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Estado de Minas BRA$IL EM FOCO

A endemia da desigualdade social mutila crescimento do PIB brasileiro

Mais uma vez o Brasil corre o risco de perder a corrida rumo ao futuro para outros países por causa do seu alto grau de concentração de renda


postado em 07/05/2020 04:00 / atualizado em 07/05/2020 07:15

 Disparidade no padrão de renda é visto nas moradias, o que levou o economista Edmar Bacha a criar o termo Belíndia, uma mistura de Bélgica e Índia convivendo no Brasil(foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press 8/1/20)
Disparidade no padrão de renda é visto nas moradias, o que levou o economista Edmar Bacha a criar o termo Belíndia, uma mistura de Bélgica e Índia convivendo no Brasil (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press 8/1/20)

 A divulgação ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que a desigualdade social, medida pelo índice de Gini, mostrou estabilidade no ano passado depois de três anos de aumento na concentração de renda per capita seria uma notícia relativamente boa não fosse o fato de o país estabilizar exatamente no ponto mais alto da diferença entre os mais ricos e os miseráveis. E mais, esse é um retrato que já amarelou com menos de seis meses. A realidade hoje é que a pandemia do novo coronavírus e a perspectiva de impacto forte na economia ao longo de todo o ano certamente farão a desigualdade social aumentar. A perspectiva é de que o novo coronavírus empurre 5,4 milhões de brasileiros para a condição de miséria, elevando o número dos que vivem sem as mínimas condições de renda para perto de 19 milhões de cidadãos, ou cerca de 9% da população, estimada de 210 milhões de habitantes.
 
Se o coronavírus é uma trava para a retomada da economia, a desigualdade social é um nó na linha do crescimento sustentável da geração de riqueza. O Relatório Social Mundial 2020 das Nações Unidas, lançado em janeiro, antes de o Sars-Cov-2 ultrapassar as fronteiras da China e se alastrar pelos cinco continentes, chama a atenção para esse aspecto. O relatório é claro ao afirmar que o aumento da disparidade reprime o crescimento econômico e agrava a instabilidade política. “Desigualdades de renda e falta de oportunidades estão criando um ciclo vicioso de desigualdade, frustração e descontentamento em várias gerações”, diz o secretário-geral da ONU, António Guterres, no prefácio do relatório.
 
E não há nada no horizonte de curto prazo que indique reversão nessa tendência de erosão do padrão de vida dos brasileiros que já vivem na linha da pobreza, o que vai comprometer no futuro próximo a capacidade de retomada da atividade econômica em um mundo no qual as cadeias de suprimento vão se reestruturar, com diminuição do alto grau de globalização. De um lado, essa reorganização das cadeias de suprimentos pode oferecer oportunidades para o parque fabril, afetado fortemente pelas medidas de isolamento social e restritivas para contenção do contágio pelo novo coronavírus. Em março, ainda no início do isolamento, a produção da indústria recuou 9,1%. E o tombo deve ter sido ainda maior em abril.
 
Esse quadro de deterioração, com retração da produtividade do trabalho, mesmo com crescimento econômico, ficou claro no ano passado e surpreendeu especialistas. E isso em plena era da revolução digital. Mais uma vez, o Brasil corre o risco de perder a corrida rumo ao futuro para outros países por causa do seu alto grau de concentração de renda. Desatar esse nó é o primeiro passo para estabelecer um novo paradigma de crescimento econômico que mude o país de patamar. A Belíndia, criada pelo economista Edmar Bacha em 1974 para criticar a política econômica dos governos militares, que na sua visão dividia o país entre os cidadãos com padrão de vida similar ao da Bélgica e outros com padrão de vida similar ao da Índia, continua real quase 50 anos depois. Nem a Bélgica nem a Índia são mais as mesmas e a desigualdade no Brasil se enraizou.
 
Por se manter por tanto tempo e repetindo o padrão de crescimento por espasmos da economia brasileira, a desigualdade social não nos incomoda, embora seja um dos maiores problemas econômicos do Brasil. Neste quadro fragilizado, cerca de 105 milhões de pessoas sobrevivem com menos de R$ 15 por dia, ou R$ 438 por mês, o que é menos da metade de um salário mínimo. Na outra ponta, 2,1 milhões de brasileiros sobrevivem com renda mensal média de R$ 17.373. No Brasil das estatísticas defasadas, os 10% mais ricos concentram quase metade de toda a renda do país. O novo coronavírus vai passar, ainda que leve um pouco mais de tempo do que se imaginava, mas nossa desigualdade social não. Ela não mata, mas mutila o processo de crescimento e desenvolvimento econômico.

Falando de flores

O Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) estima que o setor pode registrar prejuízo de R$ 1,36 bilhão e demitir 150 mil trabalhadores caso os prefeitos de todo o país não revejam as restrições ao funcionamento das floras neste mês. Alegando autorização do governo federal, o Ibraflor recorreu à Frente Nacional dos Prefeitos na tentativa de reabrir as lojas esta semana e aproveitar o Dia das Mães, considerado o Natal das floriculturas.

Freio no consumo

Pesquisa da Hibou, empresa de pesquisa de mercado, mostra que o isolamento social mudou o hábito de consumo dos brasileiros. Entre os 3 mil entrevistados, 64,8% tiveram impacto negativo nos ganhos, enquanto 32,5% mantiveram o rendimento. Com isso, 53,7% dos brasileiros estão evitando gastos desnecessários e 34,7% pensando antes de comprar. Para depois da pandemia, 84% dos brasileiros pretendem comprar menos por impulso.

Força da renda


R$ 294,4 bilhões - Foi a massa de rendimento domiciliar obtida de todas as fontes de renda no ano passado, segundo o IBGE


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