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Estado de Minas TIRO LIVRE

Caso Fábio, Ronaldo e Cruzeiro foi lição para os clubes-empresas no Brasil

É quase unanimidade que faltou respeito ao jogador e sensibilidade à Cruzeiro SAF para lidar com a situação


06/01/2022 19:12 - atualizado 06/01/2022 19:38

Goleiro Fábio sentado no campo da Toca da Raposa II, com o olhar distante. Foto feita em 6 de janeiro de 2020
Atleta que mais vezes vestiu a camisa do Cruzeiro, Fábio encerrou sua trajetória no clube (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 6/1/2020)
Foram 18 dias entre os agradecimentos a Ronaldo por colocar seus milhões a serviço do Cruzeiro até a cisão de parte da torcida celeste com o Fenômeno, após a rescisão com o goleiro Fábio, com direito a gritos de "Ronaldo, gordão, vem dar satisfação".

Duas manifestações que ecoaram nacionalmente. Que sintetizam perfeitamente a transitoriedade do futebol. O movimento rápido do pêndulo, a idolatrar e a achincalhar. No meio de tudo isso, um ídolo desprezado e um choque de realidade a atingir muita gente, que parecia inebriada por um ideal quase utópico de clube-empresa - incluindo os próprios investidores. 

Quando foi anunciada a compra de 90% das ações da Cruzeiro SAF por Ronaldo, um tsunami de euforia tomou conta não só dos torcedores da Raposa.

Muitos analistas esportivos (de toda parte do país) comentaram o fato como se, a partir da assinatura daquele contrato, em 18 de dezembro, todos os problemas celestes se acabassem. Como se uma nova era começasse, em que as dívidas seriam magicamente pagas, treinadores e jogadores se ofereceriam para estar na Toca simplesmente pela celestial e fenomenal presença do ex-camisa 9 à frente do projeto.

Juras de amor de todo lado. Uma atmosfera tão positiva e vibrante que muitos não perceberam quão ilusória ela era. A armadilha perfeita, e para todos os lados.

Ronaldo achava que sua ligação com o Cruzeiro o autorizava a tomar qualquer decisão, como se tivesse recebido uma carta branca que o garantiria aplausos incondicionais.

O torcedor acreditava que os destinos do clube estavam finalmente nas mãos de alguém que o trataria com o carinho de um ser amado, sem preocupações mercantilistas. A lua de mel não durou nem um mês. 

O pivô - ou bode expiatório - para que a vida real se apresentasse foi o goleiro Fábio. Aos 41 anos, em plena forma técnica, segundo ele disposto a reduzir salário mais uma vez para se adequar (de novo) à realidade, o jogador que mais vezes defendeu o clube na história foi reduzido a um funcionário descartável.

À empresa, não mais interessava contar com ele. E a empresa, bradam os teóricos do assunto, trabalha com números, os frios números. Fábio, aos 41 anos, não se encaixava no perfil pretendido.
A questão é que o ativo do futebol é a paixão. Não da forma simplista que muitos podem interpretar. Nem tampouco da maneira superdimensionada que muitas vezes é conferida a ela.

Contratar e dispensar, em um clube de futebol, não se resume a mera operação contábil. Não dá para se ver diante de um jogador do calibre e principalmente da qualidade de Fábio e simplesmente dizer: "Obrigada pelos serviços prestados e tiau". 

Fábio não estava no clube, até o fim de 2021, por caridade ou complacência de dirigentes. Ele não teve seus últimos contratos renovados tão somente por ser a figura importante que é na história celeste.

Muito antes pelo contrário. É um atleta que justificava tudo isso em campo. Com grandes defesas. E tinha, sim, condições técnicas de permanecer no clube por mais uma temporada pelo menos, como propôs. 

É quase unanimidade que faltou respeito ao jogador e sensibilidade à Cruzeiro SAF para lidar com a situação. Ao torcedor, falta entender que não existe almoço grátis no futebol, e todo endeusamento é traiçoeiro. 

Por essas e outras que ainda é difícil imaginar como vai se desenhar o clube-empresa no Brasil. Já deu pra perceber que a concepção dificilmente seguirá os manuais puristas de empresas em si. Aquele que visa ao lucro e ponto final. Cujo sócio majoritário (e, portanto, o dono) tem o poder de decidir tudo sem dar satisfação a ninguém. Em que a ética e a moral se limitam às que regem acordos comerciais. Com os fins justificando todos os meios.

Esse exemplo dos 18 dias de vida da Cruzeiro SAF indicam que não será bem assim. Quando a torcida se revolta da forma que foi com a rescisão com Fábio, ameaçando romper laços com o clube que incluem o programa de sócio-torcedor - uma das fontes de receita do investidor -, fica claro que o buraco será mais embaixo.

Quanto mais cedo quem quiser entrar nessa seara aprender isso, melhor para todas as partes.

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