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Estado de Minas PADECENDO

Não canse minha beleza!

Eu quero é ter paz para ser do jeito que eu sou e viver as transformações que a idade me proporciona, sem querer voltar no tempo


09/01/2022 04:00 - atualizado 09/01/2022 08:08

imagem de uma mulher meditando
Mulher meditando (foto: Depositphotos)

Aos 12 anos, eu queria ganhar peso e ter peito para usar sutiã.

Aos 13, eu queria ganhar peso, ter peitos e ser mais alta que a geladeira da minha casa.

Aos 14 anos, eu queria ganhar peso, ter peitos maiores, fazer plástica pra diminuir o tamanho do nariz e ter cabelos menos lisos.

Aos 15 anos, eu estava maior que a geladeira e tomei remédio para engordar e passei dos 42 para os 50 quilos. Fiz permanente para anelar o cabelo. Ainda queria mais peito e menos nariz. Tinha crise de ansiedade, roía as unhas, tinha insônia.

Aos 16, eu cortei o cabelo curto para tirar o anelado do permanente. Ainda estava insatisfeita com o tamanho dos seios, com o tamanho do nariz e com o peso que ainda era pouco para quem já era mais alta que a geladeira. Fiquei depressiva e cada vez mais insegura.

Eu ouvia o que as pessoas diziam e queria atender às expectativas externas.

Aos 18, deixei o cabelo comprido e pintei de preto, porque o meu castanho era muito sem graça.

Aos 20 anos, eu fazia musculação todos os dias para ter o corpo perfeito, ganhar massa, acabar com as celulites que só eu via.

Aos 23, cortei o cabelo bem curtinho e pintei de vermelho.

Aos 25, fiz tratamento para amenizar as estrias e só usava sutiã com enchimento.

Aos 30, coloquei aparelho para corrigir a posição dos dentes.

Aos 33, engravidei, ganhei 18 quilos e tive um bebê saudável. Meus peitos pequenos cresceram bastante, produziam muito leite e pude amamentar por mais de um ano. Entendi que a estética não importava. Nunca mais pensei em colocar silicone.

Aos 38, fiz preenchimento de olheiras, elas sempre foram muito marcadas, mas depois que a gente tem filho, a cara de cansada grita!

Aos 40, fiz preenchimento das maçãs do rosto porque o lado esquerdo estava mais flácido que o lado direito.

Aos 44, tive câncer de mama, me preparei para fazer quimioterapia, para ficar careca, para fazer mastectomia bilateral e reconstrução das mamas. Não precisei de nada disso, foi só quadrantectomia, radioterapia e quimioterapia oral (tamoxifeno) para tumor receptor hormonal.

Aos 45, eu estava cansada de querer consertar o que não estava estragado.

Chegando aos 47, há dois anos e meio sem menstruar e tomando remédios, sinto meu corpo diferente. A pele mais flácida. As articulações doloridas. Os ossos menos densos.

As cobranças não param. Alguém sempre faz questão de me dizer para fazer musculação. Que isso, que aquilo. O cabelo está ficando branco, e eu não vou pintar. E tem sempre alguém para dizer que cabelo branco é horrível e envelhece. Não é o cabelo que envelhece, é todo o conjunto da obra.

Reencontrando amigos depois de dois anos de isolamento por causa da pandemia, observei a cobrança em cima das mulheres pela beleza e pela juventude. Enquanto os homens da minha idade estão carecas, grisalhos, barrigudinhos e está tudo bem. As mulheres estão preocupadas com as gordurinhas, com as rugas. Parece que mulher nasce cheia de defeitos a serem corrigidos enquanto os homens nascem prontos, perfeitos.

Não cansa minha beleza! Quem quiser viver sendo cobrada que lute. Eu quero é ter paz para ser do jeito que eu sou e viver as transformações que a idade me proporciona sem querer voltar no tempo. Meu tempo é agora.

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