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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Que se confinem todos os boleiros numa casa do BBB

"O que será do Mineirão lotado quando tudo isso acabar? O que será do abraço anônimo na hora do gol? O beijo no rosto, o aperto de mão, o forró"


postado em 04/04/2020 04:00 / atualizado em 04/04/2020 08:31

Guilherme e Marques formaram uma dupla afinada no ataque atleticano no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000(foto: Auremar de Castro/Estado de Minas - 5/5/2000)
Guilherme e Marques formaram uma dupla afinada no ataque atleticano no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000 (foto: Auremar de Castro/Estado de Minas - 5/5/2000)


Sobretudo àqueles que não têm perfil de ex-atleta, e também aos que não pularam suficientemente no esgoto, o novo coronavírus impôs uma reclusão que nos remete aos castigos da infância. Com um requinte de crueldade: não há Atlético. Oferta-se de tudo na vascaína, as palestras do coach, o show da nova violeira desde a cozinha de casa, a programação da HBO. Mas aquele opiozinho do povo, tão necessário, sumiu do mercado. E estamos agora como os maconheiros, prestes a fumar o brócolis que sobrou na geladeira.

O nosso brócolis, pois, são os jogos antigos, fazer o quê? Outro dia mesmo, tenho notícia, rolou a final da Libertadores na televisão. O atleticano que venceu o Olimpia jamais será derrotado por um vírus, diria Bolsonaro, o medinho não nos acomete e temos cloroquina saindo pelas orelhas. Este ordenhador de pedras seria obrigado a concordar pela primeira vez com o paraquedista que aterrissou sobre a pandemia.

Em outros tempos, tal brócolis poderia fazer a cabeça. Que atleticano não viu e reviu os gols de Reinaldo? Quem nunca foi lá conferir, na imagem sofrível, o cruzamento de Humberto Ramos, Dario parado no ar como o helicóptero, a cabeçada fatal para o título de 1971? Atire a primeira pedra aquele que nunca se rendeu à sessão de autoflagelo e reviu o Flamengo de Zico, Nunes e Wright roubando o Atlético na Libertadores de 1981.

Vale a pena ver de novo Marques e Guilherme, nosso Marx e Engels, tirando o Crüzëirö do Brasileirão em 1999. O Galo eliminando o Boca na Bombonera, o Rei passeando na goleada contra o PSG em Paris, o Dinho, na histórica narração de Willy Gonzer, fazendo o seu gol de placa adivinha contra quem? Opção A) Ceará. B) Crüzëirö. C) Fluminense. Acertou aquele que cravou o Crüzëirö na B.

Mas coronga é como Hermógenes, o diabo no meio da rua, no meio do redemunho. Enquanto oferece o velho Dinho e a parábola perfeita do gol mais importante das nossas vidas, o Cramulhão nos rouba todo o resto, a vida como ela era. O que será do Mineirão lotado quando tudo isso acabar? O que será do abraço anônimo na hora do gol? O beijo no rosto, o aperto de mão, o forró, o sexo sem amor, a formatura, o casamento, o show de rock. Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará.

O Coronga nos apartou uns dos outros. A poluição desapareceu sobre a China. Cardumes de peixes e até golfinhos surgiram nos canais de Veneza. Cientistas observam ao redor do mundo uma “revolução verde” proporcionada pela quarentena humana. Nós somos o vírus. Nós somos o  câncer. E a natureza por certo entendeu que o povo unido jamais será vencido. Agora tamo ferrado, junto mas separado. É por isso que mais do que nunca o ópio do povo deve estar disponível. Rivotril nenhum será tão eficaz no cuidado da alma quando a doença que mata não permite a despedida, a companhia dos atleticanos que ficam na hora fatal. Eu li um médico na linha de frente: “É a doença da solidão”.

Minha sugestão é que se testem e confinem os jogadores numa espécie de casa do BBB em que haja um campo de futebol, ou num sítio como o dos Novos Baianos. Um complexo onde se pudesse alocar também o pessoal da Série B, de modo a rirmos por último. Um dia acabaremos todos abatidos, penetrados pelo Coronga sem darmos conta por onde. Com seu perfil de ex-atleta, apenas Ricardo Oliveira estaria a salvo, graças a Deus.
 
 

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