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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Sobre pochete, mullet, Cuca e o golpe de estado

Falta ao Galo, em primeiro lugar, recuperar a condição de Reinaldo que Hulk ostentou em boa parte de sua trajetória desde 2021


30/07/2022 04:00 - atualizado 29/07/2022 23:18

A torcida do Atlético pediu a volta de Cuca, e o treinador, multicampeão no comando da equipe, tem como desafios vencer o Brasileirão e a Copa Libertadores deste ano
A torcida do Atlético pediu a volta de Cuca, e o treinador, multicampeão no comando da equipe, tem como desafios vencer o Brasileirão e a Copa Libertadores deste ano (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


Outro dia, tendo usado uma pochete, dei-me conta de como regredimos. Na minha juventude, ali pelo final dos anos 80, a pochete se fazia acompanhar pelos mullets — aquela franja de cabelo que se deslocou das testas para as nossas nucas, uma coisa medonha. Teve sua glória com o pessoal do A-Ha. E alcançou o lixo da história ao alojar-se nas carcaças cranianas de Chitãozinho e Xororó.

Até onde posso acompanhar, os mullets não voltaram a fazer a cabeça de ninguém. Ainda. Mas as calças baggy, bem, essas voltaram a nos assombrar, transformando os mais belos mancebos em homens do saco.

Meu filho usa, com meia cueca à mostra. Já sugeri que invertesse as peças de vez e, como o Super-Homem, usasse a cueca por cima da calça.

Regredimos ao ponto de aceitar que se articule, na mais cara dura, um golpe de estado. Enquanto manejamos as pochetes, militares manejam fuzis e ameaçam a democracia. Já não estamos mais nos anos 80, mas nos 60. E fomos aquém: a vacina e o voto eletrônico estão sob suspeita. Vem aí o telex, o fax, o bina, o cheque pré-datado, a calça da OP, a camiseta da Pier, o Rodstar, a roda tala larga, o doberman, a hiperinflação, daqui a pouco aparece o Sarney. Eu mesmo tenho um pastor alemão, o Fidel — que só não é castro porque desejo cruzá-lo logo mais.

Meus carcomidos botões foram alertados para esse estado de coisas que julgava ultrapassadas ao perceber um outro monstro redivivo, assim como a pochete e o golpe: o Flamengo ladrão. Tão anos 80 quanto Paulo Maluf, o político paulista que consagrou o jargão “Rouba mas faz”. O Flamengo também rouba mas faz — gols, pontos, resultados. Vai que vai o time do coração de Eduardo Cunha e Bolsonaro, caso tivessem coração.

No governo Bolsonaro, a PGR voltou aos tempos do “engavetador geral da República”. Nos jogos do Flamengo, o VAR é uma trupe de canastrões a encenar diálogos de ficção. O pior cego é aquele que não quer ver. Todo jogo do Flamengo você pode testemunhar um encontro da Associação dos Piores Cegos do Brasil. Seria engraçado, se não fosse esse acinte que se viu esta semana. E ainda reclamam! E conseguem afastar o juiz do jogo!

Igual o Bolsonaro e as rachadinhas da família. Bolsonaro e Flamengo, como disse a Conja, são a mesma pessoa. O mesmo modus operandi.
Nessa volta dos que não foram, nem tudo são espinhos. A pochete, por exemplo, é da maior utilidade: permite que você não perca o celular apenas — você perde celular, carteira, CNH, chave de casa, bituca de cigarro, tudo ao mesmo tempo. É brasa, mora? Além de haver modelos os mais estribados.

Mas como eu ia dizendo, nem tudo são espinhos. O atleticano queria o retorno do Cuca assim como queríamos a volta do Telê. Cuca, o estuprador, diga-se. Mas queríamos. E como a pochete, taí o que você queria: Cuca Beludo ataca novamente!

Cuca não é exatamente o velho treinador brasileiro, categoria na qual se enquadrariam Abel Braga, Luxemburgo, Joel Santana, Celso Roth. O escaninho de Cuca é o do velhíssimo treinador brasileiro, o mesmo de Telê, João Saldanha, Lula (não o Luiz Inácio mas o técnico do Santos de Pelé), uma estirpe que mudou o futebol mundial e chega até o Scolari de tempos idos — está na estante dos craques.

De volta ao passado — um tempo em que o Maluf sugeria ao povo “estupra mas não mata” —, falta ao Galo, em primeiro lugar, recuperar a condição de Reinaldo que Hulk ostentou em boa parte de sua trajetória desde 2021. E também acertar a defesa, devolvendo a Junior Alonso seu distintivo de Luizinho.

Feita essa lanternagem, o carro estará de volta aos trilhos. Seremos roubados pelo Flamengo, isso é batata. Nesse caso, é preciso se inspirar nos tempos recentes: roubam um gol, fazemos dois; inventam um impedimento, fazemos três; expulsam um, ganhamos com dez.
Um outro Brasileirão começa amanhã, uma outra Libertadores começa na quarta. Se o Galo ganhar, prometo cultivar o mullet por todo 2023.

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