Patrícia Santos é coautora do livro Raiva – Quem não tem?, especialista em gerenciamento desse sentimento tão polêmico. A seguir, ela nos ensina como lidar com a raiva, algo tão humano e tão presente nesta época de pandemia.
“Sabemos que a raiva tem reputação negativa quando comparada a outras emoções. A causa pode estar nas crenças, bem como na manifestação óbvia de seus resultados quase sempre destrutivos, como agressão e violência. De fato, muitos acreditam que estaríamos melhores se a raiva não existisse. O que precisa ser entendido, no entanto, é que todas as emoções são apropriadas em determinadas circunstâncias, quando experimentadas em um nível ideal.
A raiva não é apenas uma reação agressiva, muitas vezes seu papel principal é fornecer informações que permitam interagir melhor com o mundo e com nós mesmos. A raiva pode ter qualidades valiosas – quando identificada na intensidade leve a moderada, pode ajudar a melhorar a nossa vida e o mundo ao redor. Listei aqui 10 bons motivos para sentirmos raiva e percebermos como ela pode ser benéfica, caso seja administrada de forma apropriada. São eles:
Ela promove a sobrevivência – A raiva nos ajuda a defender de um inimigo, de um perigo, a nos proteger contra agressões. Nesses momentos, ele é ativada automaticamente. De forma muito positiva e na medida certa, pode nos levar a reagir, agindo com rapidez e força.
Conscientiza sobre a injustiça – Sentimos raiva quando nos negam direitos ou quando somos confrontados com insultos, desrespeito, injustiça ou exploração. Esse tipo de raiva pode trazer mudanças positivas à sociedade e aumentar o custo social do mau comportamento.
Auxilia a satisfazer nossas necessidades – Indivíduos que experimentam e demonstram sua raiva adequadamente estão em melhor posição para satisfazer suas necessidades e controlar seu destino, diferentemente daqueles que suprimem sua raiva. Esse sentimento está relacionado à profunda necessidade de controlar e proteger o que é nosso.
Motiva a resolver problemas – Nas situações do dia a dia, a raiva serve como força positiva para motivar a defender o que acreditamos. Também nos ajuda a encontrar, de forma criativa, soluções para problemas do cotidiano. Se as coisas não estão do jeito que deveriam estar e precisam mudar, a raiva nos impulsiona a encontrar soluções rapidamente.
Ajuda a conquistar metas – A raiva impulsiona a buscar recompensas e objetivos desejados. Quando não conseguimos o que queremos, a raiva é desencadeada e indica que nos afastamos de nossas metas. A raiva tenta eliminar o que impede de realizar nossos desejos, e isso nos leva a agir para alcançar nossos objetivos. Surpreendentemente, ela injeta otimismo.
Protege valores e crenças – A raiva serve como indicador e regulador social, que é ativado quando nossos valores não estão em harmonia com a situação que enfrentamos. Dessa forma, nos conscientiza de nossas crenças profundas e sobre o que defendemos.
Ferramenta de negociação – A raiva leva a responder a conflitos e negociações em benefício próprio. Isso faz com que outras pessoas repensem suas posições contra o que estamos defendendo no momento.
Proteção para sentimentos dolorosos – Semelhante aos mecanismos de defesa, ela serve para proteger de uma dor e de sentimentos quase insuportáveis, como ter sido rejeitado, abandonado e não amado.
Coloca limites – A raiva nos ajuda a descobrir limites e comunicá-los.
Autoconhecimento – A raiva fornece insights sobre nós mesmos. Também é eficaz indicador de falhas e deficiências. Se analisadas de forma construtiva, atitudes durante as fortes emoções e períodos de irritabilidade podem levar a resultados positivos, melhorando a inteligência emocional.
Portanto, da próxima vez que você sentir raiva, pergunte-se o que ela pode estar lhe mostrando e faça o movimento sem violência para tentar contornar a situação.”