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Estado de Minas COLUNA

Cadê a ciência no palanque dos candidatos?

Instituto Questão de Ciência elaborou perguntas sobre política científica que foram enviadas aos candidatos à Presidência melhor posicionados nas pesquisas


03/09/2022 06:00 - atualizado 02/09/2022 10:42

Pessoa segurando recipiente com algas marinhas
(foto: Chokniti Khongchum/Pexels)

Nos últimos 60 anos vivemos inúmeros surtos e epidemias das mais diferentes etiologias e dimensões epidemiológicas. Apesar de todos eles terem causado comoção social e sofrimento para milhares de famílias, nenhuma delas teve o impacto global que a pandemia de COVID-19 vem causando.

Em todas essas epidemias e, principalmente, na atual, a ciência foi absolutamente fundamental no seu controle, sendo o desenvolvimento das vacinas a chave mestra dessa história.

Entretanto, para se chegar às vacinas vai uma longa jornada que começa pela decisão política de se investir em ciência e tecnologia. Portanto, a priori, o enfrentamento de epidemias passa necessariamente por decisões políticas.

Nesse sentido, o Instituto Questão de Ciência (IQC) publicou, em seu editorial de 30/08/2022, as Dez perguntas para quem leva Ciência a sério, o qual está reproduzido a seguir.

"Iniciada a temporada de entrevistas e debates entre os candidatos à Presidência do Brasil, vemos com preocupação (mas, infelizmente, sem surpresa) o que poderia mostrar-se um diálogo franco sobre o futuro do país, ser engolido e digerido pelo que o filósofo marxista francês Guy Debord tão bem diagnosticou como "sociedade do espetáculo", um jogo de performance e aparência projetado para impressionar e mobilizar sem tocar em nada de substancial.

Ausência de substância é exatamente o que transparece nos trechos dos programas de governo que tratam de política científica, de acordo com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Em um de seus aforismos, Debord adverte que "o espetáculo que falsifica a realidade é, a despeito disso, um produto dessa realidade", e que o mundo real, invadido pela contemplação do espetáculo, "acaba absorvendo-o e alinhando-se a ele. Se nos dermos por satisfeitos com as platitudes, seremos, por ingenuidade ou cinismo, parte da grande falsificação."

Para tentar furar a bolha do espetáculo, o Instituto Questão de Ciência (IQC), fundado e presidido pela colega de trincheira, Natalia Pasternak, elaborou uma série de perguntas sobre política científica que foram enviados, meses atrás, aos quatro candidatos (então ainda pré-candidatos) melhor posicionados nas pesquisas. As questões iniciais eram personalizadas, mas a parte principal do documento continha outras dez iguais para todos.

As questões foram inspiradas numa numa inciativa de 2012 da Revista Scientific American para a eleição presidencial dos EUA. Tomamos, agora, a iniciativa de republicar no Boletim Popular dessa semana as dez perguntas que também consideramos fundamentais para qualquer discussão séria - para além dos gestos vazios e promessas vagas - a respeito do papel da ciência na sociedade brasileira, o futuro da ciência no Brasil e o uso da ciência como ferramenta de gestão pública.

Até o momento, nenhum dos candidatos respondeu às perguntas formuladas pelo IQC. Esperamos ter melhor sorte nessa nossa tentativa. Seguem, na íntegra, as perguntas:

1. O Brasil conta, na esfera pública, com 69 universidades federais, 40 universidades estaduais e um grande número de centros de pesquisa e de formação profissionalizante. Como você enxerga a previsão constitucional de autonomia universitária? Existe um plano para a melhor integração e especialização das instituições do ecossistema público de ensino, pesquisa e extensão?

2. A ciência de base gera conhecimento que a indústria depois emprega em produtos e processos de alto valor agregado. No Brasil, isso é raro. 90% dos royalties da USP vêm de uma única patente, a do remédio Vonau. Como podemos melhorar a integração entre academia e setor privado para que a ciência gere mais renda?

3. O clima da Terra está mudando e a discussão política se divide tanto sobre a ciência quanto sobre a melhor resposta a se tomar. Quais são seus pontos de vista sobre as mudanças climáticas e como sua administração agiria sobre esses pontos de vista?

4. A diversidade biológica fornece alimentos, medicamentos e muitos outros recursos dos quais dependemos todos os dias. O número de espécies está diminuindo em um ritmo alarmante como resultado da atividade humana. Que medidas você tomará para proteger a diversidade biológica?

5. A gestão estratégica de matrizes energéticas pode ter impactos econômicos, ambientais e de política externa. Como você vê a evolução do cenário de energia nos próximos quatro ou oito anos e, como presidente, qual será sua estratégia de energia?

6. Como seu governo equilibraria os interesses nacionais com a cooperação global ao enfrentar ameaças esclarecidas pela ciência, como doenças pandêmicas e mudanças climáticas, que vão além das fronteiras nacionais?

7. Vacinas estão sendo uma medida sanitária primordial para o combate à COVID-19. Enquanto isso, o sarampo está ressurgindo devido à diminuição das taxas de vacinação, e grupos organizados tentam semear, na opinião pública, temor e desconfiança em relação às vacinas. Como seu governo vai lidar com o sentimento antivacinas?

8. Muitas espécies de peixes são pescadas além de limites sustentáveis, os recifes de coral estão ameaçados pela acidificação das águas e grandes áreas do oceano e dos litorais estão poluídas. Que esforços seu governo terá em mente para atenuar problemas ambientais nos mares e evitar a extinção de espécies importantes comercialmente?

9. Em uma democracia, decisões justas precisam ser embasadas por dados científicos. Como a ciência informaria os processos de regulamentação e de tomada de decisão em seu governo? Você daria liberdade e ouvidos para pesquisadores universitários e agências federais como a Anvisa, sem pressão política?

10. Grupos de interesse organizados na sociedade, seja por razões ideológicas ou econômicas, rotineiramente buscam influenciar a formulação de políticas públicas. Em vários setores - por exemplo, política agrícola, climática, de saúde pública - algumas dessas influências vão na contramão da evidência científica, por exemplo, com a negação da mudança climática ou na promoção de terapias ditas "integrativas e complementares" no SUS. Como seu governo lidará com demandas e políticas que contrariam a ciência?

Esperamos que os formadores de opinião e formuladores dos planos de governo as considerem e as utilizem como uma oportunidade de elevar ao menos uma parte do debate eleitoral - aquele em torno de temas científicos - acima do nível de mero espetáculoe e que as respostas ajudem os eleitores a tomar suas decisões."

*A ideia original dessa iniciativa foi extraída do Instituto Questão de Ciência(IQC): www.iqc.org.br

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