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Estado de Minas COLUNA

Será que em sua família há alguma síndrome de predisposição ao câncer?

Herdar uma mutação não determina o câncer, mas sua identificação possibilita a realização de ações preventivas


03/01/2021 04:00 - atualizado 03/01/2021 08:24


Costumamos dizer que o câncer é um problema fruto do envelhecimento, pois o processo de desenvolvimento de um tumor (chamado carcinogênese) ocorre em longo prazo. Em geral, os sintomas começam em torno dos 50, 55 anos.

Hábitos de vida, condições ambientais externas, fatores hormonais, exposição a substâncias químicas, radioativas e cancerígenas podem influenciar e acelerar esse processo de carcinogênese. Alguns casos raros podem realmente fugir às explicações científicas já identificadas.

Há ainda as causas de predisposição hereditária, que correspondem a uma parcela menor, entre 10% e 15% dos casos. Sabe aquelas pessoas que têm a vida totalmente saudável, dieta impecável, rotina esportiva inspiradora e que choca a todos quando são diagnosticadas com um tumor? Pode ser um desses casos.

Nas síndromes familiares, mutações em genes específicos alteram o funcionamento celular aumentando as possibilidades de aparecimento de um tumor. Como podem ser passadas de geração em geração, aumentam o risco de vários indivíduos da mesma família terem a doença.

Existem inúmeras mutações e cada uma delas pode predispor ao adoecimento de um ou de vários órgãos. Não é uma sentença, nem determinismo. Muitos indivíduos, mesmo tendo as mutações hereditárias, podem não desenvolver nenhum tumor. E aí está o pulo do gato: identificar essas pessoas permite que a equipe médica elabore todo um planejamento de prevenção para evitar a doença.

É possível fazer também o rastreamento personalizado para que indícios pré-cancerígenos sejam identificados bem precocemente. Esse tipo de estratégia em grande escala poderia poupar a vida de milhares de pessoas, uma vez que o diagnóstico precoce pode aumentar o sucesso do tratamento em mais de 90%.

Se a gente considerar que no Brasil cerca de 200 mil pessoas morrem por ano vítimas do câncer e que 15% desses cânceres são causados por alguma Síndrome Hereditária, podemos chegar à conclusão hipotética de que a identificação destes pacientes, antes do aparecimento dos sintomas, poderia ter sido um diferencial e potencialmente ter salvo cerca 30 mil vidas por ano.

Normalmente, o teste genético (feito com saliva, sangue e até tecido de biópsia em alguns casos) é indicado para pessoas com casos de câncer na família, especialmente aquelas com menos de 50 anos, após a confirmação do perfil. A gente faz o teste genético na pessoa que teve o câncer. E se der positivo, posteriormente, rastreamos os familiares, irmãos, filhos e toda a descendência.

Identificar a presença dessas mutações amplia sobremaneira as possibilidades de prevenção. A primeira ação é adotar hábitos de vida positivos: alimentação equilibrada com exclusão de alimentos processados e aumento da ingestão de frutas, verduras, legumes, grãos e peixes; não fumar; não beber; ter os devidos cuidados com a exposição ao sol; fazer atividade física, pois, uma vez que a pessoa tenha predisposição, precisamos reduzir os riscos adquiridos e ambientais.

Em alguns casos, pode envolver medicação para evitar o desenvolvimento do tumor, a exemplo no Câncer de Intestino Hereditário (Síndrome de Lynch), em que indicamos a aspirina, e de alguns casos de Síndrome de Câncer de Mama, para quais indicamos tamoxifeno.

Por fim, em alguns casos de predisposição muito forte – por exemplo, o câncer de mama causado por mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 –, também indicamos a cirurgia profilática, conhecida como Cirurgia Redutora de Risco. A indicação só ocorre após analisar todas as condições e quando os ganhos são realmente vantajosos.

Quando bem indicadas, essas técnicas são extremamente eficientes. E cabe a nós geneticistas explicarmos as suas vantagens e desvantagens. Claro que, no final, a decisão sempre é do paciente. Acredito que, em um futuro próximo, teremos, inclusive, a possibilidade de correção do genoma por meio da edição do DNA. Mas, por hora, o que podemos fazer é detectar a predisposição e, assim, atuar preventivamente.

* André Murad – Oncologista, diretor-executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e Oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília/Cettro

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