(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Brasil S/A

O fim de uma era de líderes que nada constroem

Depois das chineladas do eleitor no pleito, prenuncia-se um tempo de respeito à prioridade social


10/01/2021 04:00 - atualizado 10/01/2021 08:20

Líderes como Trump dedicam-se a si e a seu entorno, filhos e corriola(foto: Afp/Jim Watson)
Líderes como Trump dedicam-se a si e a seu entorno, filhos e corriola (foto: Afp/Jim Watson)

O dia da infâmia, como tem sido chamada a invasão do Congresso dos EUA por apoiadores de Donald Trump, foi a representação dramática e repulsiva do fim de uma era. 

Não de um presidente vil, narcisista, mitômano compulsivo, mas de um tempo em que o eleitor, sentindo-se preterido pela inteligência do país, elege o pior entre as opções eleitorais mais como resposta desaforada que um voto consciente.

É fim porque líderes como Trump nada constroem, dedicam-se a si e a seu entorno, filhos e corriola, e a “causar”, o modo padrão dessa turma de ocupar o espaço discursivo.

Em países com opinião pública e instituições atuantes, eles têm maior dificuldade de seguirem. Trump não passou, embora tenha tido 74 milhões de votos, contra 81 milhões do desafiante Joe Biden, do Partido Democrata.

Os que conseguem ultrapassar o primeiro mandato, seja por escolha do eleitor, seja pela cúpula do partido dominante, despem-se de pudores e revelam a face autocrática, como Chaves, na Venezuela, Putin, na Rússia, Xi Jinping, na China, e, talvez, Jair Bolsonaro, admirador confesso de Trump e único governante de um grande país a comprar o desvario trumpista de que a eleição tenha sido fraudada.

Isso passou, enquanto fica evidente em países como Rússia, Hungria e Polônia a natureza ditatorial do regime, disfarçada por eleições regulares. Mesmo na China, onde não há eleições, mas acabou a regra de dois mandatos sem direito à recondução para ungidos pelo Partido Comunista. Xi poderá presidir a China até quando quiser.

Para Biden, depois da chinelada do eleitor ao eleger Trump e quase reelegê-lo, o grande desafio será provar a capacidade da democracia liberal em atender aos reclamos por justiça social e mostrar que a eficiência produtiva é possível e mais equânime em regimes abertos.

Se governante populista e mandão em democracias consolidadas busca legitimar-se pelo resultado da economia e demagogia nacionalista, o caso de Narendra Modi, na Índia, Biden terá de curvar-se à vontade do voto, que reconhece quem lhe serve com lisura, como a premiê da Alemanha, Angela Merkel, há 15 anos eleita sucessivamente e maior liderança da União Europeia.

Mais que mudança de guarda


O que Biden fizer terá um pouco do que Trump prometeu e não fez à classe média depauperada dos EUA. Também terá de ir além do social liberalismo da Alemanha – o mais bem-sucedido entre os regimes de bem-estar da Europa –, além de tentar superar a China tanto no rally tecnológico, quanto na disputa militar e geopolítica.

Não se trata, como aparenta a embalagem dos conflitos políticos e sociais, de simples mudança de guarda entre governantes. É certo que a democracia – a verdadeira democracia multirracial – pode e deve triunfar. Mas só o fará por meio de reformas estruturais e equitativas das instituições e dos resultados econômicos.

Isso não se resolve com programas tecnocráticos nem com a ilusão de que a “mão invisível” do mercado satisfará todas as demandas.

O fenômeno é antigo, bastante estudado e está na raiz do “novo” conservadorismo que ganha força no Partido Republico e que quer expelir Trump (por ter ignorado as promessas populistas com que se elegeu) e os libertários do neoliberalismo que vieram com ele.

Conservador e progressista?


A corrente republicana que disputa com Trump e a velha guarda do partido, gente do Lincoln Project, que apoiou a eleição de Biden, e do American Compass, think tank de intelectuais conservadores, tem posições ousadas. Seu programa é muito mais próximo ao que defende a senadora Elizabeth Warren, expoente da esquerda dos Democratas, e mesmo de Bernie Sanders que de políticos e economistas neoliberais.

Eles dizem que é tempo de ser enterrado o reaganismo (referindo-se a Ronald Reagan, em cujo governo a desregulamentação da economia e o poder financeiro tornaram-se dominantes, assim como na Inglaterra de Margareth Thatcher) e recuperar o keynesianismo do pós-guerra, com política industrial e atenção prioritária ao emprego e salário.

Opõem-se à esquerda porque tem a família e a comunidade (mas não a religião) como pivôs do que propõem, mas não são retrógrados quanto aos costumes. Nem reacionários, como o trumpismo e o bolsonarismo.

Tal grupo tem nos senadores republicanos Mitt Romney e Marco Rubio seus líderes no Congresso. Eles podem dar a Biden os votos que ele ainda precisa para aprovar reformas amplas, embora tenha alcançado a maioria no Senado, contando com a vice-presidente Kamala Harris (nos EUA, o vice-presidente exerce também a direção do Senado).

O atraso não é destino



A reação dos indicadores de mercado e do empresariado dos EUA ao que tende a ser o governo Biden é de alívio, na expectativa de que se restaure rapidamente a previsibilidade que faltava a Trump e o anúncio de mais medidas de gasto orçamentário tanto sob a forma de auxílios diretos aos trabalhadores carentes quanto a grandes obras de infraestrutura e de apoio à pesquisa tecnológica.

Já está precificado um aumento de impostos sobre empresas e mais ricos. Não se descarta um olhar social ao estilo New Deal. Janet Yellen, secretária do Tesouro indicada, é especialista em trabalho, embora tenha sido presidente do Federal Reserve. Se derem atenção à produção e ao emprego, precisarão de outra macroeconomia e ter como pivôs a pesquisa e desenvolvimento, a indústria e os serviços, além da economia criativa. Dificilmente não influenciará outros países.

É onde entramos na história. Ou não. Bolsonaro desconhece tudo, o ministro Paulo Guedes não fala tal língua (mesmo tendo lido Keynes em inglês três vezes, como disse) e os militares no governo parecem mais atentos às vantagens corporativas que ao país. O que fazer?

Não muito, mas já considerar plano, programa e perfil de candidato viável para 2022, esperar que o Congresso não vire um puxadinho do governo e rezar para que a vacinação em massa aconteça a despeito dos falsos magos da logística da saúde. Atraso não é destino.



*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)