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Estado de Minas entrevista/Valéria Lemos - 49 anos, Empresária/Estilista

25 anos de bom gosto e elegância

Grife mineira mostra que criatividade é essencial para superar qualquer crise


26/07/2020 04:00

(foto: arquivo pessoal)
(foto: arquivo pessoal)
Pode-se dizer que Valéria Lemos era a exceção em sua família. Cresceu rodeada por advogados e médicos, mas ela era completamente fora da caixa, e herdou da única tia artista toda a veia criativa. Corajosa e decidida, enfrentou a pressão familiar e quebrou paradigmas. Apesar de querer fazer jornalismo, acabou se formando em publicidade, mas durante a faculdade percebeu que seu lugar era na moda. Fez estilo na UFMG e recém-formada abriu sua marca Essenciale, que comemora em outubro 25 anos de elegância, qualidade e bom gosto.
 
Como foi sua infância?
Nasci em Belo Horizonte. Meus pais, Tereza e Dácio Lemos sempre estiveram muito presentes, nossa família é muito unida e não abrimos mão do almoço de domingo com todos reunidos à mesa. Sou a filha caçula de três irmãos, cinco anos mais nova que Cláudia e Marcelo. Amo estar em família. Quando criança eu era um pouco tímida, mas sempre gostei muito de esportes. Adorava jogar peteca e fazia parte do grupo de ginástica olímpica do colégio onde estudava. Era uma boa aluna, mas não era superestudiosa. Prestava atenção nas aulas, mas em casa eu gostava de fazer outras coisas como ler, desenhar, brincar.

Você se casou cedo, não é?
Meu primeiro casamento foi aos 23 anos, e fiquei casada por sete anos, e tive um filho, o Felipe que tem 19 anos e está cursando medicina, seguiu os passos da nossa família que sempre foi de médicos e advogados. Nos separamos e casei novamente. Hoje, estou há 18 anos no meu atual casamento com o Eduardo Machado. Ele é administrador e trabalha com comércio exterior.
 

"Acho que a principal mudança nesse momento será a forma de consumir. Acredito que as clientes serão mais exigentes, vão consumir menos e melhor"

 

O que gosta de fazer como lazer?
O que mais amo fazer é viajar e ficar com minha família. E agora, nesse período de isolamento social, estou sentindo muita falta de tudo isso. Acredito ser essencial pra quem trabalha com criação. Viajar alimenta a alma, me inspira, me relaxa.

De onde veio então este seu lado criativo?
Acredito que herdei de uma tia, irmã da minha mãe. Ela era artista plástica, pintava quadros, fazia pintura em porcelana, escrevia poesia. Adorava filosofar. Se tem lado criativo na família, foi dessa tia. Quando éramos pequenos, nossa mãe nos levava uma vez por semana na casa dela para termos aula de artes. Ela ensinava até a tocar acordeon. Tinha uma vibe completamente diferente de toda a família, era toda zen, compunha música. Tivemos uma infância com um pouco de influência dela, porque nossa mãe achava importante para nossa educação recebermos este conteúdo artístico. Ela até expunha seus quadros na Feira Hippie.

Quando percebeu que gostava de moda?
Sempre adorei fazer minhas roupas. Quanto eu tinha uns nove anos, não existia boutique na cidade, tínhamos uma costureira que ia em casa, pagávamos a diária, isso era muito comum. Ela fazia o molde e costurava. Quando ela chegava eu que inventava os modelos para minha mãe, minha irmã e para mim. Tirava tudo da minha cabeça, fiz assim dos 9 anos aos 15 anos de idade. Minha avó materna também costurava – apenar de não ser uma costureira profissional –, tinha caixa com molde, fita métrica, e eu mexia muito neste material. Quando tinha 15 anos começaram a surgir as lojas, a Savassi aconteceu. Enfim, sempre tive essa criatividade. Mais tarde comecei a comprar revistas de moda.

E foi cursar moda?
Minha mãe sempre dizia para fazer direito ou medicina, cheguei a pensar em direito, mas vi que era árido demais para mim. Queria jornalismo, mas acabei fazendo publicidade. Entrei muito nova na faculdade, com 17 anos. Mesmo antes de formar comecei a mexer com moda, ajudando uma amiga que tinha uma butique. Na época estava na moda roupas de Bali. Uma outra amiga foi lá e trouxe muitos tecidos para mim e fiz várias roupas com estes tecidos, calças, saias, blusas, e também patchwork. Formei muito nova  e comecei a mexer com comércio e mod e decidi fazer o curso de estilismo na UFMG. Moda sempre esteve na minha vida, nas minhas atitudes e no meu jeito de ser. Então sou formada em Moda e Publicidade pela UFMG.

Abriu sua marca assim que se formou?
Isso. Comecei a trabalhar com moda há 25 anos. Nessa época as opções de venda eram muito restritas. Sempre apreciei um produto bem-feito e feminino, com a minha cara. E vi que minhas amigas gostavam do meu estilo, da minha forma de vestir. Então percebi que eu poderia oferecer a elas esse tipo de ajuda. A partir daí tudo foi acontecendo. Abri minha própria loja, a Essenciale, primeiro fazendo roupas sob medida e com uma minicoleção. O nome foi escolhido por mim e pela minha irmã, que era minha sócia na época. Falei com ela que queria um nome inspirador, que seria lembrado pelas clientes, algo essencial! Aí veio a palavra Essenciale. Quando comecei, fazia uma roupa casual voltada para malharia, bem confortável. À medida que fui conseguindo mão de obra especializada, comecei a fazer camisas com corte alfaiataria, vestidos e hoje trabalhamos com um pouco de tudo. A Essenciale é uma marca superfeminina, elegante e versátil. Sempre foi conhecida como uma moda atemporal, de excelente qualidade e durabilidade.

Por que suas camisas se destacaram?
Acredito que por eu sempre fazer uma camisaria diferenciada, com muitos recortes, patchwork de tecidos e misturas inusitadas. Isso sempre fez parte do nosso DNA. Posteriormente, comecei a fazer camisas de seda pura e algodão egípcio, que foram os produtos mais vendidos durante muito tempo.
Mudou muito neste caminho?
Mudei um pouco, mas priorizando sempre a excelência no que faço. Busquei tudo o que podia para fazer bem a parte de camisaria, e aos poucos fui inserindo a expertise em vestidos, na alfaiataria e nos vestidos de festa e sob medida.

Você sempre foi a responsável pelo estilo?
Sempre fui a coordenadora de estilo da marca. Tudo sempre passou pelo meu aval. Com o tempo, a demanda foi crescendo e comecei a trabalhar com uma equipe de estilo. Fui me ajustando, testando e hoje trabalho com uma estilista, a Brenda Marcelino. Somos muito alinhadas, brinco que ela é minha filha da moda.

Como faz o trabalho de pesquisa?
Meu trabalho de pesquisa é sempre uma busca de inspiração e desejo. Gosto de ler, de ir ao teatro e viajar. Mas principalmente ver gente, o comportamento das pessoas, cultura, o que estão consumindo e por quê. Tudo isso me inspira, me chama a atenção. Esse trabalho faz com que eu comece a me aprofundar em determinado assunto. E assim a inspiração vem de uma maneira linda, que faz sentido pra mim.

Quando abriu, imaginava que chegaria tão longe?
Quando criei a marca sabia que a Essenciale seria algo que eu faria na minha vida enquanto eu conseguisse criar, pois sempre foi minha paixão. Tanto que as roupas refletem o meu estilo de vida, minhas emoções e esses detalhes estão estampados em cada peça.

Como é chegar a 25 anos de empresa?
Chegar aos 25 anos de empresa é construir uma vida no universo da moda. Sou muito feliz e realizada, mesmo com todas as dificuldades. Não consigo me imaginar em outro universo que não seja o da criação.

Tem alguma coleção que te marcou mais?
Cada coleção tem suas peculiaridades. Criar é como se reinventar a cada seis meses. E a cada coleção me apaixono novamente com a mesma intensidade.

Como está atuando na pandemia?
Neste momento estamos nos reinventado e acima de tudo aprendendo muito. Não tem sido um período fácil, mas tenho certeza que o que estamos passando fará diferença para sairmos dessa ainda mais fortalecidos.

Como vê a moda hoje, e o que acha que vai mudar neste mercado pós-pandemia?
Acho que a principal mudança nesse momento será a forma de consumir. Acredito que as clientes serão mais exigentes, vão consumir menos e melhor. Vão valorizar um produto mais atemporal, sustentável e com matérias-primas de qualidade. Acho também que a criatividade vai ser o grande diferencial. A forma com que trabalhamos as roupas, o DNA da marca mais que nunca vai ser algo que vai nos guiar daqui pra frente.

Tinha planos para comemorar a data?
Tínhamos planos de fazer uma reforma em nossa loja física, com uma festa em comemoração a esses 25 anos de tantas memórias e conquistas. Diante da situação, vamos adiar o projeto para 2021.

Quais são os planos?
Para o futuro, quero muita saúde, trabalho e inspiração, que é o que verdadeiramente me move. 


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