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Conviver com vizinhos é tarefa difícil

Mesmo quem não convive com a vizinhança, acaba sabendo de muitas coisas que acontecem com a vida alheia


postado em 07/01/2020 04:00 / atualizado em 06/01/2020 22:15

Morei durante algum tempo em apartamento e simplesmente detestei. Faz parte da humanidade procurar “bispar” a vida alheia e detesto isso, não escondo nada da minha vida – mas gosto de falar o que quero e não ser vigiada por quem não conheço. Na época, a única vizinha que frequentava o meu apartamento era uma mulher de chefe do governo da revolução – que foi me ver porque escutou falando que minha casa, por causa de o meu marido trabalhar no jornal, era uma célula de encontros comunistas, contrarrevolucionários, o escambau. Ela foi ver de perto a difamação e acabou ficando minha amiga durante muitos anos, até depois que seu marido foi transferido para o Rio.

Outro lance que aconteceu foi engraçado e mostra bem como a vizinhança pode ser. Como meu apartamento era o único com telefone no prédio, uma suposta conhecida por causa do jornal pediu para eventualmente usá-lo. É claro que deixei, ela morava no mesmo andar. Só que saí de férias, e o apartamento foi invadido – ela viu a porta de entrada ser forçada e não fez nada. Se pessoas de minha família não tivessem ido lá para buscar não sei o quê, não teriam visto tudo que era de valor amontoado no meio da sala para ser carregado depois. Tempos passados, um investigador recebeu uma gentileza em um bar: um moleque acendeu seu cigarro com um isqueiro que ele sabia ser de ouro e, por milagre, estar na lista dos objetos que foram levados na primeira fase do roubo. Prendeu o “dono” do isqueiro que, por acaso, morava em prédio ao lado do meu. Desocupado, viu as janelas sempre fechadas, prédio sem portaria e resolveu fazer a festa. Chamado na delegacia, meu marido reconheceu o ladrão.

Por essas e outras, fui morar em uma casa onde um dos vizinhos é sempre desconhecido e mutante: trata-se do comandante do Exército em Minas, nunca vi cara de nenhum deles, eles são substituídos com frequência. Aliás, minto. Um deles tinha uma mulher muito simpática, que foi me visitar, era professora de inglês e do Rio Grande do Sul. Apareceu algumas vezes até que, numa manhã de sábado, eu saía para ir ao supermercado quando vi o general todo fardado atravessando a rua. Era muito cedo ainda, achei que devia haver alguma solenidade no quartel. Quando voltei das compras, fiquei sabendo da novidade, que as más coisas correm rápido: ele tinha atravessado a rua para se suicidar no quartel. Deu um tiro que levou sua vida e nem nesse dia fatídico vi sua mulher. O fato foi abafado com a maior eficiência e ela voltou para o Sul, parece que no mesmo dia.

Do outro vizinho tinha algum contato com ele e com as filhas, era dono da Clássico Joias, um endereço prestigiado na cidade. Só que por problemas familiares a empresa foi pro brejo e ele se mudou com a mulher para o Canadá, onde as filhas já moravam. Não deu certo, voltou, foi me visitar e contou que estavam morando em apartamento muito bom na Serra. Saí de férias e, quando voltei, fiquei sabendo que também ele havia se matado, pulando da janela de casa. Era um ótimo empresário, pagou todos os funcionários com o que tinha guardado, mas não deu conta do desaponto.

Já dá para ver que mesmo não convivendo com a vizinhança acabamos sabendo de muitas coisas que acontecem. A única peleja de morar em casa é gostar de ser cercada de muito verde. Quando nos mudamos pra lá, o lote era um carrascal completo, tinha um pé de goiaba, um de manga e outro de abacate. E só. Agora sou cercada de árvores frutíferas, muito verde e de duas pragas: os gambás, que são difíceis de controlar, mas ainda é possível, e os morcegos. Quando os pés de jabuticaba se cobrem de frutas, acendo uma luz em cima de cada um à noite e coloco vários saquinhos de naftalina, cheiro que eles não suportam. Mas e dentro de casa? Como mantenho as janelas abertas, eles não se fazem de rogados. Estou procurando e pedindo ajuda a quem sabe de alguma coisa que mate morcegos, que evite que eles entrem pela casa adentro. Morcego dentro de casa ninguém merece.

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