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Estado de Minas ENTREVISTA/FLáVIA CARVALHO - 55 ANOS, EMPRESáRIA

Sempre atual

Loja de roupas feminina, a Tahari completa 30 anos de mercado, com modernidade


postado em 17/11/2019 04:00

(foto: leandro couri/em/d. a press)
(foto: leandro couri/em/d. a press)


A empresária Flávia Carvalho recebeu influencia de seus pais e por algum tempo ficou dividida entre o comércio de moda, exemplo de sua mãe, e a arquitetura, profissão de seu pai. A necessidade de se relacionar com outras pessoas falou mais alto e decidiu abrir a Tahari, loja de moda feminina, que completa 30 anos. Sempre antenada no que há de mais novo no mundo, Flávia foi atualizando seu negócio à medida que o mundo foi mudando, sempre com uma grande paixão por seu trabalho. Durante toda essa trajetória o que mais caracteriza a empresa é a constante renovação. Começou com importados, com a desvalorização da moeda local, mudou o perfil e passou a trabalhar com a moda nacional, mudou de endereço e hoje está mais atual que tudo, com serviços delivery e presença marcante nas redes de relacionamento.
 
Qual a sua formação?
Sou arquiteta de formação, pelo Izabela Hendrix e como meu pai, Ney Carvalho, também é arquiteto, trabalhei com ele por dois anos.

E o que te levou para a moda?
Minha mãe, Marília – mas todos a conhecem por Lila –, tinha uma loja chamada Dengo, na Pampulha, em sociedade com minha tia Beatriz Barbosa. Mas minha mãe parou logo de trabalhar e eu fiquei com essa minha tia, desde os meus 17 anos. Trabalhava de manhã na loja, de tarde fazia estágio com meu pai e de noite eu estudava. Comecei a namorar o Daniel Medrado, filho da Maria Eunice Medrado Aroeira, que tinha uma loja na sua casa. Quando ela adoeceu pediu para eu ficar na loja com ela durante seu tratamento. Fiquei lá por três anos. Casei, separei, enviuvei e resolvi abrir uma loja, porque eu já estava na moda. Era uma coisa que me atraída e me dava esse relacionamento, que era uma coisa que me alimentava naquele momento.

E parou totalmente com a arquitetura?
Sim. Parei, mas a arquitetura está muito associada à moda. Gostei muito do tempo que trabalhei com meu pai, mas o que me afastou da profissão foi o isolamento. Naquela época o arquiteto não era como hoje, que além do projeto também faz a decoração. Antes, ele não participava com o cliente, ele fazia o projeto. Isso, há 32 anos. Como eu gosto muito de gente, vi que precisava experimentar esse lado da moda. Mas não sou da área de criação da moda, sou uma comerciante.
 
 

Trabalho dobrado para colher o mesmo resultado. Mesmo assim, amanheço feliz vindo trabalhar. Lógico que tudo tem um ciclo, uma hora o meu vai se fechar

 

Com tato bom gosto, porque não se arriscou na criação?
Sei comprar e vender. Sou boa nisso. Não sei fazer estilo, produzir uma roupa. Jamais. Sei fazer uma curadoria, sei fazer uma seleção e sei o que é comercial. Esse foi o grande segredo da Tahari por 30 anos. Nunca lancei moda, não é minha praia. Minha área é o comércio. Sei comprar e vender.

De onde você acha que veio essa veia de comerciante e de curadora?
Nesse aspecto a arquitetura soma. Estamos falando de equilíbrio, proporção, harmonia, combinação de cores. Do mesmo jeito que na moda temos pessoas básicas, temos arquitetos e decoradores básicos, que são aquelas pessoas clean. E temos as ousadias. Para mim a arquitetura e a moda conversam, estão muito ligadas. Porque vemos moda na arquitetura. As coisas voltam, tem sempre uma reciclagem, um casamento. Não é como uma medicina e a moda. O comércio me pegou.

Seu pai não ficou chateado de você “abandoná-lo”?
Não, ele entendeu, e muito rapidamente eu tive uma resposta. Tudo o que você faz tem que ter feedback do público, seja na área que for, não adianta só desejar. Eu tive uma resposta positiva muito rápido.

A primeira Tahari foi na Pampulha?
Sim, na casa onde era a loja da minha mãe. Era no fundo da nossa casa, passava a quadra e tinha a loja. Morei na Pampulha por 30 anos. Comecei a loja, já em sociedade com minha irmã, Lulu Abreu.

Por que ela saiu?
Lulu foi minha sócia na loja por 20 anos. Nos cinco últimos anos da loja em Lourdes, ela manifestava constantemente o desejo de sair e eu lutando para ela ficar. Chegou uma hora que ela falou que não estava feliz e queria fechar a loja, mas ainda não estava na minha hora. Decidi tentar sozinha. Ela fazia o financeiro e eu o comercial. Propus tentar aprender o financeiro e ver como eu me virava, e deu certo, não tive a menor dificuldade.

Quanto tempo depois abriu a de Lourdes?
Depois de três anos, abrimos uma loja na Rua Tomas Gonzaga, onde ficamos por dois anos, mas a loja ficava no piso inferior, sempre que chovia alagava. Mudamos para uma casa enorme na Rua Ceará, no bairro Funcionários, onde ficamos por oito anos. De lá fomos para o Bairro de Lourdes. Trabalhamos só com importados por 15 anos.

Quando mudou esse nicho?
Quando teve a virada do dólar. Tive que repensar tudo. E nessa mesma época a indústria brasileira teve um boom de moda, porque teve o fechamento de muitas lojas de venda de importados. Eu fazia importações gigantescas. Foi maravilhoso, mas ficou impraticável. E a moda nacional aprimorou e cresceu muito em estilo. No primeiro momento fiz um mix de importados e nacional. Depois fiquei basicamente com nacional.

Qual é a porcentagem de importação hoje?
Hoje, apenas 10% do mix de produtos. Não trabalho com grife nenhuma, temos que escolher uma fatia do bolo.

Qual é o seu foco?
Uma roupa de qualidade, atemporal, que não seja modinha. Minha importação não tem nome e sobrenome, ela vende por ser um produto bom e diferente.

Por que mudou de Lourdes?
Porque o proprietário pediu o imóvel. Hoje, o local não seria interessante para a loja porque virou uma região de muito bares e restaurantes. Na mesma época minha quis sair da sociedade. Fiz um happy hour junino, que faço há 17 anos, e comuniquei que fecharia a loja de Lourdes, e continuaria com a Pampulha.

E o que te fez vir para o Belvedere?
Eu tinha um único desejo, que era este espaço onde estou hoje. Não me serviria outro. Há nove anos o Belvedere não tinha nada. A Seis Pistas era simplesmente seis pistas, não tinha uma loja. Neste quarteirão só tinha as lojas dessa galeria, o Banco do Brasil e o Nectar da Serra, e eu tinha o desejo de ter essa loja e ela caiu na minha mão três meses depois que eu falei em fechar a loja de Lourdes.

Hoje o mundo é muito digital. Como migrou para a internet?
Temos que estar abertas a novas experiências, porque se você não se adequar, está fora do mercado. Tenho uma pessoa que me ajuda nesse marketing digital. Ela disse que era importante eu aparecer usando roupas da loja, e eu não queria de jeito nenhum, mas tive que ceder. Faço a fotos para o Instagram xingando o tempo todo, mas elas me obrigam.

E a roupa que vai até acasa da cliente? 
Hoje isso é muito usado.A Tahari foi das pioneiras nesse serviço. Criamos o delivery há mais de 15 anos.

Começou o delivery por demanda de cliente ou foi invenção sua?
Nessa época não usava isso, e funciona muito bem. Essa venda faz diferença na loja, apesar de eu considerar que o cliente aqui dentro tem mais opções e a ajuda da gente. Mas temos que adaptar ao mercado. É igual a digital influencer e um profissional de marketing.

Você trabalha com esse modelo?
Precisamos ter essas pessoas. Essa mudança do negócio começou há cinco anos, mas fortemente foi de dois anos para cá. Veja quantas influencers surgiram aqui na cidade, te falo de cara 15 fortes, não só de moda, mas de life style. Elas não vendem só moda, vendem uma maneira de viver. Assim está vivendo o mercado e a gente correndo atrás para se adaptar. Eu comecei este ano.

Dá resultado?
Esse trabalho de tá visibilidade. Não quer dizer que você ganhe um volume de venda considerável, mas você passa a ser vista, e ao ser vista, passa a ser desejada. O que não é visto, não é desejado.

Consegue medir a diferença dos posts feitos por vocês, dos feitos pela digital influencer?
Como tudo cansa, a mídia exaure as pessoas. Em março do ano passado contratei a menina do marketing, ela disse que eu precisaria aparecer, eu, Flávia. Eu era a cara da loja e a idade da cliente que eu atendo. Não vendo roupa para meninas de 15 anos, melhor, até vendo roupa de festa, um jeans, mas eu não tenho um croped, uma hot pants, porque não e o meu público-alvo. Resisti muito, mas encarei o desafio. Nos cinco primeiros meses era a conta de postar e as pessoas ficavam loucas. Depois, eu não aguentava ver minha cara ali, nem o cliente. Ele cansa de te ver, não é mais novidade. Tenho uma digital influencer que faz roupas de provador, mas se ficar só ela, também vai cansar.

Ficamos um pouco reféns dessa mídia?
Sim, ela é necessária, é o que chamamos de fast fashion, que também exaure as pessoas. Falei esta semana com as meninas que trabalham comigo que acabou foto em instagram. Quando quiserem vender alguma coisa devem fazer vídeo no instagram, falar. Não devemos mais escrever, mas pegar a roupa, fazer um vídeo mostrando e falando da roupa, tanto no instagram quando pelo WhatsApp. A voz emociona, se a pessoa diz “roupa maravilhosa” com uma intensidade, não é o mesmo que escrever a palavra. Deixou de ser mensagem para ser áudio, de foto para video. Não sei qual será a próxima mudança, mas temos que estar prontas e abertas para ela, se não, estaremos fora do mercado.

Como é fazer 30 anos de loja?
Para Belo Horizonte, que eu me lembre, da minha época é só eu e a Mary Caetano. É uma satisfação e gratidão, mas posso falar que é um grande esforço, e muita determinação. Temos que amar e ser perseverantes.

A que você credita essa longevidade?
Ao trabalho, emprenho, persistência e o fato de eu nunca achar que sou a “dona”, até hoje tenho vontade de servir e me alegro com isso. Interpreto a loja assim, estou aqui para te atender. Foi isso que fez a loja durar tanto tempo, eu não achar, hoje nenhuma que estou acima das clientes e da equipe.

O que te leva a trabalhar até hoje?
Porque tenho uma satisfação e uma motivação enorme. Ainda não chegou a minha hora de fechar. Uma de minhas vendedoras me pergunta isso toda a semana. Eu ponho a mão na massa. Se no fim do dia a loja está suja e a faxineira não vem no dia seguinte, eu pego um pano de chão e passo na loja toda, pego o aspirador e dou a limpeza. Se eu estiver atendendo, marco bainha das clientes até hoje. Aqui é meu local de trabalho, me realizo aqui dentro.

Tem sucessor para a loja?
Não, ninguém, meus filhos não querem. 
 
Como consegue adequar a presença na loja com todas as viagens para comprar produtos e a família?
Faço tudo sozinha, Rio, São Paulo, exterior, todas as feiras. Tem uma demanda de tempo. Às vezes as pessoas falam que eu estou sumida, não é isso. Tenho duas lojas das quais sou compradora, administrativo e financeiro. Ficou duas tardes na semana na loja da Pampulha. Moro na Seis Pista, muito perto dessa loja, mas a Pampulha me desanima um pouco por causa da distância. Quando ameaço fechar lá as clientes choram ameaçam protestar, invadir a loja e que eu teria que fechar a loja com elas lá dentro.

Tem tempo para o lazer?
Tenho minhas prioridades e sou focada. Qualquer dia da semana, se alguém me chamar para tomar um café, eu acho um intervalo para estar com os amigos. Não abro mão, em hipótese nenhuma, de estar com amigos em detrimento do trabalho. Mas, quando estou aqui dentro, estou trabalhando. Guilherme (Teixeira)ama viajar, então viajamos sempre. Eu me organizo, deixo tudo abastecido e vou. Tenho uma vida paralela à Tahari, não me resumo na loja. O que me move é equilíbrio e o foco.

Como conseguiu esse equilíbrio e não se deixou ser dominada pelo seu negócio?
Nessa questão o Guilherme teve grande influencia. Quando casamos ele quis ter logo os dois filhos e queria que eu parasse de trabalhar. Aprendi a dividir meu tempo para ter a loja e o casamento. Não sou centralizadora, dou autonomia para as pessoas que estão comigo. Elas têm responsabilidade, por isso eu posso sair. Mas eu trabalho dobrado para colher o mesmo resultado. Mesmo assim amanheço feliz vindo trabalhar. Lógico que tudo tem um ciclo, uma hora o meu vai fechar, mas não me cobro mais. Acordar feliz para vir trabalhar é o que justifica. 


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