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Estado de Minas padecendo

Crianças: vidas roubadas

A criança sente a dor e permanece em silêncio. O medo emudece. O comportamento muda. O corpo fala. Treme. Chora. Vomita. Ninguém escuta


18/04/2021 04:00 - atualizado 15/04/2021 11:09

(foto: Depositphotos)
(foto: Depositphotos)

Nem toda mulher nasceu para ser mãe, nem todo homem está preparado para ser pai. A crença de que a maternidade é uma dádiva divina, de que um casal só será feliz se tiver filhos acaba levando crianças a morrerem nas mãos de quem deveria cuidar delas.

Quando penso na morte do Henry, em toda a violência que ele sofreu, mal posso respirar. Penso no garoto indefeso, trancado no quarto com um homem adulto, sendo agredido, e ninguém fez nada. Quantas crianças passam por isso todos os dias? Quantas crianças são violentadas durante anos, e ninguém faz nada?
A sociedade cala, a violência grita.

A criança sente a dor e permanece em silêncio. O medo emudece. O comportamento muda. O corpo fala. Treme. Chora. Vomita. Ninguém escuta.

A sociedade que hoje se choca com as torturas sofridas por Henry, ontem aplaudia quem apoia torturador. O homem que se elegeu falando em Deus, pátria e família está preso pela morte do próprio enteado. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. A mãe? Não, não dá para chamar de mãe.

Isabela Nardoni, Bernardo Boldrini, e agora Henry Borel. Vidas roubadas. Vítimas da violência doméstica. Quantas crianças hoje sofrem maus-tratos sem a gente saber?

O abuso dentro de casa, o ambiente que deveria ser seguro.

Ter filhos é fácil, mas criar filhos é uma tarefa dificílima. Nem todo mundo tem condições de fazê-lo. Não condições financeiras, mas de amor incondicional. Conseguir se doar sem exigir nada em troca. Criança não é um robô programado para obedecer, para ser do jeito que o adulto quer. Criança é uma pessoa. Preciso repetir o óbvio: criança é uma pessoa!

Como parte da sociedade, cada um de nós é responsável. Mariana Tavares, advogada, minha amiga, fez uma reflexão que preciso compartilhar com vocês:

“A sociedade que hoje assiste, com razão, horrorizada ao caso do menino Henry. é a mesma que diria 'mas criança não tem que querer nada' quando visse o menino dando escândalo para não voltar para casa.

É também a mesma sociedade que apontaria o dedo na cara do pai 'criança tem que ficar com a mãe', se ele entrasse na Justiça pela guarda integral do Henry.

É a sociedade que fala 'deixa chorar, uma hora ele passa a dormir a noite toda, na sua cama que não pode ficar' em resposta às sucessivas vezes que o garoto acordava à noite indo atrás do colo da mãe.

É a sociedade em que as pessoas são ovacionadas quando falam 'mas eu apanhei de cinta a infância inteira e não morri.

É, em suma, a sociedade que acha correto esmagar os desejos e manifestações de crianças 'porque senão fica mimado'. E acha correto vê-las como propriedades de adultos, pequenas posses que podem ser usadas ao bel prazer dos pais, sem direito a serem ouvidas, respeitadas, compreendidas, acolhidas, pois 'se você não mostrar como a vida é difícil, seu filho vai virar aquela pessoa que não aguenta ouvir ‘não’ do chefe'.

A sociedade que hoje chora a morte de uma criança, o faz por compreender que ela não era inevitável – Henry só precisava ter sido ouvido, ele só precisava ter sido tratado como ser humano digno de direitos para seu destino ter sido completamente diferente.

Mude seu olhar sobre as crianças. Para o Henry, já é tarde. Para muitas outras, ainda há tempo.”

A morte do Henry é mais uma derrota da nossa sociedade. Aprendemos a ser omissos. Deixamos crianças expostas. Normalizamos a violência contra a criança.

Mude seu olhar para as crianças. Mude seu olhar para a maternidade, para a paternidade. Entenda que nem todo mundo deve ter filhos. Só tenha filhos se for capaz de respeitar o ser humano que ele é. Só tenha filhos se for capaz de renunciar a quem você é, renunciar à vida que você tem. Filho muda tudo.

Escute as crianças!

Denuncie ao ministério Público, ao Conselho Tutelar, à Polícia Civil e Militar, ao Ministério Público. Ou use o Disque Denúncia Disque 100 (Nacional), 181 (Estadual), 156 (Municipal).

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