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O santo livro de todo dia

"É decorada com iluminuras de extremo luxo e requinte, com as páginas em velino (fino papel feito com couro de carneiro) da melhor qualidade"


11/09/2022 04:00

Ilustração

 
Depois de viver por mais de 30 anos nas grutas de Belém, entre os anos 347-420 d.C., traduzindo a “Bíblia” do grego e do hebraico para o latim, São Jerônimo teve suas palavras reproduzidas como joias das mais cintilantes do Mosteiro dos Jerônimos, na chamada “Bíblia dos jerônimos”, obra manuscrita em sete volumes no século 15, em Florença, como um presente para o futuro rei Manuel I de Portugal.
 
Pode ser apreciada para quem vai a Lisboa no prédio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Freguesia de Alvalade. Foi legada pelo rei em testamento ao Mosteiro dos Jerônimos, onde ficou até o século 19. A coleção é considerada por especialistas um dos mais ricos exemplares saídos das oficinas florentinas do Renascimento. Contém todos os livros da “Bíblia” e a história de São Jerônimo. Texto em latim, dividido em duas colunas, com letras da Renascença italiana.
 
A obra foi produzida pela oficina de Attavante degli Attavanti, auxiliada pelos irmãos Gherardo e Monte del Fora, por encomenda de um mercador florentino, e passou por momentos difíceis. Foi confiscada ao Museu dos Jerônimos e levada para Paris, retornando a Portugal por intervenção do rei francês Luís XVIII, que a comprou para ser devolvida. 
 
Durante as Guerras Liberais, com a extinção das ordens religiosas, a coleção foi salva pela coragem de um frei, que com risco de morte a guardou no Erário Público quando estava em andamento um plano de assalto ao mosteiro. Dali passou para o Banco de Lisboa, depois a Casa da Moeda, e, com os volumes intactos, foi finalmente depositada na Torre do Tombo, em 1883, onde permanece como um dos mais preciosos bens ali guardados.
 
É decorada com iluminuras de extremo luxo e requinte, com as páginas em velino (fino papel feito com couro de carneiro) da melhor qualidade. Originalmente, estava encadernada com pesadas guarnições de prata, mas hoje a capa é de marroquim (couro de cabra). A capa do volume III mostra o frontispício do painel de São Jerônimo na cátedra com um grupo de frades. A escolha do tema da coleção deve-se à importância do santo como tradutor da “Bíblia” e o fato de o trabalho ter sido encomendado pelo papa Dâmaso, um lusitano que desejava uma tradução na língua do povo.
 
Pensar que tudo começou no final do século 4, quando um monge disciplinado, austero e de temperamento difícil trabalhava à luz de velas e com penas de ave procurando dar a cada versículo a tradução mais fiel possível da Sagrada Escritura. A obra de São Jerônimo ocupou praticamente toda a sua vida e tornou-se o texto usado largamente nos séculos posteriores, com o nome de “Vulgata” (popular). Da gruta em Belém, cercada de silêncio, para o imponente museu de Portugal e a admiração de turistas do mundo inteiro, o caminho até parece natural: um monge santo decifra palavras e elas continuam santas pelos séculos afora. Só mesmo a palavra de Deus.
 
Os textos da “Bíblia” começaram a ser escritos desde os tempos anteriores a Moisés. A partir de Salomão, um grupo de escribas e sacerdotes deu origem ao Pentateuco, os cinco primeiros livros da “Bíblia”. Depois surgiram outros livros. Passaram-se séculos para que a Igreja chegasse à forma final. Veio ainda a “Nova Vulgata” após a descoberta de manuscritos na Palestina. 
 
As traduções mais antigas davam importância às palavras, hoje se valoriza muito o sentido da frase. Sempre são lançadas novas traduções, que servem de referência para a Igreja no Brasil, baseada nos textos originais hebraicos, aramaicos e gregos, comparados com a “Nova Vulgata” – a tradução oficial católica. Setembro é o Mês da Bíblia em razão da festa de São Jerônimo, celebrada no dia 30.
 
Só quem puder contar os grãos de poeira do chão ou as estrelas do céu poderá contar as gotas de amor derramadas nos textos das páginas de papel-scritta da Sagrada Escritura desde o Gênesis ao Apocalipse de João. Eis a “Bíblia”, o nosso santo livro de cada dia.

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