(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas TIRO LIVRE

Abel Ferreira, do Palmeiras, e outros esquentadinhos do futebol

Não é a primeira vez que o português deixa o sangue quente roubar a cena. A contagem de cartões recebidos por ele no Brasil é prova


02/02/2023 19:12

Abel Ferreira, treinador do Palmeiras,
Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, virou centro dos debates por causa do destempero em campo (foto: Juan Mabormata/AFP)
Nesta semana, o noticiário esportivo deixou um pouco de lado competições e jogadores - e isso irritou muito o personagem central das discussões: o técnico Abel Ferreira, do Palmeiras. Multicampeão, o mais vencedor treinador dos últimos anos no Brasil, Abel se viu alvo dos debates não só pela sua capacidade de fazer o time paulista empilhar títulos. Foi o temperamento (ou o destempero) que direcionou os holofotes para ele.

Abel não gostou de ser criticado pelo comportamento na vitória sobre o Flamengo (4 a 3), que garantiu a taça da Supercopa do Brasil, no Mané Garrincha. Num ato de fúria, ao reclamar da arbitragem, chutou um microfone da transmissão e recebeu o cartão vermelho. Ele já havia sido advertido com o cartão amarelo e João Martins, um de seus auxiliares, foi expulso mais cedo, na mesma partida.

O nível de ira do treinador impressionou: a forma como ele foi tomado pela raiva, e a maneira como a descontou em um impávido objeto. Abel parecia descontrolado. Parecia, não, por alguns segundos ele se descontrolou, chocando quem assistia ao jogo.

Não é a primeira vez que o português deixa o sangue quente roubar a cena. A contagem de cartões recebidos por ele desde que começou a trabalhar no Brasil, em 2020, é prova: foi advertido 41 vezes, recebendo 35 amarelos e sofrendo seis expulsões.

Nessa quarta-feira, ele se manifestou sobre o assunto. Reconheceu que o "comportamento passou dos limites" e que precisa melhorar. Até aí, tudo bem. A escorregada veio quando quis usar exemplo de outros famosos que já foram flagrados atitudes antidesportivas. Disse Abel: "Não fiz nada que o Guardiola não tenha feito, que o Klopp, Mourinho, Roger Federer, Ayrton Senna e (Alain) Prost, disputando um título e batendo um no outro".

Em entrevista ao programa Roda Viva, em março do ano passado, Abel se definiu como uma pessoa "verdadeira, frontal e de coração mole". Acrescentou: "Sou extremamente calmo fora (de campo), gosto de dormir, ler, cuidar das plantas de casa".

Sobre os arroubos em campo, fez uma ressalva: "Aquele não sou eu, aquele é o treinador". Em outras palavras, quis dizer que ele é muito mais do que situações isoladas vividas enquanto profissional do futebol. 

Aquele chute de Abel no microfone fez lembrar a voadora que Adílson Batista, então comandante do Cruzeiro, deu em uma placa de publicidade no Mineirão, após um jogo em 2009, contra o Santo André. A diferença é que, na ocasião, o ex-zagueiro transformou a usual cólera em explosão de alegria - um tanto desmedida, há de se pontuar. 

Após o gol da vitória da Raposa por 3 a 2, marcado por Thiago Ribeiro, aos 46min do segundo tempo, Adílson gritou, isolou garrafinhas de água e terminou com a voadora. A torcida foi à loucura. Ele disse que o lance foi inspirado em um peixinho do argentino Diego Maradona.

"Aquele momento ali era de pressão, de cobrança, do time ganhar. É normal. O Maradona tinha dado um peixinho numa eliminatória, e eu, brincando com os jornalistas mineiros, falei: 'Ó, vou dar um peixinho'. Duvidaram", comentou. Não deixou de ser um excesso. Mas, como estava comemorando um gol, foi perdoado. Mais do que isso: Adílson foi exaltado. Virou sinal de identificação com o clube celeste. E até hoje é lembrado.

Um dos ícones na categoria de "técnicos esquentados" no futebol é Dorival Knipel, o Yustrich. Não se fala no Homão (apelido que ganhou) sem lembrar do estilo linha dura com os jogadores, dentro e fora de campo. Rigoroso, não permitia que os atletas fumassem, usassem cabelos compridos ou usassem barba. Relatos da época dão conta que até batia em quem o desobedecia.

Ao dirigir o Cruzeiro, no início da década de 1970, aboliu o palavão, embora ele mesmo abusasse das palavras de "baixo calão". Decretou que quem burlasse a regra teria de dar três voltas no campo. Não deixava barato.

Yustrich acabou marcado como uma daquelas figuras folclóricas do futebol. Talvez não seja exatamente esse o posto que Abel cobice no Brasil.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)