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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Justiça para o passado, esperança para o futuro com Cuca no Galo

Este colunista reconhece e compreende o lugar de fala das mulheres, e por isso cede seu espaço para que se manifestem livremente sobre o retorno do técnico


06/03/2021 04:00 - atualizado 06/03/2021 06:39

Treinador que levou Atlético à conquista da Libertadores tem volta contestada por condenação em caso de estupro coletivo(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press. Brasil %u2013 06/12/13)
Treinador que levou Atlético à conquista da Libertadores tem volta contestada por condenação em caso de estupro coletivo (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press. Brasil %u2013 06/12/13)


O Atlético anunciou ontem o acerto com Cuca, que deve ser apresentado na segunda-feira, 8 de março, Dia das Mulheres. Cuca foi acusado de participação num estupro coletivo em 1987 e condenado dois anos depois. Este colunista reconhece e compreende o lugar de fala das mulheres, e por isso cede seu espaço para que se manifestem livremente sobre o retorno do técnico campeão em 2013. O texto que se segue tem a assinatura da Grupa, coletivo de torcedoras atleticanas que lutam por respeito e igualdade de gêneros. A elas:

É mais fácil quando a escolha é do tipo preto no branco. O caso da recontratação do vitorioso técnico Cuca, sobre quem só recentemente soubemos que foi condenado por participar de violência sexual contra uma garota de 13 anos na Suíça, 34 anos atrás, não é uma dessas. Trata-se de uma zona cinzenta. A gente ia sair perdendo de todo jeito.

“Sanha punitivista, o crime já prescreveu!”, bradava um. “Vão impedir um pai de família de trabalhar?”, alegava outro. “Vocês não são torcedoras de verdade e jogam contra o time!”, esbravejava aquele que, sabemos, será o primeiro a pedir a cabeça do treinador após três derrotas. Mas então olhamos para o outro lado. Encaramos números que nos dizem que ao menos 180 mulheres brasileiras são violentadas por dia. Na dúvida, seremos por elas.

De todo jeito ia doer. Seria extremamente doloroso ter de impedir o técnico que nos levou à maior conquista da nossa história de vestir novamente nosso manto. Seria triste pensar na sua família, que iria padecer junto. Mas doía ainda mais saber que se não tomamos uma decisão drástica não paramos a roda da violência, e de certa maneira incentivamos novos crimes contra mais mulheres no presente e no futuro. Não é sobre o Cuca, é sobre o papel social de uma instituição que apaixona e influencia.

De novo, nos vemos nessa posição incômoda. Outra vez fomos obrigadas a nos posicionar, recebendo as pedradas de parte de uma massa raivosa. Não precisaríamos, se o Clube adotasse uma política interna séria e adequada com os novos tempos. Mas sai diretoria, entra diretoria, quase sempre formada por homens brancos, e literalmente jogam pra torcida casos como de Robinho, Villa e agora Cuca, enquanto nos assistem digladiar até tomar uma decisão.

De nada adianta fazer campanhas de marketing no Dia das Mulheres, nem se solidarizar com Mariana Ferrer e todas as vítimas de estupro se, internamente, promovemos aqueles que foram condenados por atos cruéis contra outros seres humanos e sequer se desculparam. Porque, acreditem, uma desculpa sincera por parte do técnico teria ajudado sobremaneira a resolver a questão. Ajuda, ainda.

No final das contas, é mais fácil construir estádios do que reputações. E as estruturas do Galo vêm sendo sistematicamente abaladas no quesito respeito às mulheres. Andamos cansadas desses embates. Precisamos de atitudes que nos blindem e poupem de escolhas de Sofia como essa. Merecemos torcer seguras e em paz.
Terminamos com o depoimento de uma das integrantes da Grupa, esse coletivo que talvez nem precisasse existir, caso a instituição fizesse sua parte. “Fui abusada por volta dos meus 10 anos. O trauma é tão grande que não consigo lembrar direito, não lembro do rosto, tenho apenas flashes, porque reviver causa dor. Meu aniversário é daqui 5 dias, olha o presente que o Galo me deu.”

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