
Aos 12 anos, eu queria ganhar peso e ter peito para usar sutiã.
Aos 13, eu queria ganhar peso, ter peitos e ser mais alta que a geladeira da minha casa.
Aos 14 anos, eu queria ganhar peso, ter peitos maiores, fazer plástica pra diminuir o tamanho do nariz e ter cabelos menos lisos.
Aos 15 anos, eu estava maior que a geladeira e tomei remédio para engordar e passei dos 42 para os 50 quilos. Fiz permanente para anelar o cabelo. Ainda queria mais peito e menos nariz. Tinha crise de ansiedade, roía as unhas, tinha insônia.
Aos 16, eu cortei o cabelo curto para tirar o anelado do permanente. Ainda estava insatisfeita com o tamanho dos seios, com o tamanho do nariz e com o peso que ainda era pouco para quem já era mais alta que a geladeira. Fiquei depressiva e cada vez mais insegura.
Eu ouvia o que as pessoas diziam e queria atender às expectativas externas.
Aos 18, deixei o cabelo comprido e pintei de preto, porque o meu castanho era muito sem graça.
Aos 20 anos, eu fazia musculação todos os dias para ter o corpo perfeito, ganhar massa, acabar com as celulites que só eu via.
Aos 23, cortei o cabelo bem curtinho e pintei de vermelho.
Aos 25, fiz tratamento para amenizar as estrias e só usava sutiã com enchimento.
Aos 30, coloquei aparelho para corrigir a posição dos dentes.
Aos 33, engravidei, ganhei 18 quilos e tive um bebê saudável. Meus peitos pequenos cresceram bastante, produziam muito leite e pude amamentar por mais de um ano. Entendi que a estética não importava. Nunca mais pensei em colocar silicone.
Aos 38, fiz preenchimento de olheiras, elas sempre foram muito marcadas, mas depois que a gente tem filho, a cara de cansada grita!
Aos 40, fiz preenchimento das maçãs do rosto porque o lado esquerdo estava mais flácido que o lado direito.
Aos 44, tive câncer de mama, me preparei para fazer quimioterapia, para ficar careca, para fazer mastectomia bilateral e reconstrução das mamas. Não precisei de nada disso, foi só quadrantectomia, radioterapia e quimioterapia oral (tamoxifeno) para tumor receptor hormonal.
Aos 45, eu estava cansada de querer consertar o que não estava estragado.
Chegando aos 47, há dois anos e meio sem menstruar e tomando remédios, sinto meu corpo diferente. A pele mais flácida. As articulações doloridas. Os ossos menos densos.
As cobranças não param. Alguém sempre faz questão de me dizer para fazer musculação. Que isso, que aquilo. O cabelo está ficando branco, e eu não vou pintar. E tem sempre alguém para dizer que cabelo branco é horrível e envelhece. Não é o cabelo que envelhece, é todo o conjunto da obra.
Reencontrando amigos depois de dois anos de isolamento por causa da pandemia, observei a cobrança em cima das mulheres pela beleza e pela juventude. Enquanto os homens da minha idade estão carecas, grisalhos, barrigudinhos e está tudo bem. As mulheres estão preocupadas com as gordurinhas, com as rugas. Parece que mulher nasce cheia de defeitos a serem corrigidos enquanto os homens nascem prontos, perfeitos.
Não cansa minha beleza! Quem quiser viver sendo cobrada que lute. Eu quero é ter paz para ser do jeito que eu sou e viver as transformações que a idade me proporciona sem querer voltar no tempo. Meu tempo é agora.
Continue lendo os seus conteúdos favoritos.
Assine o Estado de Minas.

Estado de Minas
de R$ 9,90 por apenas
R$ 1,90
nos 2 primeiros meses
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Estado de Minas.
Leia 0 comentários
ENTRAR
E-MAIL/MATRICULA