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Os brasileiros que saem de Tóquio campeões mesmo sem a medalha de ouro

Há muita história de luta, muita resiliência e toda sorte de superação. E não dá para dissociá-las do conceito de missão cumprida na Olimpíada do Japão


05/08/2021 18:09 - atualizado 05/08/2021 21:40

Darlan Romani foi quarto colocado no arremesso de peso nos Jogos Olímpicos de Tóquio(foto: Andrej ISAKOVIC / AFP)
Darlan Romani foi quarto colocado no arremesso de peso nos Jogos Olímpicos de Tóquio (foto: Andrej ISAKOVIC / AFP)
A Olimpíada de Tóquio tem me tirado algumas (muitas) horas de sono, mas tem me devolvido um pouco da ternura perdida em tempos pandêmicos. Uma percepção de que o pódio pode ser o objetivo, mas nem sempre será o ponto final. E que é preciso compreender e aceitar isso.

No esporte e na vida, a gente vai se dando conta de que ganhar medalhas é bom, mas, muitas vezes, saber que você fez o seu melhor, o que estava ao seu alcance, também precisa ser suficiente para dar sentido à existência.

É claro que voltar para casa com o ouro, a prata ou o bronze é a consagração maior para um atleta em uma competição esportiva. Porém, há centenas de histórias sendo contadas diariamente nos Jogos de Tóquio nos mostrando que existem conquistas pessoais que podem até parecer pequenas, mas valem tanto quanto esses metais que penduram no pescoço dos ganhadores. Não são só eles que balizam quem é vencedor. 

Praticamente todos os dias um roteiro desses, de filme, surge na nossa frente, quase como um choque de realidade a desmistificar todo o glamour que envolve um atleta olímpico. Quando você para para ouvir tudo o que ele teve de passar para chegar até ali, começa a adequar seu julgamento a respeito da performance dele.

A exigência quanto a resultados, a avaliação do papel que desempenhou, tudo isso segue novos parâmetros. Há muita história de luta, muita resiliência e toda sorte de superação. E não dá para dissociá-las do conceito de missão cumprida no Japão. Por mais que possam achar clichê ou piegas dizer isso.

Veja o exemplo de Darlan Romani, quarto colocado no arremesso de peso. Ele e sua família viveram momentos dramáticos por causa da COVID-19: o irmão e a mãe chegaram a ser internados com casos graves, e até ele passou pela doença, perdendo 10 quilos em duas semanas. 

A pandemia também impactou o aspecto esportivo. No último ano de preparação para a Olimpíada, Darlan teve de improvisar, em um terreno ao lado de sua casa, em Bragança Paulista, um espaço para que pudesse treinar o arremesso.

Nos oito últimos meses, ficou ainda sem o acompanhamento de seu treinador, o cubano Justo Navarro, impedido de encontrá-lo por causa das restrições de viagem impostas pela COVID-19. E acabou desenvolvendo uma lesão nas costas, que o levou a fazer uma cirurgia.

Colocando tudo isso na mesa, não dá para não considerar o fato de ele ser o quarto melhor do mundo um grande feito. Darlan não precisa de uma medalha para aferir o quão longe chegou.

A esse se somam outros relatos, como o da judoca Mayra Aguiar, que em novembro do ano passado (portanto, a pouco mais de oito meses do início da Olimpíada) precisou operar o joelho esquerdo e fez todo o trabalho de recuperação em casa, contando inclusive com a ajuda da irmã, que é fisioterapeuta e se alternava entre os tratamentos e o auxílio nos treinos de judô.

Em uma das imagens gravadas por Mayra, ela se exercita carregando a irmã nos ombros. Voltou de Tóquio com um bronze que vale ouro.

A Seleção Brasileira Masculina de Vôlei (que nesta quinta-feira foi derrotada pela Rússia e ficou fora da final olímpica) também tem seu representante nessa lista. Muita gente tem culpado o técnico Renan dal Zotto pela pior campanha da equipe nos últimos anos 16 anos, mas, para o treinador, só de estar no Japão já é uma vitória.

Renan ficou 36 dias internado por causa da COVID-19, foi intubado duas vezes, perdeu 26 quilos e relatou ter sentido a morte de perto em mais de uma oportunidade. "Eu me vi duas vezes morto. Em uma, cheguei a ver uma matéria dizendo que eu tinha partido e deixado esposa e dois filhos. Realmente, vivi isso", contou, após a alta do hospital, em 21 de maio. 

A mineira Ana Patrícia, parceira de Rebeca no vôlei de praia, desmaiou um dia antes da decisiva partida contra a dupla suíça Vergé-Dépré e Heidrich, pelas quartas de final, por conta de um mal-estar. Mesmo assim, foi para o jogo. Durante o confronto, voltou a se sentir mal, com náuseas e até uma leve desidratação, e pensou em desistir. Mas seguiu adiante.

Ciente do drama da amiga, Rebeca tentou chamar para si a responsabilidade do jogo. Assim elas foram até o fim, e acabaram eliminadas dos Jogos de Tóquio. Ciente de todo esse contexto, não dá para não reconhecer o quão guerreiras as duas foram.

Das piscinas vem a história de vida de Bruno Fratus – e aqui a palavra vida tem sentido especial. Um dos grandes nomes da natação brasileira dos últimos anos, ele chegou a pensar em suicídio há poucos anos, durante um período de depressão profunda pós-Rio'2016, na qual era um dos favoritos à medalha nos 50m livre e saiu com um decepcionante sexto lugar.

Em Tóquio, ao garantir o bronze, Bruno se sentiu campeão. E ninguém pode afirmar o contrário.  

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