Minha saudosa e querida prima Naná Gabrich me supria sempre de uma delícia pouco conhecida por aqui: arroz vermelho. Durante muito tempo, ela cultivava o grão em sua fazenda, até que desistiu da tarefa: era para consumo familiar e o plantio era praticamente devorado por passarinhos. Passei muito tempo sem fazer arroz vermelho, até que nos últimos meses tenho recebido um pacotinho cá, um pacotinho lá: alguém se deu ao trabalho de cultivar a delícia. Para mim, uma panelada de arroz vermelho é melhor do que qualquer risoto da vida, exceção para o de trufas brancas, que não tem igual (mas que, de tão raro, só é provado de tempos em tempos).
Por aqui ninguém sabia o que era aquela comida, uma vez ousei fazer uma panelada para servir a amigos. Muitos olharam de nariz torcido, mas depois que provaram a novidade não sobrou grão na travessa. Realmente, é um acepipe dos deuses – mesmo sendo pouco conhecido. E como tem origem bem mineira, merecia ser mais bem divulgado. Semana passada, recebi da marca Tio João, especializada em receitas diferentes do grão, alguns bons quebra-galhos dizendo que a Josapar está apostando no produto, inspirado na culinária internacional.
Fiquei sabendo então que o arroz vermelho foi cultivado na Região de Camargue, na França. O grão, que pertence ao subgrupo integral, chegou ao Brasil através dos portugueses em meados do século 18 e logo teve seu cultivo proibido pela Coroa portuguesa por motivos comerciais, o que fez com que a variedade ficasse longe da mesa dos brasileiros por 120 anos.
Não sei como o arroz vermelho foi parar em Santa Luzia, onde é bastante conhecido, uma vez que a notícia que recebi conta que ele era plantado clandestinamente em fazendas do sertão nordestino. A realidade é que ele é muito mais nutritivo do que o branco, conta com 15% mais proteínas, três vezes mais ferro, duas vezes mais zinco, além de monocolina (elastina natural), que auxilia na redução do colesterol ruim (LDL), e propriedades antioxidantes que evitam o envelhecimento precoce.
O arroz vermelho Tio João tem forte apelo gastronômico graças ao seu sabor amendoado. Vou comprar para experimentar minha receita de família, que, para quem quiser fazer, é mais do que simples. Precisa de carne de porco (uso sempre suã, que tem mais carne do que a costelinha, uma vez que o caldo com osso fica mais saboroso), que é bem temperada e refogada para ganhar cor. Depois, recebe um tanto de água, para que a carne fique bem cozida e o caldo saboroso. Nessa altura, coloca-se o arroz para cozinhar. E ainda com muito caldo, acrescentam-se pedaços de batata-doce (não muito pequenos para que não desmancharem) e folhas de repolho rasgadas. Abafa-se a panela e deixe tudo cozinhar bem – mas mantendo caldo. Não deve ficar como sopa de arroz, mas quanto mais úmida a mistura ficar, melhor é o sabor do prato. Detalhe: experimentei com o arroz comercial, que é vendido em pacotes ou vidros, mas não fica igual, o arroz é mais duro, não derrete e o caldo não fica grosso, saboroso.
Falando na marca Tio João, vale experimentar os pacotinhos de arroz-doce que a marca lançou, em três sabores: natural, doce de leite e coco. Só consigo encontrar no Epa, e cada pacote só dá para duas porções para quem gosta do doce. E que fica muito mais gostoso quando é servido quase quente em lugar de gelado. Leva muito tempo para preparar, mas o pacotinho da mistura só leva água. Ainda não entendi até agora a razão de essa delícia não ser encontrada em outros supermercados.