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Estado de Minas TERCEIRO SINAL

Registro de teatro na internet é importante, mas não é teatro

Aimar Labaki, autor de ''A valsa de Lili'', em cartaz no CCBB até segunda-feira, escreve para a coluna HIT sobre o impacto da pandemia nas artes cênicas


17/12/2021 04:00 - atualizado 17/12/2021 02:57

 
Aimar Labaki
Dramaturgo, roteirista e diretor
ilustração de MArcelo Lelis

Depois nunca é como antes. Ao menos na aparência, nestes tempos de mudanças tecnológicas aceleradas. Quanto à estrutura, aí o ritmo já é outro.
A experiência mundial da COVID-19 acelerou processos já em andamento antes: precarização do trabalho, degradação das condições de vida nas cidades, perenização dos fluxos migratórios e consequente criação de gulags, campos permanentes de refugiados, favelização acelerada. O essencial permaneceu: as desigualdades são o denominador comum entre os diversos regimes e graus de civilização.

Por aqui, as mudanças foram mais profundas. À pandemia juntou-se a devastação trazida pelo trabalho cotidiano do governo atual no desmonte, ataque e deboche às pessoas, instituições e ambientes ligados à ecologia, direitos humanos ou cultura. A crise sanitária virou crise humanitária. Mais de metade da população sofre de insegurança alimentar, eufemismo para fome. As frágeis bases do pacto da redemocratização que permitiram a construção de uma democracia formal revelaram suas falhas estruturais. Não há uma instituição intacta.

O teatro, termômetro da sociedade, só poderia estar como está, respirando por aparelhos. Tivemos que tentar apagar um incêndio enquanto os bombeiros botavam mais fogo, à luz do dia. A própria sobrevivência de artistas e técnicos esteve e está ameaçada. Mas se é assim com o resto da população, não haveria por que ser diferente conosco.

Tornaram-se visíveis as precárias condições nas quais exercermos nosso ofício, já há muito. A produção, como todo o resto da economia, financiarizou-se. Os poucos que vivem de teatro, o fazem pela captação das verbas públicas ou privadas para a produção de novos espetáculos; e não da comercialização de seu produto. Não podemos ser considerados uma atividade profissional. As exceções só fazem comprovar a regra.
Esteticamente, no entanto, caminhamos com a crise, como sói acontecer. Primeiro, achamos na comercialização do registro de espetáculos pela internet uma saída. Em seguida, percebemos o óbvio: registro de teatro é importante, mas não é teatro.

O audiovisual tradicional, pré-gravado e editado, também surgiu como alternativa. Mas não deixa de ter as características da linguagem que é, sem contemplar o risco e a vida física inerentes ao teatro.

Começamos então a experimentar e encontramos uma forma híbrida, com grande potencial de crescimento: o teatro virtual ao vivo, na falta de nome melhor. É o trabalho do ator transmitido ao vivo por links próprios ou redes sociais. Mais que alternativa ao fechamento dos teatros físicos, esse parece um caminho promissor, estética e economicamente.

Mas sem mudanças estruturais, poucos serão os progressos reais. Precisamos lutar por um Estado que cumpra com suas obrigações, entre elas a de manter a saúde da produção cultural que garanta o preceito constitucional de direito do cidadão aos bens simbólicos. É preciso compreender que apoio esporádico ao empreendedorismo dos produtores de entretenimento não é o mesmo que suporte permanente à produção de arte. E, principalmente, garantir na arte o que é essencial na educação: igualdade real de oportunidades a todos, desde a mais tenra idade.

Artistas ou cidadãos, temos todos as mesmas necessidades, e cada um seu próprio desejo. Enquanto não estiverem todos contemplados com a mesma oportunidade, nenhum de nós estará em paz, feliz ou sadio. Nem nosso teatro.



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