Foi durante a entrevista coletiva e virtual, na semana passada, que ouvi uma das melhores definições sobre o futuro. A atriz Fabiula Nascimento disse se irritar muito com o termo ‘novo normal’. “Deveria ser o novo ninguém sabe. O novo ninguém tem ideia do que será”, argumentou.
Também não consigo definir tudo isso como novo normal. Encontrar meus amigos a distância, sem abraços e beijos, como contei aqui ontem, nunca será novo e muito menos normal. Quero meus beijos e abraços. São eles que também nos movem.
"Encontrar meus amigos a distância, sem abraços e beijos, como contei aqui ontem, nunca será novo e muito menos normal"
Depois de 160 dias seguindo mais ou menos 95% do isolamento social na casa de minha mãe, em Sete Lagoas, onde montei o home office, voltei a Belo Horizonte. Que fique claro: o tempo na rua foi para as inevitáveis idas ao supermercado, ao banco e, no meu caso e da minha mãe, que temos animais de estimação, ao veterinário. Na quarentena, a família schnauzer precisou de consultas de emergência. Os três estão bem.
Quem passou os últimos cinco meses em Belo Horizonte entende como a pandemia dita o ritmo da cidade. Não que seja uma situação diferente daquela de Sete Lagoas. A questão é você reconhecer mudanças tão drásticas na cidade que aprendeu a amar.
O sábado sempre foi o meu dia. O almoço, sempre por volta das 13h, era sagrado no restaurante natural, a dois quarteirões de casa. Era um momento de relaxamento. Nada de navegar em redes sociais, trocar mensagens no WhatsApp. O bufê farto e colorido pelas verduras, hortaliças em combinações sempre saborosas – maravilha de encher os olhos. Agora, toda aquela beleza deu lugar a marmitas com cardápio reduzido e valor mais alto. Me disseram que durante a semana o bufê está aberto, mas com alguém servindo o seu prato. Antes movimentado, o salão estava às escuras naquele sábado. Triste reparar na redução do número de atendentes.
"A doçura daquele pastel é capaz de fortalecer todas as minhas memórias"
O almoço de sábado começava light e acabava na loja de doces ao lado do restaurante. O pastel de Santa Clara sempre foi o meu preferido. A última vez em que estive ali foi no sábado de carnaval. Degustei com tranquilidade meu doce português, no balcão, observando o vaivém alegre dos foliões pela Santa Rita Durão. Dentro da loja, as funcionárias faziam comentários espirituosos, sem maldade, sobre a turma que passava lá fora.
Essa memória era tão viva, que passei direto agora, ao ver a porta marcada com fita zebrada delimitando a área de circulação. Sei que tudo isso é necessário para combater a peste que nos aflige. Por isso, tenho mais é que voltar lá. Afinal, a doçura daquele pastel é capaz de fortalecer todas as minhas memórias.
Com a rua cheia, dá para perceber que as pessoas não entenderam a importância de usar corretamente a máscara. Um pedaço de pano, preso por um elástico, tapando boca e nariz não exige muito, nem mesmo dois neurônios. Mas tem gente que consegue proezas com a máscara, menos que ela cumpra sua função. Olho e penso: esse está trabalhando a favor do coronavírus.