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Filme Operação Camanducaia revela atrocidades que chocaram o país

Documentário que mostra o caso contra menores paulistas despejados nus na cidade mineira durante ditadura militar será exibido nesta sexta-feira


04/12/2020 04:00

Documentário Operação Camanducaia será exibido nesta sexta, às 22h30, no Curta! (foto: Solange Fernandes/Acervo pessoal)
Documentário Operação Camanducaia será exibido nesta sexta, às 22h30, no Curta! (foto: Solange Fernandes/Acervo pessoal)
A coluna passa longe desse tipo de assunto, afinal já bastam as tristezas da vida – para que prestar atenção e sofrer com outras? Mas um caso tenebroso, ocorrido em outubro de 1974, vai ser mostrado nesta sexta-feira (4), no canal Curta!. Trata-se do filme Operação Camanducaia, de Tiago Rezende de Toledo. O documentário relata a operação que, na época, chocou o país, mas ficou esquecida na ciranda de desgraças que enfrentamos todos os dias. Na época, a polícia despejou na cidade mineira, clandestinamente, crianças e adolescentes paulistas. Eram 93 crianças e adolescentes acusados de pequenos delitos, presos de maneira arbitrária pela polícia e trazidos para a bonita cidade mineira, vizinha de Monte Verde.

Foram todos despidos, espancados e jogados em um barranco perto da cidade. Apenas 41 deles apareceram na cidade na manhã seguinte, machucados, nus e esfomeados, invadindo bares e restaurantes à procura de roupas e comida. Os outros 52 jovens continuam até hoje com o paradeiro desconhecido. Ocorrida durante o período da ditadura militar, a ação gerou repercussão internacional pela cruel violação dos direitos humanos daqueles jovens. Apesar de ter sido denunciado na Justiça, o caso acabou arquivado no Tribunal de Justiça de São Paulo e segue sem punição para os envolvidos.

Na noite de 19 de outubro de 1974, policiais civis selecionaram os menores do sexo masculino, detidos em celas no 3º andar da sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais de São Paulo (DEIC). Os menores foram embarcados em dois ônibus estacionados no pátio do departamento. Um grupo de policiais fortemente armados se dividiu entre ônibus e uma caminhonete, vigiando os menores, na viagem pela rodovia Fernão Dias.

Na região de Camanducaia, a caravana de veículos estacionou no acostamento do quilômetro 170 da rodovia, próximo a uma ribanceira. Por ordem dos policiais, os menores entregaram seus documentos (que seriam posteriormente rasgados) e se despiram. Nus, foram obrigados a desembarcar dos ônibus mediante golpes de porretes e ataques de cães policiais. Ali, foram espancados por algum tempo. Após os espancamentos, o grupo de policiais dispararia suas armas ao alto, além de ameaçar alvejá-los.

Com medo, alguns menores fugiram do local, enquanto outros se jogaram da ribanceira. Pouco tempo depois, os veículos deixavam rapidamente o local rumo a São Paulo. A ideia para o filme surgiu a partir da leitura do livro Infância dos mortos, de José Louzeiro, jornalista que trabalhava na Folha de S. Paulo à época e que cobriu o acontecimento. Passeando pelos estilos road-movie, investigativo e filme de diálogo, a produção entrevistou mais de 40 pessoas – buscando os envolvidos no caso, principalmente os sobreviventes – e pesquisou em cerca de 1,5 mil páginas de documentos e jornais para reconstituir memórias, motivações e consequências da operação.

Nus, feridos e sofrendo com o frio, os menores vagaram por estradas da região, até alcançarem Camanducaia, onde causaram, inicialmente, pânico entre os moradores. Ainda durante a madrugada, o delegado de Camanducaia comunicou o caso ao secretário de Segurança Pública de Minas Gerais. Cerca de 42 menores foram detidos nos arredores da cidade mineira pela Polícia Civil do estado.

Após receberem roupas e alimentos, coletados por prostitutas da cidade mineira, os menores foram postos em um ônibus para São Paulo. Ao chegarem à capital paulista, foram conduzidos pelo delegado de Camanducaia ao Juizado de Menores. Durante análise da documentação dos menores, o juiz Artur de Oliveira Costa constatou que 10 a 15 menores não tinham cometido crimes anteriormente, sendo apenas abandonados nas ruas pelos pais.

Após a repercussão na mídia, ocorreram três pedidos de apuração do caso, solicitados pelo juiz de menores Artur de Oliveira Costa, pelo corregedor geral dos Presídios, Ricardo Laércio Talli, e pelo secretário de Segurança Pública Erasmo Dias. Por ordem do secretário de Segurança Pública, o DEIC abriu sindicância do caso, coordenada pelo delegado Rubens Liberatori. Paralelamente às investigações oficiais, a imprensa continuou apurando o caso.

A sindicância aberta pelo DEIC apresentou o escrivão José Alípio como mentor da operação, tendo contado com a participação de quatro policiais membros da patrulha bancária.

 Segundo investigações, os menores eram transportados pela Fernão Dias, quando o ônibus que os transportava teve um pneu furado, sendo obrigado a parar no acostamento. Neste momento, eles teriam se aproveitado da distração dos policiais e empreendido fuga. 

Entretanto, em 21 de novembro, ocorreu uma reviravolta no caso, quando o policial Otacílio Augusto revelou em depoimento ao juiz corregedor que a sindicância do DEIC era uma farsa para satisfazer a opinião pública e a imprensa.

O caso nunca foi a julgamento por conta da suposta interferência das autoridades, que foram respaldadas pela ditadura militar.

Em 7 de outubro de 1975, foi concedido, por unanimidade, pelas Câmaras Conjuntas Criminais do Tribunal de Justiça de São Paulo, habeas corpus ao delegado Liberatori.

O documentário Operação Camanducaia foi produzido pela Cambuí Produções e viabilizado pelo Curta! com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A estreia é na faixa Sexta da sociedade, às 22h30.

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