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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Os pecados capitais e a pandemia

Missa de Domingo é sempre lotada de gente pedindo perdão pelos pecados da semana, os quais invariavelmente se repetirão nas semanas seguintes


(foto: Pixabay/Reprodução)
(foto: Pixabay/Reprodução)
A religião me foi apresentada pela minha mãe. Católica fervorosa, me levava à missa invariavelmente todos os finais de semana. É bem verdade que meu comportamento na igreja não era dos mais louváveis. Como não existiam celulares, iPads, fones de ouvido e outros subterfúgios modernos que usamos para entorpecer nossos filhos em restaurantes, a saída era levar o brinquedo da época. O peão não deu muito certo. Fazia barulho e precisava de espaço. Missa de Domingo é sempre lotada de gente pedindo perdão pelos pecados da semana, os quais invariavelmente se repetirão nas semanas seguintes.
O revólver foi uma solução não muito apropriada ao local, mas a que me deixou mais controlável. Passava boa parte da missa matando os Santos. A cada Santo morto eu contava para a minha mãe:

- Mãe, matei São Sebastião.

Para todos, ela tinha uma indulgência.

-Meu filho, este é seu Santo padroeiro! Não pode!

Além disso, ele já está todo flechado. Nunca mais matei São Sebastião. Não valia a pena, ele já iria morrer mesmo.

- Mas, e Santo Antônio, pode?

- Claro que não! Quer ficar solteiro o resto da vida?!

Como eu não sabia bem o que era isso. Matei Santo Antônio diversas vezes. O efeito foi exatamente o oposto...

De vez em quando eu matava o padre. Até que um dia, Padre Agostinho, um alemão de sotaque marcante, me retribuiu o tiro. Tive que encenar uma queda de índio em filme do John Wayne. Acharam que eu estivesse tendo um ataque epiléptico. Foi um escândalo. Nunca mais pude levar meu revolver para a igreja. 

Minha mãe dava beliscões fininhos que doíam muito. Nesse dia levei vários! Assim, aprendi em um único dia o significado do não matarás e principalmente, do não morrerás!

Na semana Santa sempre fui um dos apóstolos na cerimonia do lava-pés. Me vinguei do tiro levado do padre. Fiquei vários dias antes usando meu terrível sapato de borracha. O chulé impregnava no pé de tal maneira, que não saia nem com ladainha de quaresma.

Para quem não sabe, nesta cerimonia o padre tem que simular um beijo no pé do apóstolo. Padre Agostinho olhou para mim, com a certeza de que a vingança havia chegado.

- Menino, você deve ser Judas! Com este chulé, nem Cristo lavaria o seu pé!

Mais uma vez, senti a virulência dos beliscões fininhos.

Apesar destes pequenos percalços, acabei me interessando profundamente por temas religiosos e todos os rituais que envolvem os diferentes cultos nas mais diversas crenças. Os símbolos, particularmente, sempre me fascinaram.

Nessa pandemia, ao ver o comportamento humano em diferentes cenários, salta aos olhos os Sete Pecados Capitais.

Os sete pecados capitais são uma classificação de condições  humanas que correspondem a vícios, os quais precedem o surgimento do cristianismo, mas que foram usadas pelo catolicismo com o intuito de educar os seguidores, de forma a compreender e controlar os instintos básicos e assim, aproximarem-se de Deus.

Curiosamente, a lista final foi apresentada no século XIII, em plena epidemia de Peste, numa condição desesperadora semelhante a que estamos vivendo atualmente.

Desta forma, para fazer frente as adversidades epidêmicas, é fundamental termos protocolos que balizem o comportamento humano e permita a saída deste momento com menos dano pessoal e coletivo.

A Gula, certamente foi um dos pecados mais cometidos nessa pandemia. A angustia e as incertezas fizeram da geladeira e do fogão, grandes aliados. O desejo insaciável por comida e bebida certamente levaram os botões da camisa e das calças a fazerem distanciamento social, fora de suas respectivas casas.

A temperança é a virtude oposta. Porém, muita gente entendeu errado e carregou a mão no tempero, aumentando a clientela dos colegas proctologistas.

A Avareza, ou Ganância, desfilou de forma travestida de lei da oferta e procura. Sumiram as máscaras e os insumos para produção dos testes diagnósticos necessários ao manejo adequado da epidemia.

Surgiram testes rápidos nas farmácias de Norte a Sul, juntamente com o mantra testar, testar, testar. Mais uma armadilha da ganância. Os testes, em sua maioria não testavam nada, mas enganavam os aflitos que, sedentos de um IGG positivo, se contentavam com um enganador IGM.  A avareza levou muitas almas deste planeta, que ao se julgarem imunes, se expuseram e caíram nas garras do Corona.

Por outro lado, o que não faltou foi a virtude oposta, a generosidade. Surgiram doadores de tudo. Banqueiros filantropos, traficantes solidários, políticos honestos distribuindo cloroquina e propondo tratamentos retais espetaculares. Como cavalo dado não se olha os dentes, tudo foi bem vindo e pandêmicamente justificado e perdoado.

A Luxúria, se fez presente como nunca em lives pornográficas, por vezes, envolvendo crianças, presas fáceis expostas ás tentações da internet. Apesar de combatida de forma severa pela Polícia Federal, ainda temos um longo caminho pela frente.

A Castidade, virtude oposta, encontra-se de quarentena no continente gelado, incomunicável.

Já a Ira, deu um espetáculo no gabinete do ódio. Não faltaram fakenews e agressões a quem fosse contra os desejos messiânicos do planalto. Até o STJ foi iluminado com chuva de fogos de artifício. Posteriormente, foi infectado por um super-spreader(disseminador viral de elite), o qual infectou quase metade da corte suprema.

Paciência foi o que muita gente teve que exercitar com o vizinhos  fazendo obra no apartamento ao lado. Virtude testada ao extremo com os negativistas que insistem em propor tratamentos fakes. A paciência foi aos poucos se transformando novamente em Ira ao perceberem que o vírus não veio passar férias. Gostou do poso e desembarcou de mala e cuia.

A Inveja, por sua vez, apresentou-se através do desejo insano por protagonismo. Quantos milhares de vídeos de WhatsApp surgiram com ilustres especialistas em coisa nenhuma, mas experts em COVID.
 
Neuro-epidemiologistas, ultrassonografistas especialistas em coronavírus. Todos falando com sapiência de quem, por décadas, lida com doenças infecciosas virais inusitadas, sem jamais terem atendido pacientes com COVID 19, ou publicado sobre o assunto.

Somente por caridade, e bondade divina, estes indivíduos escaparão das garras do cão.

A preguiça dominou milhares de ambientes domésticos, tendo sido motivo de muita separação de casais. Lavar as louças na pia virou um cabo de batalha, assim como, fazer o dever de casa com as crianças. A preguiça alimenta o home–office, que por sua vez, alimenta a preguiça, que se escora num fator de risco, que jamais foi motivo para um controle médico sério antes da pandemia. Ou seja, a epidemia serviu como uma tábua de salvação para preguiçosos crônicos. Agora, todos  tem uma boa justificativa: - o vírus!

Logo ele, que de forma diligente viajou o planeta inteiro em poucos meses, serve de amparo aos preguiçosos do mundo.
Por fim, a Soberba, irmã siamesa da arrogância e da vaidade. A soberba esteve presente o tempo todo na negação dos mortos que se amontoaram em covas coletivas. Foi ela que fez Lúcifer se sentir mais alto que o próprio Deus.

Curioso, foi em nome de Deus que alguém se elegeu presidente...

O antidoto para a arrogância e a vaidade é a humildade. Estamos aprendendo com o ineditismo do desconhecido a enxergar a nós mesmos...nossos sentimentos, imperfeições e visão estreita do mundo.

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