir e mais pressa ainda para voltar. Afinal, ela tinha jornada tripla de trabalho – mãe, dona de casa e faz-tudo da fábrica de brinquedos de madeira de meu pai.
 
Adorava comida de rua. O quebra-queixo, o quibe no Kibe Lanche ou o walfel com mel ou sorvete na lanchonete das Lojas Americanas, às vezes o caldo de cana com pastel na Av. Olegário Maciel. Ir ao Centro era para mim um passeio da mais alta categoria e, quanto mais cheias as ruas, mais me divertia. Acho que por isso até hoje o Centro e suas ruas movimentadas ainda me encantam, mesmo depois de tantas décadas e tantas transformações.
 
Atualmente o fechamento da maior parte do comércio, assim como a necessidade de diminuir cada vez mais o campo de locomoção, a impossibilidade de se ir muito longe e atravessar a cidade em busca de produtos, estão fazendo não apenas com que as pessoas busquem novas modalidades de compra, como ressuscitando antigas práticas de venda que me fazem recordar a infância.
 
Tenho visto, tanto em bairros antigos quanto nos mais longínquos, vendedores ambulantes no mesmo tipo de bicicleta que o de quebra-queixo. Me admira a capacidade que eles têm de pedalar equilibrando aquele tabuleiro repleto de guloseimas ou grandes cestas de vime, a maioria cheias de pão e quitandas com cara e gosto de roça.
 
Em um dos pontos por onde passo de vez em quando, vejo um vendedor de verduras e legumes com práticas bem peculiares. Tudo tem de fato aspecto de orgânico, como se estivéssemos colhendo nós mesmos cada vegetal, porém não tem selo que certifique sua autenticidade. Em seu pequeno e antigo caminhão, o agricultor anuncia o que colheu naquele dia e é ele quem monta os pacotes, um pouco de cada coisa em número suficiente para uma boa salada para aquela família. Precisa mais?
Além de amoladores de faca e empalhadores de cadeiras de palhinha, cheguei a ver outro dia um senhor se oferecendo para desamassar panelas e trocar cabos. Tudo ali na porta de casa aos moldes antigos, quando o mundo era menor e as pessoas mais sensíveis e amáveis com quem passasse por seu caminho. Quem sabe os velhos hábitos não sejam indícios de um novo mundo no qual todo trabalho tenha valor, assim como quem o desempenha.

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