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Estado de Minas TIRO LIVRE

Quando a crise financeira entra em campo

Tal cenário não se restringe ao Figueirense. O futebol nacional passa por isso há algum tempo, inclusive com casos envolvendo Atlético e Cruzeiro


postado em 23/08/2019 04:00 / atualizado em 23/08/2019 07:39

Um dos líderes do movimento no Figueirense é o volante Zé Antônio, revelado pelo Atlético e que vivenciou crise no Galo em 2005(foto: Auremar de Castro/EM - 15/5/06)
Um dos líderes do movimento no Figueirense é o volante Zé Antônio, revelado pelo Atlético e que vivenciou crise no Galo em 2005 (foto: Auremar de Castro/EM - 15/5/06)


Indignados com recorrentes atrasos nos salários, os jogadores do Figueirense tomaram uma decisão radical – e histórica – nesta semana: não entraram em campo para enfrentar o Cuiabá, na noite de terça-feira, na Arena Pantanal, pela Série B do Campeonato Brasileiro, ocasionando derrota por W.O.. Foi a maneira que o grupo encontrou para protestar contra a gestão caótica na agremiação catarinense. É sabido, contudo, que esse cenário não se restringe ao alvinegro de Florianópolis. O futebol nacional, de forma geral, passa por isso, e já há algum tempo, inclusive com episódios envolvendo Atlético e Cruzeiro.

No Figueira, a peleja se arrasta desde 2017, quando uma holding, a Elephant, passou a administrá-lo, segundo informação da Agência Estado. O modelo de clube-empresa tem sido um fiasco. Neste ano, os problemas estão se acumulando num efeito cascata – em agosto, completaram-se três meses sem pagamento dos direitos de imagem dos jogadores, que representam 40% da remuneração bruta de cada atleta, quase 65% da remuneração líquida. Os salários de julho não foram pagos e há casos de mais de sete meses sem depósitos do FGTS.

A Lei Pelé permite aos atletas solicitar a rescisão do contrato em situações assim, mas em nota oficial eles comunicaram que não tomariam tal decisão, pois deixaria o time sem nem um jogador sequer. E a crise não afeta apenas o futebol profissional: ontem, o Sub-23 do Figueira foi derrotado também por W.O. pelo Santos, pelo Campeonato Brasileiro de Aspirantes. O procedimento foi o mesmo: a delegação catarinense esteve no estádio, porém o time não foi a campo.

O Conselho Deliberativo deu um ultimato para a Elephant, ameaçando romper unilateralmente o contrato (com vigência de 20 anos) se as pendências financeiras não forem resolvidas até quarta-feira. A pressão é intensa, já que se os jogadores optarem por mais um W.O. neste sábado, no jogo contra o CRB, às 19h, no Orlando Scarpelli, o time catarinense será excluído da Segunda Divisão, conforme determina o Código de Justiça Desportiva.

No Figueira estão jogadores conhecidos do futebol mineiro, como o atacante Rafael Marques, ex-Cruzeiro; o armador Tony, ex-América; e o volante Zé Antônio, ex-Atlético, capitão do time e um dos líderes do movimento. Zé Antônio, inclusive, viveu situação semelhante no Galo, clube que o revelou. Natural de Monte Azul Paulista, o volante, atualmente com 35 anos, estreou no profissional do alvinegro aos 20, em 2004. No ano seguinte, ele integrou o grupo que acabou rebaixado para a Série B. Aquela temporada foi turbulenta para os lados de Vespasiano, e a queda acabou sendo uma consequência.

Em 28 de setembro, com o time já às voltas com a ameaça de descenso, os jogadores anunciaram greve pelo atraso de dois meses nos salários. Eles treinaram pela manhã na Cidade do Galo e decidiram abandonar a atividade da tarde, como protesto. A decisão foi comunicada por uma comissão formada pelos atacantes Marques e Euller, o armador Rodrigo Fabri e o goleiro Danrlei. No dia seguinte, com a quitação dos vencimentos, os atletas retomaram os trabalhos.

Em janeiro 2012, a situação não chegou a esse ponto no Cruzeiro, mas causou um desconforto geral. Tudo começou com a declaração irônica do então presidente Gilvan de Pinho Tavares, em entrevista coletiva, ao comentar as dificuldades para concluir empréstimo bancário para quitar o salário de dezembro. “Não podemos adiar, os atletas ganham muito pouco, essa miséria que ganham faz falta danada se atrasar três, quatro dias para eles”, afirmou, entre risos, o mandatário celeste.

Liderado por jogadores como o goleiro Fábio, os armadores Montillo e Roger e o atacante Wellington Paulista, o grupo publicou uma carta aberta para expressar sua insatisfação com a postura do dirigente. “Estamos indignados com a declaração irônica do presidente Gilvan de Pinho Tavares sobre o atraso de salário. Estamos há mais de 15 dias concentrados, realizando todas as nossas obrigações, focados em nosso objetivo para 2012 e entendemos a complicada situação em que o clube se encontra. Sendo muito ou pouco, o salário é um direito de todo o trabalhador. Gostaríamos de deixar claro que independentemente da nossa insatisfação perante tal declaração, continuaremos cumprindo com nossas obrigações – com ou sem quitação de salário na data prometida”, concluíram.

Infelizmente, não dá para dizer que o panorama mudou desde então. Continuam frequentes situações assim, e a irresponsabilidade, uma hora, cobra seu preço. Enquanto não houver mecanismos que obriguem os cartolas a atuarem dentro da realidade financeira de cada clube, a conta receita/despesa não vai fechar.

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