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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Vamos ganhar no tempo normal. Eu tenho certeza

Exijo continuar a sofrer! Deixe os meus carmas se manifestarem, eu quero e sou bom pagador, pergunte aos meus boletos


06/08/2022 04:00 - atualizado 05/08/2022 22:41

Lance do jogo do Atlético com o Palmeiras
Atlético e Palmeiras empataram o primeiro jogo das quartas da Libertadores, no Mineirão. Na volta, o Galo precisa vencer no tempo normal para evitar a disputa de pênaltis (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Meu amigo Ribão – não confundir com Rubão, uma diferença vogal de uns tantos bilhões – escreveu se desculpando pela análise que fizera do Galo e Palmeiras na última quarta. Segundo ele, algumas canjebrinas a mais teriam atrapalhado o teor alcoólico de seu comentário. Repilo! E por isso reproduzo abaixo a sua missiva etílico-conjuntural a respeito do Galão.

“O Galo tem que deixar de ser o time do ‘Eu acredito’ pra ser o time do ‘Eu tenho certeza!’. Nessa mudança de patamar, não há como acolher tantos cândidos predicados: piedoso, generoso… Tem que ser implacável e golpear com misericórdia, e ter a certeza de que eliminamos o oponente. Degolar por misericórdia é bem diferente do ‘vapo’, esse está mais para a desonra e indignidade do que para a consagração.

“Acho que o Cuca, respeitosamente, deveria aposentar a camiseta da santa e adotar a da Galo Metal. Não dá pra ter piedade em Libertadores. Fazer o resultado antes dos 10 do segundo tempo e não liquidar com mais gols, e começar a voltar bola, não consigo entender. Nessa ‘mudança de patamar’ tem que mudar também a mentalidade: trocar a conformidade com o drama pela impiedade nos resultados. Matar para valer o Lutar!”

A canjebrina bota a gente comovido como o diabo, Drummond (o Carlos, não o Roberto) já sabia disso. Só não desconfiava da lucidez que ela pode conferir. A principal característica do Galo multicampeão de 2021 era a forma implacável como encarava seus maiores desafios. O Bahia fez dois? A gente foi lá e fez três. Final da Copa do Brasil? Metemos logo quatro e liquidamos a fatura antes do vencimento.

O drama é o nosso traço de personalidade mais fundamental. O que seria do atleticano sem os seus dramas? Suas derrotas injustas, seus roubos históricos – mas também a virada no minuto final, o gol do Dinho (não o Ronaldinho, mas o Dinho “todo generosa luta”), a cabeçada do Leonardo Silva, o Guilherme aos 50 do segundo tempo, o 4 a 1 no Corinthians, o 4 a 1 no Flamengo.

Particularmente, o drama do atleticano me comove como o diabo – é a minha canjebrina, além da própria canjebrina. Sou viciado nele. Quando o Galo se fode (me desculpe, mas o verbo é esse), me encho de um brio incomum. Tivesse ganhado do Palmeiras eu tava aqui tranquilo fazendo a guarda da costa na minha Caraíva. Como empatou com aquela derrota tristíssima, tenho o ímpeto de despencar daqui pra São Paulo, a pé se for o caso. E pra confundir o Ribão, é nessa hora que eu tenho certeza: a gente vai ganhar desses caras lá, e eu vou me arrepender profundamente de não ter testemunhado a história. Eu tenho certeza, Ribão.

No mais a mais, já estou velho o suficiente pra não desgraçar minha semana com nenhuma derrota, menos ainda com um empate. Claro que isso demandou muito exercício, muitas horas de voo. Mas quando é que me fará algum mal uma coisa que me trouxe tantos Ribões e Nabores, Kikos e Dedés, Júlios e Daniéis, Afonsos e Manuelas? O Galo é um congraçamento de afetos e amores, um laço apertado entre a gente, todos nós a primeira pessoa do plural. Coitado do futebol perto do Atlético. De modo que fodas! Vamo que vamo, que a gente vai ganhar desses caras! E se não ganhar, a gente já ganhou. (Meio Dilma, mas é isso mesmo que eu quero dizer.)

Então me perdoa, Ribão, eu compartilho contigo, além da canjebrina, o pensamento em “otro patamá”: endurecerse sin perder la ternura jamás. Impávido que nem Muhammad Ali, tranquilo e infalível como Bruce Lee. Tá concordado. Mas não tire de mim o meu direito ao drama. Exijo continuar a sofrer! Deixe os meus carmas se manifestarem, eu quero e sou bom pagador, pergunte aos meus boletos.

Juntemos, pois, as duas coisas: eles implacáveis e a gente sofrendo. Se você for ver, este é o jogo contra o Bahia, quando fomos campeões no modo Juscelino melhorado, 50 anos em 5 minutos. Se a gente parar de sofrer, vai ficar com a boca escancarada sentado no trono de um apartamento esperando a morte chegar. Ai, credo, melhor a sofrência mais uma vez.

Distraídos empataremos, teria dito o poeta se o dia estivesse cinza lá em Curitiba. E ganharemos nos pênaltis. Mas não estaremos distraídos, e portanto vamos ganhar no tempo normal. Eu tenho certeza.

***
Viva Bárbara Vitória! A nossa vitória será por ela. Mas só vai ser completa quando se fizer justiça.


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