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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

O Galo é a minha mãe. Não fale mal da minha mãe

"O Arce é que tá certo: quem viveu o inferno não se queima no incêndio, bora levantar essa crista porque há novos carnavais"


13/08/2022 04:00 - atualizado 13/08/2022 10:21

O goleiro Everson após derrota nos pênaltis para o Palmeiras
O goleiro Everson era o retrato da decepção do Atlético após a eliminação da Copa Libertadores para o Palmeiras, no Allianz Parque (foto: NELSON ALMEIDA / AFP)


Outro dia tava eu aqui a reivindicar o sagrado direito de sofrer. O problema de desejar o indesejável é que você pode acabar chegando lá. É isso que cê quer? Então toma! E tomamos muito bem tomados em nossos fiofós: apesar dos vacilos, sem exatamente merecer, sem jamais ter perdido – como o Galo de 1977, a derrota nos pênaltis foi um crime com requintes de crueldade, e só não se pode falar em “triplamente qualificado” porque tivemos chance de defesa. E desperdiçamos todas, desde o 2 a 0 no Mineirão até o tiro derradeiro na marca da cal.

Eu fui até o caixa, paguei a conta e saí andando. Não choro em derrota faz cerca de duas décadas. Apenas a vitória verdadeiramente me emociona. O hino. A Galoucura. Bárbara Vitória com a camisa do Galo. As 800 vezes em que ouvi o Willy narrar o gol de Dinho contra o Cruzeiro em 1995 – “Dinho, todo generosa luta”. Não rasgo a carteirinha do clube, não busco culpados, dou um upgrade no meu GNV. O Galo é a minha mãe. Cheguei em casa e fui dormir em paz.

Acordei às 6h30 do dia seguinte. Não me fale de Atlético. Ainda mais se você não for Atlético. O Galo é a minha mãe, porra, não fale mal da minha mãe. Abri o Whatsapp, eu na Bahia, e meu filho, o Francisco, em São Paulo. Tenho pena dele: aos 14, ele ainda chora nas derrotas, tadinho, igual eu quando era pequeno. Tinha uma mensagem dele pra mim.

“Bom dia, pai. Chateado demais por ontem. Fui dormir 5 horas da manhã de tanto chorar, mas é isso: o Galo é o Galo, não tô bravo, tô muito Galo na verdade. Quanto menos a gente chega, mais esse sentimento ocupa o meu peito, sou Galo pra caralho. Esse time me ensinou o que é sentimento, o que é amar e se sacrificar por isso. Bato no peito e grito Galo. Ontem foi foda, mas Galo é Galo. Ano passado, na semifinal, nós perdemos e eu chorei demais. Mas foi a partir daí que eu vi o que é Atlético Mineiro. Indo pra aula agora com a camisa mais sagrada do mundo. Contigo na derrota e na vitória. Eu te amo, Atlético!”

Puta que pariu, meus amigos, eu chorei demais. Meu filho é paulistano, sua avó é japonesa, seu avô é inglês, o padrinho é Corinthians, a madrinha é São Paulo, há amigos palmeirenses, santistas, uma maioria de corintianos. No primeiro carnaval que passei com sua mãe, antes que o tivéssemos cometido, fomos para o Rio e vesti uma crista de Galo comprada em outros carnavais. Lá pelas tantas ela não se aguentou: “Por que algumas pessoas nos blocos passam do seu lado e gritam ‘gaaaaalo’ e ninguém grita ‘pierrôôô’ nem ‘colombiiiiina’?”. Tinha um escudo na minha crista. Mas a Fabi não sabia que o Galo existia.

Apenas 14 anos depois, essa dupla criou um jovem PhD em Atlético Mineiro. Sabe tudo. Conhece os recônditos da atleticanidade, seus becos escuros e suas praças em festa. Eu tinha acordado exatamente como ele: mais atleticano ainda, não é possível, pensei com meus atordoados botões, aquela ressaca danada: deve ser doença. Vesti a camisa listrada e saí por aí.

Aqui onde moro estamos em obra. O material chega em carroças. Hoje o carroceiro me chamou lá fora, descarregou a tralha e entregou a nota. No espaço destinado ao endereço – aqui não há endereços – havia uma anotação: “Fred atleticano, atrás da igreja, bandeira do Atlético no mastro em frente à cerca”. Eu tô na Bahia e pensei, esse povo tá querendo me fazer chorar. Bem, chorei. Se há endereço mais chique em qualquer ponto da Viera Souto, Oscar Freire ou Champs Élysées, desconheço.

De modo que é isso: deixem de ser juvenis! O Arce é que tá certo: quem viveu o inferno não se queima no incêndio, bora levantar essa crista porque há novos carnavais. Rubens é craque, Vargas também. A base vem forte, Francisco! Você matou a charada: o Galo não é um time de futebol, o Galo é um sentimento. E, às vezes, isso basta.

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