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As peripécias de um sabiá visitante

Passarinho faz ninho em parede de casa e passa a visitar as dependências do imóvel. Ao errar o voo, quebra uma fruteira de cristal feita em Milão. A peça vale uma nota, pela qualidade e antiguidade


postado em 31/10/2019 04:00 / atualizado em 30/10/2019 17:12

Passei uns bons dias me divertindo com um visitante inquieto e absolutamente irresponsável: um sabiá, cuja parceira era totalmente diferente, tinha listas brancas entre as penas. Como todas as minhas janelas ficam abertas, ele rodava toda a área social com a maior intimidade, pousava nas cadeiras, deixava um cocozinho aqui, outro ali. Descobri que sua intimidade e constância vinha de um problema familiar: estava construindo um ninho numa parede que tenho junto à janela da sala de jantar, que é coberta por mudas de orquídeas. Quando ia ao jardim, via o danadinho voando de cá pra lá. Quando não carregava algum item construtor no bico, piava fortemente e ia se esconder nuns pés de pinheiros. Custei a descobrir onde é que o ninho estava localizado, mas, quando descobri, achei a maior graça: estava entre a orquídea e a parede. E como tem uma janela junto, ela era fechada na hora em que o jardim era molhado, o ninho não ficava livre da água. Mas o ninho estava lá, firme, e ele voando por toda a área.

Um belo dia começaram os estragos: errou a direção do voo e quebrou uma peça de cristal maravilhosa, que ganhei de uma amiga. Feita em Milão, era parte de vários objetos do mesmo tipo vendidos em antiquário, valendo uma nota, pela antiguidade e qualidade: o cristal verde, lindamente modelado em objetos variados de decoração e uso, é decorado a ouro. Fiquei tão encantada com a coleção quando foi exibida para compradores que uma das minhas amigas, que já não mora mais aqui, abonada, comprou tudo e me mandou uma espécie de fruteira, com pé, que ficava sobre a mesa da minha sala. Pois não é que o danado do sabiá conseguiu quebrar a fruteira? Como dava para colar, tentei bancar a restauradora, mas não dei conta. Minha irmã vai levá-la a um profissional que restaura vidro e cristal quebrado com o melhor resultado do mundo. Se é que sua oficina ainda existe, funcionava na Avenida Brasil, no Bairro Santa Efigênia.

Não satisfeito com o estrago, o sabiá intrometido meteu seu voo em uma manga de vidro de um castiçal e pronto: quebrou a peça sem fazer força. Só no voo. Para quem gosta dessas coisas antigas, que ninguém compra mais, esse tipo de manga desapareceu do mercado, ninguém mais tem, porque não existe demanda. Uma loja na Curitiba, perto da Avenida Amazonas, costumava ter, já não tem mais. Como meu caminho para o trabalho passa todo dia pela Avenida do Contorno, tenho observado que, quase na esquina com a Rua Leopoldina, tem uma espécie de depósito de peças antigas. A porta de entrada é pequena, vitrine não existe, mas olhando bem dá pra ver que lá dentro tem mercadoria diferente. Logo na entrada dá pra ver um daqueles vasos grandes de cerâmica chinesa colorida.

Fui lá e caí de quatro: o espaço é imenso, tem de tudo um pouco. Esculturas antigas de metal lindas, lustres preciosos, móveis de todas as épocas e tudo mais que uma casa de bom gosto comportava antigamente – e que os novos estão deixando de lado. Além de peças e móveis decorativos, há também louças, xicrinhas antigas de café, espelhos, e, imaginem, peças para cozinhar. A proprietária, Amália Alves, trabalha muito com consignação e, portanto, o estoque é mais do que variado. É claro que não têm manga de castiçal para vender, a proprietária conta que um cliente havia comprado todas que estavam lá, na semana anterior. Estou à espera de que outras apareçam. Enquanto isso, o ninho do sabiá está lá, no mesmo lugar. Mas parece que ele se cansou do movimento e mudou sua moradia para outro lugar. Danado...

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