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Estado de Minas COLUNA DA ANNA MARINA

Minha coluna sã, à base de coletes e cimento

Passei a noite em claro, pensando na proposta de cura e, já de madrugada, acreditei que o médico tinha experiência para cumprir o que me prometia


01/11/2022 04:00 - atualizado 01/11/2022 09:42

Ilustração mostra pessoa de costas, com pontilhado verde sobre a coluna vertebral. Ao lado um saco de cimento e seta apontando para a coluna


Ninguém consegue imaginar que uma queda aparentemente simples pode modificar totalmente a vida de uma pessoa. Sempre pensamos que o que manda em nosso corpo é a cabeça, que processa e influencia tudo – de nosso comportamento até o movimento do corpo. 

Aprendi que uma coluna torácica quebrada pode modificar nossa vida por completo. No começo, estava tudo aparentemente normal, a fratura poderia voltar ao seu papel com cuidado, cama e pouco movimento.

O primeiro susto foi a obrigatoriedade de usar coletes para manter o corpo imóvel. Tive o maior espanto ao ser apresentada aos tais coletes – de seu formato aos preços. A única comodidade é que eles podem ser levados pelos vendedores à sua casa ou ao hospital. Alguns modelos, recomendados para a fratura, parecem armadura, feita em um tipo de plástico que parece metal e elástico. 

O incômodo que seu uso provoca era tão grande que dava vontade de ficar com a vértebra quebrada. O preço não era nada convidativo: todos eles acima de R$ 1,5 mil e conforme o vendedor podiam chegar a R$ 2 mil. E sem seu uso, o conserto da vértebra, para não entrar na medula, era impossível.

Com uma dor que não terminava, sem poder fazer nada sozinha, fui experimentando e comprando coletes para ver o que incomodava menos. Um deles tem, na frente, uma barra de metal para firmar bem a peça, cuja parte mais importante fica nas costas. O mais cômodo, para falar pouco, está comigo até hoje. A mulher de um dos meus médicos, que é médica também, usou o colete dia e noite, dormia com ele. O que é um terror de conformação. Contou que era uma noite sem fim, acordando a qualquer movimento, mas queria ficar com a coluna curada rapidamente.

O tal colete é a prova de paciência e de conformação mais evidente que pode existir. A prova de que a queda não foi uma brincadeira, ou você se submete ao suplício do tratamento ou paga um duro preço. Concordei em usar o colete quando estava em pé ou sentada. Mas, para dormir, achei que era um suplício que não merecia. 

Para disfarçar minha rebeldia, usava algumas vezes um colete de barbatanas e elástico, emprestado pela mãe de um colega, que serve para firmar aquela postura errada que temos, de não manter as costas muito retas.

O certo é que com colete ou sem colete, os dias foram passando, a dor ficando e os médicos recomendando com constância a radiografia da coluna para conferir o que acontecia. E era sempre nada, a cada vez que ia tirar a radiografia, acreditava que estava abençoada, que ia me livrar de tudo e assumir minha vida. Só que nada mudava – a não ser minha cabeça que entrou em pane total.

A fome sumiu, eu não comia nada – cheguei a emagrecer 12kg e para hidratar tinha que tomar soro na veia, uns sete pacotinhos de cada vez, dia e noite, sem parar. E isso em um braço só, o esquerdo, porque o tratamento que fiz na Itália, ligando os dois sistemas venosos, no braço direito, proíbe qualquer tipo de injeção. Internei-me não sei quantas vezes no Mater Dei e o número de injeções na veia deixou meu braço esquerdo completamente roxo. Sem área livre, não foram poucas as injeções comuns dadas no pé.

Ao longo de tantas idas e vindas, acenaram com uma última opção para acabar com o risco de o fino material da coluna, cujo nome não consigo guardar, entrar na medula, provocando não sei mais que problema – só que mais sério.

A opção me deixou louca: o cirurgião abriria minhas costas com um corte mínimo e faria a aplicação de cimento para impedir que a vértebra, entortada com a queda, entrasse na medula. 

O médico veio me explicar o procedimento: ele passaria uma peça, do tamanho de agulha grossa, da vértebra quebrada até outra, sã, e preencheria o espaço com o tal do cimento. Reagi como alucinada, dias e dias presa na cama, e me recusei a ser operada. 

O doutor Rafael Gonçalves Duarte disse que só podia me operar na manhã seguinte, porque iria se encontrar com o irmão em Londres.

Passei a noite em claro, pensando na proposta de cura e, já de madrugada, acreditei que Rafael Duarte tinha experiência para cumprir o que me prometia: uma coluna sã. 

No dia seguinte, madrugada ainda, comecei a movimentar todos para que a operação fosse realizada. E como o médico já estava com seu dia programado, só pode me operar à tarde. Assim foi feito, sem o menor problema, sem dor. Como estava internada no hospital, ele recomendou... o uso de colete até a cicatrização da operação. Assim foi feito e atualmente tenho uma “linha” de cimento firmando e dando garantia a minha coluna.

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