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Estado de Minas COLUNA HIT

Produtor de cinema, Vitor Graize lança fotolivro com imagens do Líbano

'Vir de tão longe' é resultado de viagens do autor mineiro às suas origens. Obra busca transmitir a vivência de um estrangeiro em uma vila libanesa


08/05/2023 04:00 - atualizado 08/05/2023 08:01

Montagem com imagens e a capa do livro 'Vir de tão longe', de Vitor Graize
'Vir de tão longe', de Vitor Graize, será lançado em junho, em Manhuaçu, terra natal do autor (foto: Vitor Graize/divulgação)
O produtor de cinema Vitor Graize ("Os primeiros soldados”, "Arábia") prepara para junho o lançamento de seu livro, "Vir de tão longe”, em Manhuaçu, sua terra natal. A obra – resultado de viagens ao Líbano, a uma pequena vila, comunidade drusa, um grupo étnico-religioso bastante fechado, que ocupa a região do Monte Líbano, terra de seus antepassados –  reúne 59 fotografias, um texto de não-ficção em versão bilíngue português-árabe, e arquivos familiares, como documentos e retratos antigos.

O texto de não-ficção, escrito por Graize durante a sua primeira viagem, em 2013, foi traduzido para o árabe pela fotógrafa e tradutora síria Yara Osman. O projeto artístico é do coletivo editorial Borda. A consultoria e orientação artística são de Raquel Garbelotti, artista visual. A publicação tem apoio da Secretaria da Cultura do Espírito Santo, por meio do edital Projetos Setoriais de Artes Visuais, e foi realizado com recursos do Funcultura.

Sobre o lançamento na Casa de Cultura de Manhuaçu, o autor acredita que "será uma oportunidade linda de levar o livro para a cidade onde minha família se estabeleceu, e para os amigos e parentes que fazem parte da minha trajetória. Espero também, em breve, lançar o livro no Líbano e poder devolver a eles, que me receberam, essa história"

Até chegar ao público, o projeto teve intervalos. O que esse tempo contribuiu para a obra?
Os primeiros movimentos deste projeto foram intuitivos, não havia algo planejado desde a partida para o Líbano. Explorei, em um primeiro momento, em 2013, a linguagem do blog para a publicação do relato da viagem. As imagens que fotografei hibernaram por um longo tempo e apenas a partir de 2019, ao pesquisar mais a fundo os arquivos familiares e descobrir diferentes materiais, a linguagem híbrida do projeto começou a ganhar a forma de uma publicação impressa. Ao final, se tornou este livro que reúne um texto de não-ficção, fotografias e arquivos. O tempo serviu para definir e amadurecer a forma que ele tomaria para chegar ao público.

Na primeira viagem ao Líbano, em 2013, você foi quase como um curioso em torno do país. O que mudou na sua visão (sobre o Líbano, sobre o projeto) ao regressar ao país, dois anos depois, em 2015?
Minha experiência nas duas viagens a esta pequena cidade montanhesa chamada Btater foi bastante caseira e cotidiana. Vivi o dia a dia da comunidade drusa local, com a minha família – conhecendo as casas, visitando e recebendo as visitas, aprendendo sobre o trabalho de cada um, frequentando os mercados. Neste processo, conheci melhor a participação e a força das mulheres na comunidade, por exemplo. Acredito que temos majoritariamente uma visão estereotipada e preconceituosa sobre a participação feminina na cultura árabe, e este é um dos pontos que o livro tenta desconstruir por meio das imagens. As marcas da longa e violenta guerra civil (1975-1990), embora estejam presentes no cotidiano, também estão rarefeitas nas fotografias, pois não me interessava reforçar este outro lugar-comum do mundo árabe, representado como um lugar violento. No livro, não busco resumir o país, uma tarefa que seria impossível dada a longevidade e a complexidade da região, mas sim transmitir esta vivência que é rara, de um estrangeiro nesta região.

Com o material em mãos você pensou em montar uma exposição, fazer um filme, mas acabou decidindo por um livro. O que esse formato tem de especial para você contar sua história, de sua família e de um povo?
O livro possibilitou a reunião de textos, fotografias e arquivos sem hierarquizá-los. Este formato também oferece a experiência tátil e visual de ser manuseado como um álbum de fotografias de família, ou como quem descobre documentos que estão guardados há muito tempo. Além disso, por se tratar de um trabalho bilíngue português-árabe, o projeto gráfico propõe dois modos de leitura, tanto da esquerda para a direita, como os ocidentais leem, quanto da direita para a esquerda, no sentido de leitura da língua árabe, buscando uma aproximação destes alfabetos e destas culturas que também contribuem para quebrar preconceitos em relação ao mundo árabe. O evento de lançamento foi acompanhado por uma exposição de fotografias que não entraram no livro, o que também amplifica a experiência e abre a possibilidades de que estes materiais sejam apresentados em novos suportes.

Durante a viagem de 2013, você fez registros em um blog que dialogavam com cartas do seu bisavô, que nunca regressou ao Líbano. No livro, qual foi o norte para o texto? Manter o diálogo com o bisavô, criar uma outra narrativa, por quê?
O texto, em primeira pessoa, tenta dar conta desta experiência do estrangeiro – seja eu no Líbano ou meu bisavô e outros familiares que emigraram de seu país de origem para o Brasil. Nessa narrativa, bastante pessoal e reflexiva, tento entender essas questões, inclusive por que meu bisavô nunca regressou ao seu país natal e, antes disso, qual foi de fato a motivação para emigrar. São questões que não têm respostas objetivas, claro, mas que moldaram a relação da minha família brasileira com o Líbano e da família libanesa com o Brasil. Embora seja uma narrativa pessoal e bastante particular da diáspora libanesa, acredito que o texto dialoga com diversas experiências migratórias, forçadas ou voluntárias, pois esta busca pelas origens é uma iniciativa contemporânea e política.

Existe uma relação entre o livro e os projetos no audiovisual que você trabalhou?
A questão da memória sempre esteve presente nos meus trabalhos como diretor e pesquisador audiovisual. Meu primeiro filme, um documentário para a televisão chamado "Olho de gato perdido", busca recontar a história de um faroeste rodado em super-8 no interior do Espírito Santo, na década de 1970. Como produtor, esta questão aparece, por exemplo, em "Os primeiros soldados", de Rodrigo de Oliveira, que embora seja uma ficção propõe a construção de uma memória visual da comunidade LGBTQIA+ no início da crise do HIV/AIDS no Brasil. Nos últimos anos, realizei algumas iniciativas de pesquisa, preservação e exibição do cinema produzido no Espírito Santo nas décadas de 1960 e 1970, reunidos no projeto Acervo Capixaba. O livro, então, é uma continuidade deste interesse, desta vez direciono o foco para o meu próprio acervo de imagens e documentos e para o da minha família.

Quais são os próximos projetos?
Entre outros projetos como produtor de cinema, atualmente pesquiso a obra e a trajetória de um artista visual e cineclubista da minha cidade natal, Manhuaçu, que foi uma figura central para a cultura local na década de 1970. Espero contribuir para a valorização deste personagem, que é fascinante. Também estou integrando a equipe de curadoria da 18ª Mostra de Cinema de Ouro Preto – CineOP, que acontece em junho.
Fotografia feita por Vitor Graize para o seu livro “Vir de tão longe”, que será lançado em junho

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