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Estado de Minas TIRO LIVRE

Por que especialistas dizem que o futebol brasileiro tem mesmo que parar

É uma inverdade dizer que o futebol brasileiro está protegido da COVID-19 em uma bolha. Nem mesmo as bolhas de verdade, feitas mundo afora, são unanimidade


18/03/2021 21:34 - atualizado 19/03/2021 16:45

Com o Brasil afundado na maior crise de saúde da sua história, há quem defenda que a bola continue rolando nos gramados(foto: Pixabay/Reprodução)
Com o Brasil afundado na maior crise de saúde da sua história, há quem defenda que a bola continue rolando nos gramados (foto: Pixabay/Reprodução)

De todas as defesas que li/ouvi para a continuidade das competições esportivas no Brasil em meio ao maior colapso sanitário e hospitalar da história do país – pegando emprestada a definição da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para a forma trágica com que a COVID-19 se abate sobre o território nacional –, a mais distante da realidade é a alegação de que há uma “bolha” no futebol.

Como se os protocolos estabelecidos para os campeonatos fossem um selo de garantia, um escudo a defender tudo e todos ali do novo coronavírus. E isso é uma inverdade.

Esse tema já foi tratado em Tiro Livre, diversas vezes. Em julho do ano passado, quando o futebol foi retomado no Brasil, inclusive. Não há protocolo infalível, e a cadeia de pessoas envolvidas em uma competição é extensa. Não se limita ao atleta.

Mas é sempre bom ter argumentos de autoridades no assunto para dar mais peso à opinião. O médico e neurocientista Miguel Nicolelis, uma dessas vozes proeminentes no que se refere à COVID-19, é um dos combatentes mais vorazes da continuidade dos campeonatos no Brasil.

Como a colunista que vos escreve, ele é fã de futebol, porém, mais fã ainda do respeito à vida.

Todas as vezes em que é chamado a falar sobre o assunto, Nicolelis lista os riscos de se manter os torneios esportivos no cenário dantesco que vivemos.

Ele destaca que o protocolo propalado pela CBF (e por outras entidades) nada mais é que uma rotina de testagem – que não tem 100% de precisão. Não há isolamento, rastreamento de contatos ou qualquer outra determinação que realmente configure segurança para quem vai a campo.

Até caso de jogador contaminado atuando já tivemos: em 17 de janeiro, Valdívia, do Avaí, deixou a partida contra o CSA no intervalo após a comunicação de que um teste feito havia dado positivo.

O mais grave, cita o especialista, são as sequelas crônicas que a COVID-19 pode deixar em quem se infecta. Insuficiência hepática, respiratória, cardíaca, renal, entre outras. O que ameaça até abreviar uma carreira esportiva.

Um exemplo do impacto do coronavírus no organismo de atletas foi visto no Atlético, que viveu um surto no fim do ano passado e teve de afastar de forma prolongada vários jogadores, mesmo depois de curados da infecção.

Nem mesmo as bolhas de verdade, feitas mundo afora, são unanimidade. O infectologista argentino Tomás Orduna, consultor médico do Boca Juniors, questiona a eficiência delas.

“Nenhuma bolha é impenetrável. Por mais que se aprimore, não é 100% seguro”, disse, em entrevista ao El País sobre o temor de nações como Uruguai e Chile, que estão em situação mais controlada da pandemia, em recepcionar equipes brasileiras nesta edição da Copa Libertadores.

“É perfeitamente normal que alguns países tenham medo de receber times do Brasil. (…) Receber times de fora significa que pode voltar a ter transmissão comunitária com pessoas infectadas e assintomáticas”, declarou.

Um dos casos bem-sucedidos que sempre vêm à tona ao se falar de bolhas é o da NBA.

A retomada da competição, no ano passado, quando os Estados Unidos estavam no pico da epidemia, demandou investimento de quase R$ 1 bilhão para acomodar todos os envolvidos em total confinamento em um resort da Disney em Orlando, Flórida.

Durante 96 dias e mais de 200 jogos, nenhum caso de COVID-19 foi diagnosticado.

O esquema era severo, com testagem diária. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a temperatura de todos era medida por meio de um anel, e uma pulseira registrava os movimentos de quem estava dentro do complexo. Um alarme soava sempre que o distanciamento mínimo não era respeitado.

A particularidade do basquete – entre outros aspectos, pelo número de atletas e por ser praticado em uma quadra – ajudou. Especialistas admitem que reproduzir isso no futebol talvez não fosse possível, pelo volume de pessoas envolvidas em um jogo (como acomodar tanta gente?) e a quantidade de campos necessários, diante do desgaste ao qual o gramado está sujeito.

Estratégia semelhante foi usada no início do ano, na Austrália, um dos países mais bem-sucedidos no controle da doença, para o Australian Open. Estava tudo esquematizado, mas a bolha foi furada antes da chegada dos atletas – com a contaminação de nove pessoas em um dos aviões fretados para levar tenistas e comissões.

Autoridades locais exigiram que todos cumprissem 14 dias de quarentena em isolamento total, sem sair do quarto do hotel nem para treinar. Foi a maior chiadeira. No meio da competição, o público, já reduzido à metade, foi vetado por causa do registro de 13 casos de COVID-19 em Melbourne – que levou a um lockdown na cidade.

Imaginem só: 13 casos. E aqui, com a chacina diária que estamos vivendo, tem gente protestando contra fechamento de comércio. Explica muita coisa.

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