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Estado de Minas TIRO LIVRE

Greve dos jogadores do Cruzeiro é um ato legítimo e histórico

Agora, está em jogo até a marca do clube, sua representatividade no mercado. O fato de a notícia ter repercutido internacionalmente diz muito


14/10/2021 20:54 - atualizado 14/10/2021 23:40

Portaria da Toca da Raposa, centro de treinamento do Cruzeiro
Jogadores do Cruzeiro decretaram greve pelo atraso nos salários (foto: Leandro Couri/Em/D.A Press)
O direito de greve é constitucionalmente assegurado a todos os trabalhadores brasileiros – e o futebol, apesar de para muitos ser encarado como um mundo à parte, também se enquadra nesse sistema. Assim, é muito legítima a decisão dos jogadores do Cruzeiro de paralisarem as atividades em protesto contra atrasos salariais e promessas não cumpridas pela diretoria.

Você, torcedor celeste, pode até não gostar. Talvez porque não saiba o simbolismo que esta atitude do grupo carrega. A greve na Toca é um marco histórico. 

Tanto quanto mais um forte choque de realidade a quem ainda não se deu conta da gravidade do cenário no clube, o movimento encabeçado por jogadores como o goleiro Fábio pode ser o último suspiro para uma reação moral do Cruzeiro. Ou o tiro de misericórdia. É o tipo do recado que mostra que do jeito que está não tem como ficar. 

Agora, está em jogo até a marca do clube, sua representatividade no mercado.  O fato de a notícia ter repercutido internacionalmente diz muito. O Cruzeiro, sua camisa azul e as cinco estrelas no peito, que mundo afora são associados a jogadores do quilate de Tostão e Ronaldo, vê seus problemas financeiros romperem as fronteiras definitivamente. A imagem está arranhada. Resta saber quão profundos serão os danos.

Não se tem notícia de manifestação semelhante na história celeste. No futebol, movimentos assim não são tão comuns, embora, nos últimos tempos, tenham se tornado cada vez menos raros. Isso vem de antes da pandemia de COVID-19 e tem muito a ver com a conscientização do trabalhador – no caso, o jogador de futebol. 

Em novembro do ano passado, o São Caetano perdeu o jogo contra o Marcílio Dias, pela Série D do Campeonato Brasileiro, por W.O., por falta de jogadores. Foi a terceira vez num intervalo de menos de dois meses que os atletas entraram em greve por causa do atraso no pagamento dos vencimentos. Nas ocasiões anteriores, a diretoria recorreu às categorias de base para montar um time às pressas, mas a situação chegou a tal ponto que até os pratas da casa cruzaram os braços.

Outro caso que ganhou notoriedade no Brasil ocorreu em agosto de 2019, quando o Figueirense foi derrotado por W.O pelo Cuiabá, na Arena Pantanal, pela Série B do Brasileiro, também porque o grupo deflagrou greve em protesto pelo atraso de três meses nos salários e direitos de imagem, além da falta de recolhimento de FGTS. 

Em Minas Gerais mesmo, o Atlético viveu suas agruras no tenebroso ano de 2005 – o do rebaixamento para a Segunda Divisão. Os experientes Marques, Rodrigo Fabri, Euller e Danrlei lideraram o movimento grevista, que reclamava dois meses de pagamentos em atraso. Na época, os jogadores se reuniam frequentemente para ajudar os funcionários mais humildes, comprando inclusive cestas básicas.

Repórter que participava da cobertura do clube na ocasião, ouvi de um deles que havia empregado pegando manga verde nas árvores do CT para se alimentar, pela falta de dinheiro para pôr comida na mesa de casa. A pressão surtiu efeito e, no dia seguinte, de posse dos cheques para quitar o débito, os atletas retornaram ao trabalho na Cidade do Galo. 

A questão não é problemática apenas em solo nacional. Em 2013, jogadores da Seleção da Nigéria se recusaram a embarcar para o Brasil, para a disputa da Copa das Confederações. Condicionaram a viagem ao pagamento de dinheiro devido pela associação de futebol do país. Só entraram no avião quando a pendência foi resolvida. Estrearam no Mineirão, aplicando goleada por 6 a 1 sobre o Taiti, em um dos jogos mais pitorescos da história do Gigante da Pampulha. 

Um dos tradicionais clubes da Inglaterra, o Bolton, também esteve à beira da falência e viu jogadores decretarem greve, em 2019, por causa da falta de pagamento, o que levou até a cancelamento de partida. Em grave crise financeira, os dirigentes deram calote em contratações de atletas, foram alvos de uma enxurrada de ações judiciais, perderam o alvará de funcionamento de seu estádio e o clube só não fechou porque foi comprado por uma empresa.

Tem ainda o conhecido Caso Saltillo, rebelião de jogadores da Seleção Portuguesa durante a Copa do Mundo do México, em 1986. O nome deriva da cidade mexicana onde a equipe estava concentrada. A infraestrutura era precária: o campo de treino era inclinado e os atletas chegaram a alegar que os quartos do hotel eram cheios de baratas.

Uma semana antes da estreia, os lusos pararam de treinar. Houve uma alegação econômica também, com o grupo requisitando prêmio maior ao oferecido pela federação. Uma ameaça de abandono do Mundial acabou não se concretizando, mas até hoje o caso não é assunto encerrado pelos lados d'além-mar.

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