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MÚSICA CLÁSSICA

Projeto da Sala Minas Gerais ousou para garantir acústica de alto nível

Arquiteto explica que a equipe decidiu "não repetir a gramática do convencional" na construção, para garantir que o espectador ouça o melhor som possível

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Uma caixa de sapatos. Não há melhor maneira de explicar o formato tradicional de uma sala de concertos. Inicialmente, a Sala Minas Gerais obedeceria à convenção. “É um caminho hiper seguro, já feito e testado um milhão de vezes, pois vem do final do século 19”, afirma o arquiteto acústico José Augusto Nepomuceno. A Sala São Paulo, por exemplo, tem essa forma.


À medida em que as conversas foram avançando, a intenção inicial mudou. “O verdadeiro desafio não é projetar um prédio, o lindo é a existência de uma orquestra, um desafio em um país como o Brasil. E a Filarmônica era uma orquestra superjovem. Se todo mundo estava se arriscando, resolvemos arriscar junto, não repetir a gramática acadêmica das salas de concerto.”


Na Sala Minas Gerais, a plateia circunda o palco – os balcões foram moldados. “Mas, na verdade, se você olhar para cima, ela é retangular”, diz Nepomuceno. De acordo com ele, durante toda a criação do projeto, a acústica foi uma questão “absolutamente prevalente”.


Além das salas Minas Gerais e São Paulo, a Acústica & Sônica, empresa de Nepomuceno, atuou em projetos no Lincoln Center, em Nova York; na Sala Cecilia Meirelles, no Rio; no Gran Teatro Nacional de Lima, no Peru; no Teatro de San Luis Potosi, no México, entre vários outros.


Diferença

A principal diferença entre uma sala de concertos e um teatro é a existência da caixa cênica (no segundo). “Numa sala de concertos, como não tem uma parede que separa músicos da plateia, como acontece no palco italiano, palco e plateia estão no mesmo volume de ar. Além disso, numa sala, a arquitetura do prédio é como se fosse um instrumento da orquestra. Ela está ali para amplificar o som dos instrumentos. Cada volumetria de sala gera um som diferente”, diz Nepomuceno.


Todos os projetos que ele assina estão ligados a teatros, salas de concerto ou espaços culturais. “Sobre o tipo de dificuldade, de desafio profissional, a escala seria o auditório, depois o teatro multiuso, a sala de ópera, a sala de música de câmara e, por último, a sala de concerto.”


“O ofício é quase o de um relojoeiro, produzimos biscoito fino. Um projeto leva dois, três anos”, acrescenta ele. Para Nepomuceno, uma orquestra e uma sala são “dois corpos vivos dialogando e a gente escutando”.


Como profissional da acústica, o arquiteto diz que o silêncio é também um elemento essencial. Cita Arnaldo Antunes – “Foi a primeira coisa que existiu”, verso da canção “O silêncio”– para falar da questão. “Ele é fundamental para que você ouça a música de onde ela acontece. Uma coisa que me incomoda é quando as pessoas começam a bater palmas antes que o som submerja no silêncio da sala. As palmas encobrem o som do violino que está no ar.”


A paixão pela acústica vem da família. Seu escritório existe em São Paulo desde 1962, foi fundado pelo pai, o físico Lauro Xavier Nepomuceno, um dos primeiros pesquisadores independentes de acústica (ligada à indústria) do mundo.


Foi pesquisador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e, em meados dos anos 1950, mudou-se com a família para a Alemanha, onde eles viveram até 1961. Sua mãe, a fonoaudióloga Luiza de Arruda Nepomuceno, seguiu a carreira acadêmica, como docente de Acústica na Escola Paulista de Medicina. 

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