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Estado de Minas COLUNA

A encruzilhada

'Use máscara, vacine-se, evite aglomerações e, diante da encruzilhada, siga a trilha da ciência'


20/08/2022 06:00 - atualizado 20/08/2022 07:51

Ministra Carmem Lúcia com máscara na posse do ministro Alexandre de Morais no TSE
Ministra Carmem Lúcia com máscara na posse do ministro Alexandre de Morais no TSE (foto: Antonio Augusto/Secom/TSE)

Os dados epidemiológicos dessa semana (15 a 19/8) em Belo Horizonte e Região Metropolitana, seguem mostrando a tendência de queda das semanas anteriores. Essa tendência se repete em várias regiões do Brasil e do mundo.

Agora vai! Esse é o sentimento coletivo, exausto de restrições e limites. Cansado de ter medo e camuflar-se atrás das máscaras. Mas, será que agora vai mesmo? O vírus ficou bonzinho e já podemos tratá-lo, como disse Carlos Drummond de Andrade no poema O homem, as viagens, como um "falso touro espanhol domado"?

No último final de semana, Belo Horizonte sediou o tradicional Congresso Mineiro de Infectologia e Controle de Infecções Hospitalares, com a presença de colegas de todo o Brasil. Foram discutidos os prováveis rumos da pandemia, com a participação de dezenas de brilhantes e experientes profissionais.

Atenção! O uso de máscara foi obrigatório durante todo evento.

Todos foram claros em relação às suas incertezas quanto aos rumos da pandemia.

Vamos aos dados, fatos e possibilidades.

Em BH, entre os dias 4 e 17 de agosto, tivemos uma média diária de 104 pessoas infectadas pelo COVID-19 por 100 mil habitantes, ou seja, um risco ainda alto de transmissão viral.

A velocidade de transmissão (Rt) ficou em 0,7. Portanto, manteve-se abaixo de 1, caracterizando tendência inequívoca de redução. A mortalidade média nesse mesmo período foi de 22 óbitos por milhão de habitantes e a taxa de normalidade ficou em 68%. Números ainda altos, mas bem melhores em relação aos dois anos anteriores.

Essa calmaria atual pode ser entendida como resultado da cobertura vacinal associada à imunidade conferida pela infecção natural, a qual foi ampliada com a variante Ômicron e suas sub-variantes, dotadas de capacidade de transmissão raramente vista em outras doenças infecciosas.

Essa combinação de fatores construiu uma barreira significativa à circulação viral e consequentemente reduziu as internações e óbitos pela COVID-19.

Mas, será que daqui para frente será só alegria? Infelizmente não. Um mar de incertezas ainda torna o horizonte pandêmico nebuloso.

É sabido que essa imunidade cai de forma progressiva em cerca de quatro meses, fazendo com que a população previamente vacinada, ou infectada naturalmente, volte a ficar susceptível a novas infecções, até mesmo por subvariantes da própria Ômicron.

Quem se infectou no princípio do ano pela BA. 1 da Ômicron, em junho já estava susceptível a BA.5 da própria Ômicron.

Para ampliar ainda mais a incerteza pandêmica, uma nova subvariante da Ômicron, identificada como BA. 4.6 vem se mostrando bem mais adaptada que a BA.5, devendo substitui-la em breve.

Essa nova subvariante possui a mutação R346T, previamente identificada na proteína Spike (aquela que o vírus usa para aderir e invadir nossas células), conferindo ao vírus maior transmissibilidade e capacidade de driblar o sistema imune.

Coisa típica da natureza de um vírus RNA, nenhuma surpresa: quanto mais se dissemina, mais sofre mutações e, assim, quando mais modifica suas características, mais incertas ficam as perspectivas em relação à COVID-19.

Ou seja, o bom momento atual pode não durar muito. Já vimos esse filme antes nessa pandemia. Entretanto, parece que passear na praça enquanto seu lobo não vem é uma tentação maior que a contagiosidade viral.

Mal as taxas caem, já abandonamos as máscaras e voltamos a nos aglomerar nos mais diferentes ambientes. Geralmente, as pessoas confundem a não obrigatoriedade do uso de máscaras com obrigatoriedade de não usar.

Traduzindo, o que é obvio e comprovado que protege as pessoas, não precisaria ser obrigatório. Máscaras reduzem em até sete vezes o risco de uma pessoa adquirir COVID-19. Além disso, o risco de complicações aumenta a cada reinfecção.

Comparado com a primeira infecção, uma segunda infecção tem sido associada ao dobro de risco de óbito e ao dobro do risco de problemas cardiovasculares ou pulmonares.

Ter COVID-19 nunca foi e nunca será um bom negócio. Vale consultar o artigo Outcomes of SARS-CoV-2 Reinfection, cujo link encontra-se no final do editorial*.

Merece nossa atenção uma foto da badalada posse do ministro Alexandre de Morais no TSE, onde, em auditório lotado, apenas a ministra Carmem Lúcia encontrava-se com máscara. A mineira ministra deu mais um bom exemplo de respeito a princípios epidemiológicos e científicos.

Além disso, a ministra mostrou também que tem uma boa memória. Na posse do ministro Fux na presidência do STF, com a presença dos mesmos infectantes negacionistas palacianos, ocorreu um surto histórico de COVID-19 entre os membros da corte, levando vários a internação hospitalar.

Escolher caminhos não é fácil, mas, nesse momento, vale a velha regra da prudência e canja de galinha.

Use máscara, vacine-se, evite aglomerações e diante da encruzilhada, siga a trilha da ciência.

*Outcomes of SARS-CoV-2 Reinfection Ziyad Al-Aly, Benjamin Bowe, Yan Xie VA. Posted Date: June 17th, 2022 DOI: https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-1749502/v1

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