(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas PRIVILÉGIOS

Cara gente magra: como ser aliade sem ser babaca

Longe de ser um manual, algumas dicas pra você ser uma pessoa menos opressora com gordes


24/11/2021 06:00 - atualizado 24/11/2021 11:58

Jessica Balbino ao lado de um manequim magro
'Nem todo mundo quer ser como você ou tem inveja/desejo da sua barriga chapada' (foto: Arquivo pessoal)

 
Cara gente magra, esse assunto é com você! Lógico que é. Escrevo pra todes, mas, sobretudo, pra você, afinal, é você que oprime pessoas gordas. 

Estruturalmente, pra mudar qualquer coisa, só será possível se você se  envolver com o que nos atravessa, enxergar seus privilégios e se dispuser a mudar. 

Longe de mim transformar isso aqui num manual, seguem algumas dicas de como ser aliade sem ser babaca. Meu potencial didático e educativo de pessoas opressoras não está calibrado o suficiente para tal feito. Mas, podemos abrir esse diálogo aqui. 

Com frequência, você, pessoa magra, usa pessoas gordas de enciclopédia numa tentativa preguiçosa de não ser confundide, mas, gastando o intelecto de alguém que está na linha de frente da opressão pra te poupar de se constranger e ainda entende que a pessoa gorda teria essa obrigação, afinal, “essa é mesmo a luta dela”. 
 

'Entenda, pessoa magra: não hostilizar publicamente pessoas gordas não faz de você alguém melhor.'

 
 
Cara pessoa magra, eu sei que você não quer ser vista como preconceituosa, opressora ou gordofóbica e tem uma ânsia imensa pra se dizer aliada, a ponto de ostentar essa - e outras frases parecidas com ‘aliada antigordofobia/ antirracista’, etc, nos seus perfis de redes sociais, como se fosse um feito, uma causa, um esforço, um mérito, qualquer coisa que não sua obrigação em só não ser uma pessoa escrota. 

Entenda, pessoa magra: não hostilizar publicamente pessoas gordas não faz de você alguém melhor. Não te confere mérito. Você precisa mexer na sua estrutura e no seu privilégio pra que isso aconteça. Você tem disposição pra isso? 

Cara pessoa magra, entenda: nem todo mundo quer ser como você ou tem inveja/desejo da sua barriga chapada. A gente só quer existir sem que você, a cada frase, aponte isso. Mas, pra isso acontecer, não adianta a gente não ligar, fazer anos de terapia e se amar. É você, pessoa magra, que precisa girar a chave e entender que não estamos te invejando, essencialmente, mas, quando muito, desejando a paz que deve ser só existir sem precisar se justificar. 
 

'Mas você não pode/deve se sentir superior por ser um ser humano magro. Entenda, pessoa magra, quando você faz isso, você desumaniza a pessoa que você acaba de dizer que respeita'

 
 
Entenda, pessoa magra. Dizer que “respeita pessoas gordas, tem até amigues que são”, não te faz melhor. Nem menos opressive. Só te faz alguém mais perverso.

Ostentar seu corpo magro como um troféu a ser valorizado e cultuado, mas dizer que ama pessoa gordas e nutre carinho por elas é extremamente opressivo. E não, não estamos dizendo que você tem que querer ser uma pessoa gorda. Você pode ser o que você quiser.
 
Mas você não pode/deve se sentir superior por ser um ser humano magro. Entenda, pessoa magra, quando você faz isso, você desumaniza a pessoa que você acaba de dizer que respeita. Como se ela fosse inferior, menos esforçada, menos digna de afeto e oportunidades. 

Então, se no seu imaginário, ter amigues gordes, regular a fala pública e não dizer que acha feio/pouco atraente/etc, te faz alguém melhor, você tá falhando demais nisso. 

Se você não contrata pessoas gordas, não se relaciona com pessoas gordas, não lança climão no almoço de domingo na sua casa, não fala com seus amigues magras, etc, sobre as questões que envolvem a gordofobia, você tá fazendo sua parte como aliade errada. 

E te digo mais: se você não lê sobre o assunto e, de forma desonesta, diz que prefere ouvir alguém explicar pois entende melhor, você não só prática gordofobia, como também age de maneira perversa. 
 
Jessica Balbino ao lado de uma escultura
(foto: Arquivo pessoal)

Quer entender mais e ter melhores argumentos? Justo! Compre um curso ministrado por pessoas gordas sobre o tema. Leia um livro. Essa coluna. Ouça podcasts. Vá atrás de pesquisas. Consuma o conteúdo feito por pessoas gordas. Ao invés de me perguntar se você pode usar uma camiseta escrito “Lute como uma gorda”, sendo uma pessoa magra, compre uma camiseta dessa e doe para alguma pessoa gorda que, em razão da opressão, não consegue se manter financeiramente. A melhor forma de ajudar uma pessoa gorda é, além de tratá-la como uma pessoa, assim como você trata pessoas magras, é empoderando-a da forma como melhor convier. No meu caso, você pode apoiar meu conteúdo aqui, ó

Trocar o discurso pela ação, cara gente magra, é a melhor forma de decolonizar as opressões - todas elas - e entre elas, a gordofobia. Trocar o discurso pelo “o que eu posso fazer, hoje, na prática, pra ser uma pessoa menos opressiva” é o melhor caminho pra te livrar da culpa magra que tanto oprime pessoas gordas.Minha pergunta final pra você é: o quanto você está disposte a isso?

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)