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CBF acerta ao determinar punição a racismo em estádios no Brasil

A decisão da CBF, inédita, chega até tarde, mas ainda assim precisa ser comemorada; clubes terão de pagar multa e podem até perder pontos em caso de racismo


16/02/2023 19:00 - atualizado 16/02/2023 19:23
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Fachada do prédio da CBF
CBF determinou punições esportivas a casos de racismo durante suas competições (foto: Yasuyoshi CHIBA / AFP)
Há ensinamentos que, para serem bem compreendidos, precisam ser impostos. São aqueles que definem o limite entre o que é aceitável e o que é intolerável. Na segunda escala estão todas as ações decorrentes de crimes. Não demandam debate. Fazem parte dessa seara questões como o racismo, que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu encarar com a devida importância neste ano.

O futebol, que reúne multidões, precisa servir de engrenagem para causas que vão além das quatro linhas. E a convivência em sociedade é uma delas.

Na última reunião do Conselho Técnico da entidade, reunindo os clubes, foi determinada a inclusão, no Regulamento Geral de Competições (RGC) de 2023, de punições a atos racistas cometidos em estádios de futebol, nas competições organizadas pela entidade. A decisão, inédita, chega até tarde, mas ainda assim precisa ser comemorada. 

Está prevista multa de até R$ 500 mil, passando para perda de mando de campo ou jogo com portões fechados em casos de reincidência, até chegar à perda de pontos, na repetição do episódio. E sim, quem vai pagar pelo mal comportamento são os clubes. 

Houve quem se opusesse à medida. O ex-técnico de futebol Procópio Cardoso escreveu, nas redes sociais: "Racismo é caso de polícia. O autor do crime deve ser preso em flagrante. Nenhum clube ou atleta profissional deve ser penalizado, prejudicado esportivamente ou pagar pelo crime de torcedores".

Não dá para ter essa distinção. Clubes, jogadores, torcedores, todo esse universo, precisa estar sujeito também a punições esportivas diante da dimensão do problema.

O racismo dói na alma justamente de muitos jogadores profissionais. Não escolhe campeonato, local, nem o patamar do atleta - a perseguição à talvez maior joia brasileira no futebol mundial atualmente, Vinícius Júnior, na Espanha, é prova disso.

É covarde o que tem ocorrido com o jogador do Real Madrid. O Real Valladolid (clube gerido por Ronaldo Fenômeno) chegou a suspender 10 torcedores por insultos ao atacante. Torcedores do Atlético de Madrid penduraram um boneco com a camisa do brasileiro, pelo pescoço, simulando enforcamento.

Contra o Mallorca, um torcedor foi flagrado pelas câmeras chamando Vinícius Júnior de "macaco". 

La Liga, organizadora do Campeonato Espanhol, apresentou denúncia à Real Federação Espanhola de Futebol e até aos Juizados de Instrução de Palmas de Mallorca, mas não se teve notícia ainda de punição - foi nada menos que a sexta denúncia por racismo envolvendo o atacante merengue.

Diante da recorrência, LaLiga até criou uma comissão para cuidar especificamente de casos de racismo contra Vinícius Júnior colocando, nos jogos do Real pela competição, inspetores nos setores mais problemáticos de cada estádio.

No Brasil, pune-se muito pouco (para dizer nada) casos de racismo, assim como os de homofobia em estádios. Machismo é outro problema, com assédios ostensivos a mulheres. Tudo isso precisa ser encarado com seriedade.

É preciso reprimir a selvageria que impera nesses espaços como se ali criminosos contassem com uma salvaguarda para despejar todas as suas frustrações e desvios de caráter.

A expectativa é de que medidas mais severas consigam, pelo menos, inibir a ignorância, jogar luz sobre a gravidade da discriminação.

A ministra da Igualdade Racial no Brasil, Anielle Franco, em entrevista à ESPN, considerou uma evolução a medida imposta pela CBF.  "Não é tudo, mas é um grande avanço. Estamos cansados de ver diversos casos de racismo. (...) O povo preto é historicamente conhecido pela força, habilidade e por ter tantos craques em tantos esportes...", disse.

Os próprios jogadores estão cansados de ser vítimas ou presenciar casos de injúria racial em estádios.

Rodrygo, companheiro de Vinícius Júnior no Real, falou sobre isso em conversa com o site Goal: "Esse assunto nos incomoda um pouco. Não só ao Vinícius, mas a todo mundo lá dentro. Mas sentimos que não temos mais nada para fazer, não temos mais forças. Sempre falamos e nada muda. Eu, particularmente, não sei mais o que fazer quanto a esse assunto".

Precisamos, todos, ter forças para lutar contra a ignorância. Racismo é crime. Se o preço da conscientização vier com a punição a um time de futebol, que assim seja. Ainda será um preço pequeno a pagar diante do mal cometido a quem sofre com as injúrias.

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