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Querelas do Brasil

Livros e reflexões de Krenak são essenciais para quem busca entender as perspectivas indígenas e a crise ecológica que enfrentamos


10/10/2023 04:00 - atualizado 09/10/2023 22:28
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Na semana passada, a Academia Brasileira de Letras elegeu o indígena Ailton Krenak como seu mais novo membro. Começa assim, um resgate cultural, ainda que tardio e limitado, de nossas origens. 

É triste perceber que, somente após cinco séculos, estejamos resgatando a beleza e profundidade de nossas raízes africanas e indígenas. 

Ao longo de sua carreira, Ailton Krenak participou de diversos debates, entrevistas e eventos, sendo que em alguns desses tive oportunidade de ouvi-lo. Seus livros e reflexões são essenciais para quem busca entender as perspectivas indígenas e a crise ecológica que enfrentamos. 

Assim começou o processo de cura da minha ignorância cultural e a ruptura com meu passado de alienação absoluta em relação a esse tema.

Algumas de suas obras mais notáveis incluem: "Ideias para adiar o fim do mundo". Trata-se de uma coletânea de reflexões sobre a relação do ser humano com a natureza, a crise ambiental, a importância da diversidade cultural e a urgência de repensarmos nosso modo de vida. Krenak desafia as visões convencionais sobre progresso e desenvolvimento, propondo uma nova forma de relacionamento com o planeta.

Em "A vida não é útil", ele aborda temas como a pandemia de COVID-19 e as queimadas na Amazônia, refletindo sobre a ideia de que a vida não se destina à utilidade. Ele propõe uma reavaliação profunda de como vivemos, questionando o consumismo, a devastação da natureza e o descarte de vidas, sejam elas humanas ou não-humanas.

A devastação da natureza e ocupação inescrupulosa de nossas florestas nos expõe a vírus que circulam nesses ambientes, contra os quais não possuímos imunidade e que, da noite para o dia, podem colocar a humanidade de joelhos.

A ideia de “One Health” proposto pela Organização Mundial de Saúde está presente de forma contundente no discurso de Krenak muito antes desse conceito ser difundido mundialmente.
 
Em  "A vida não é útil" ele faz uma reflexão sobre o momento crítico e conturbado que a humanidade atravessa. A obra amplia e aprofunda questões levantadas em sua obra anterior, "Ideias para adiar o fim do mundo", e toma como ponto de partida a pandemia da COVID-19 e os desastres ambientais recorrentes. 

Nosso mais recente acadêmico faz um chamado para uma profunda reavaliação dos valores da sociedade contemporânea. Ele propõe uma visão de mundo mais integrada, onde a vida é valorizada não por sua utilidade, mas por sua própria existência. A obra estimula a reflexão e a mudança de perspectiva diante dos desafios que estamos tendo com a COVID19 e que certamente teremos nos próximos anos.

Nesse aspecto, como infectologista, uma frase de Krenak me chamou atenção de forma especial: "Não é a primeira vez e nem será a última que a humanidade será parada por um vírus. A Terra quer nos falar que está com febre".

Com a eleição de Krenak, a ABL absorve a oralidade transcrita como expressão cultural de um povo que, ao longo de séculos, teve sua memória, sua cultura e sua gente massacrada por nós, colonizadores ignorantes e inconsequentes. Além disso, dá um recado claro para toda sociedade da importância da defesa dos princípios democráticos.

A Academia Brasileira de Letras, que reúne algumas das mais proeminentes figuras literárias do Brasil, muitos dos quais refletem sobre a identidade brasileira, a diversidade cultural e as tensões sociais. Krenak, com sua perspectiva, complementa e desafia algumas das narrativas tradicionais, introduzindo a profundidade da visão dos povos tradicionais no panorama literário e cultural brasileiro.

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