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Estado de Minas DICAS DE PORTUGUÊS

Lançamento do Chat GPT provocou auê. A coluna testou o logaritmo. Confira

Foram apresentadas três perguntas relativas à língua portuguesa. Uma sobre a conjugação do verbo falir. Outra sobre vírgula. E a última sobre crase


21/05/2023 04:00 - atualizado 20/05/2023 01:18
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Ilustração mostra mulher olhando para mecanismo de inteligência artificial


O lançamento do Chat GPT provocou um auê no mundo. Rápido e multivalente, ele conversa com a pessoa. A gente faz uma pergunta sobre qualquer assunto. O logaritmo responde com texto escrito em português correto.

Embarquei na aventura. Apresentei três perguntas de língua portuguesa ao Chat GPT. Uma sobre a conjugação do verbo falir. Outra sobre vírgula. A última sobre crase. Surpresa! Ele acertou uma pela metade e errou duas.

Verbo falir

O Chat GPT errou no presente do indicativo. Em vez de conjugar o verbo falir, apresentou as formas do verbo falhar. Trocou as bolas. Nada feito.

A forma nota 10

Falir é defectivo. Só se flexiona nas formas em que não se confunde com falar. São aquelas em que aparece o i depois do l. No presente do indicativo, apenas o nós e o vós têm vez (falimos, falis). O presente do subjuntivo não existe.

Os demais tempos conjugam-se normalmente: fali, faliu, falimos, faliram; falia, falia, falíamos, faliam; falirei, falirá, faliremos, falirão; faliria, faliria, faliríamos, faliriam; falindo; falido.

Substituto

As formas inexistentes podem ser supridas. O verbo quebrar é uma saída. A expressão abrir falência, outra.

A vírgula

A segunda questão apresentada ao Chat GPT perguntou se pede vírgula a frase “O ex-presidente da República José Sarney mora em Brasília”. A resposta foi correta – não. Mas a explicação não explicou. Disse que o período não pede a bengalinha porque está escrito na ordem direta. A razão é outra.

O porquê

A língua é um conjunto de possibilidades. Flexível, a danada detesta monotonia. Oferece vários jeitos de dizer a mesma coisa. Veja:

O aluno estudioso tira boas notas.

O aluno que estuda tira boas notas.

As frases dizem que há alunos e alunos. Não é qualquer um que tira boas notas. Só chega lá quem se debruça sobre os livros. Numa, o termo restritivo é adjetivo (estudioso). Noutra, oração adjetiva (que estuda). O tratamento mantém-se. Nada de vírgula.

Outro time

O adjetivo nem sempre limita o sentido do substantivo. Às vezes explica. Veja:

O homem, mortal, tem alma imortal.

O homem, que é mortal, tem alma imortal.

Os períodos não dizem que há homens mortais e homens imortais. Diz que todos são mortais. Como saber? A vírgula, indiscreta, denuncia.

De volta à vaca fria

A questão proposta ao Chat GPT joga no time das restritivas e explicativas. Ao dispensar a vírgula na frase “O ex-presidente da República José Sarney mora em Brasília”, dizemos que há mais de um ex-presidente. E há. Collor, Fernando Henrique, Temer, Bolsonaro servem de exemplo. Por isso, o período não pede vírgula.

Se há um só presidente da República, o nome torna-se explicativo. Exige o sinal de pontuação: O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi eleito em 2022.

Virtudes

Lembra-se do recado de Montaigne? “O estilo”, diz ele, deve ter três virtudes: clareza, clareza, clareza. Saber identificar o termo explicativo e restritivo não constitui só problema de correção. Muitas vezes afeta a clareza.

Pegadinha

Esta cilada caiu no vestibular:

Os cinco filhos de José que chegaram do Rio estão no hotel.

A questão: quantos filhos tem José?

( ) Tem cinco. ( ) Tem mais de cinco.

E agora?

Quem responde é a oração. Restritiva ou explicativa? Sem vírgulas, é restritiva. Então José tem mais de cinco filhos. Se fossem só cinco, “que chegaram do Rio” estaria cercadinha de vírgulas.

A crase

Sobra assunto. Mas falta espaço. O terceiro tropeço do Chat GPT será assunto da próxima coluna.

Leitor pergunta

Segmento ou seguimento? A turma confunde sempre.
Paulo José Cunha, Brasília

Segmento é parte de um todo. Seguimento é o substantivo derivado do verbo seguir: O gabinete do senador foi tomado por líderes de diversos segmentos sindicais. Em seguimento à exposição, falará o coordenador do projeto.

Recado

“Quem não lê, aos 70 anos terá vivido só uma vida: a sua. Os que leem terão vivido 5 mil anos. Ler é uma imortalidade de trás para a frente.”
Umberto Eco





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