(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Onde jogar as cinzas da cremação?

Opção por cremar tem aumentado nos últimos tempos e destinação das cinzas podem gerar dúvidas. Algumas mulheres apaixonadas as guardam em caixas de prata, em um dos ambientes da casa


postado em 02/11/2019 04:00 / atualizado em 01/11/2019 17:40


Minha mãe era uma mulher sábia – e por causa disso não tinha medo de nada. Seu maior prazer era a leitura, passou a vida com um livro na mão, quando não cuidada dos filhos. Apesar de ter feito apenas o primeiro grau, no grupo escolar de Santa Luzia, tinha mais conhecimento da vida e da cultura do que muitos e muitos que passaram por universidades. Quando envelheceu e não teve mais que criar filhos – botou 9 no mundo, um deles faleceu ainda com 2 anos – seu prazer era escrever (lançou um livro de casos sobre cidade em que nasceu) e pintar quadros que vendia muito bem, acredite quem quiser. Tempos depois que morreu, encontrei um caderno de anotações que ela fez numa viagem sobre Portugal e Itália, nem podia imaginar que reparasse tanto em tantas coisas. Escrevia à noite, no hotel, depois que íamos dormir.

Como gostava de escrever, gostava também de prever – e muito tempo antes de morrer deixou bem desenhado e explicado o que queria que fosse feita em sua sepultura. No tampo de mármore, apenas dois copos de leite com os caules cruzados sobre uma cruz. Está enterrada lá com meu pai, que morreu quando eu tinha apenas 2 anos, não me lembro nada dele. Minha irmã mais velha também está lá, mas só as cinzas, porque quis ser cremada. Assim como meu irmão, que morreu no Sul, onde sempre morou e provocou um desastre com minha sobrinha. Como cuidou da construção daquela ponte que liga o Brasil ao Paraguai – conhecida como Ponte da Amizade, queria que suas cinzas fossem jogadas lá. Minha sobrinha foi com a caixinha e primeiro teve que enfrentar uma forte investigação, os guardas da fronteira acreditavam que podia ser droga. Conseguiu provar que não era e foi jogar as cinzas do pai no rio. Só que não previu a ventania e quando virou a caixa, as cinzas voltaram todas sobre ela.

Meu caso foi mais fácil: usei sugestão de meu amigo, senador Antonio Anastasia , e usei os canteiros do meu jardim para guardar para sempre as cinzas de meu marido. Ele adorava ficar horas e mais horas perdidas, admirando as flores, o verde, os pássaros. No meu caso – que também quero ser cremada –, não escolhi ainda onde quero que minhas cinzas sejam jogadas. Mas, no dia de hoje, sigo os preceitos do amor e do respeito póstumo. Vou todos os anos a Santa Luzia levando flores para o túmulo da minha mãe. E para as cinzas sempre lembradas que estão em meu jardim, costumo colocar velas acesas.

A escolha da cremação tem aumentado muito nos últimos tempos. Mas deixa sempre um problema, sobre a destinação das cinzas, que não são poucas. Conheço caso de mulheres apaixonadas que conservam as cinzas do marido em caixas de prata, em um dos ambientes da casa. Parece um pouco de morbidez. E um dos casos mais interessantes é um contado nas memórias de Carlos Drummond de Andrade, em que as cinzas de um conhecido foram colocadas na dispensa da casa e, inadvertidamente, por desconhecimento, usada pela cozinheira da família como tempero. Quando descobriram, amigos e familiares já tinham consumido as cinzas do saudoso morto. O que, na verdade, não deixa de ser uma solução. 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)