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Estado de Minas

Sacolas biodegradáveis são reprovadas em teste de laboratório da UFMG

UFMG testa embalagens ditas compostáveis e biodegradáveis, obrigatórias em BH desde abril, e constata que elas têm composição semelhante à das convencionais e descumprem lei municipal


postado em 19/12/2011 06:28 / atualizado em 19/12/2011 06:33

A ideia sustentável de levar as compras para casa em sacolas plásticas compostáveis e biodegradáveis não é tão ecologicamente correta assim em Belo Horizonte. Estudo feito pelo Laboratório de Ciência e Tecnologia de Polímeros do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica que sacolas testadas na capital apresentam o mesmo percentual de polietileno – polímero usado na fabricação de embalagens de plástico – das convencionais. Pela lei municipal, que passou a valer em abril deste ano, somente as sacolas compostáveis e biodegradáveis poderiam ser oferecidas aos consumidores em BH. Elas são feitas de amido de milho, de mandioca ou batata, mas o trabalho tampouco identificou a presença de amido na composição dessas embalagens.

Vinte sacolas foram recolhidas aleatoriamente em supermercados, farmácias e padarias de BH e de cidades da região metropolitana. De início, a coleta já permite afirmar que ainda estão disponíveis no mercado embalagens proibidas pela lei. As amostras foram distribuídas em quatro grupos: compostáveis e biodegradáveis, convencionais, oxibiodegradáveis e recicladas. Os resultados preliminares do estudo, ao qual o Estado de Minas teve acesso, não permitem distinção entre os exemplares de um mesmo grupo de sacolas ou entre grupos distintos. Apenas uma embalagem, dita compostável e biodegradável, já apresentava indícios de degradação. A pesquisa aponta também que as amostras de sacolas oxibiodegradáveis, quando submetidas à queima, tiveram teor de cinzas extremamente elevado, sinalizando para a presença de aditivos inorgânicos que podem ser poluentes.

Segundo o coordenador do Grupo de Pesquisa em Géis e Polímeros da UFMG, professor Roberto Fernando de Souza Freitas, as embalagens foram submetidas ainda a raios infravermelhos para identificar seus elementos químicos e tipo de material, e análises térmicas para definir a temperatura de fusão (130 graus) e degradação (430 graus), esmiuçando os resíduos que sobram com aditivos. A pesquisa comprova que as amostras têm entre 85% e 90% de polietileno, que é um polímero. O indicativo era esperado para as embalagens convencionais, mas foi verificado também nas outras. “Não observamos diferença na composição química das sacolas dos quatro grupos de amostra. Ao final do trabalho, poderemos emitir um laudo e encaminhá-lo às autoridades, se for o caso, sugerindo a revisão da lei”, afirma.

Resíduos
De acordo com o especialista, a queima do polímero produz cinzas que são altamente poluentes porque podem conter metal, entre outras substâncias e aditivos. Os resultados iniciais mostram que as sacolas oxibiodegradáveis têm o mesmo percentual de resíduos das sacolas tradicionais. Somente a amostra de sacola compostável que apresentava indícios de degradação registrou teor de cinzas menor, de 7 a 8%. As demais tiveram 15% de resíduos poluentes. “No caso da embalagem que apresentava sinais de degradação, não sabemos quando ela foi produzida e por isso não é possível afirmar se a degradação ocorreu pelo tempo, por falhas no processamento do polímero ou ausência de aditivos na proporção usada para ampliar a vida útil da sacola”.

O professor é contrário à Lei 9.529/2008, que restringe o uso das sacolas plásticas. Ele diz que os polímeros trouxeram mais qualidade de vida à população e que a proibição dessas embalagens não resolve o problema ambiental. Na opinião dele, os esforços do poder público deveriam se concentrar na conscientização sobre a forma de descarte inadequado desse material na natureza. “Ao propor a substituição das sacolas convencionais pelas biodegradáveis, a lei gera no imaginário das pessoas a falsa ideia de que as novas embalagens poderiam ser descartadas sem qualquer dano ao meio ambiente, o que não é verdade. Essas embalagens supostamente biodegradáveis são plásticos oxidegradáveis ou fragmentáveis, que recebem aditivos químicos para acelerar o processo de degradação”, afirma Roberto.

‘Catástrofe’
De acordo com o coordenador do Grupo de Pesquisa em Géis e Polímeros da UFMG, a degradação química promove uma poluição invisível, com a quebra dos sacos plásticos em milhares de pequenas moléculas que não desaparecerão na natureza. “Elas se transformarão em resíduos, em pó, e vão parar em leitos de rio, cursos d’água e permanecerão no solo. Com isso, esses resíduos de plásticos quimicamente tratados podem ser incorporados à nossa dieta e na dos animais. Do ponto de vista ambiental, é uma catástrofe”, diz o professor.

O trabalho ainda não foi finalizado. O universo das amostras será ampliado e também estão feitos testes de envelhecimento acelerado em uma câmara que simula as condições do meio ambiente, de temperatura, luz e poluição. As sacolas plásticas ainda devem ser enterradas. O estudo deve ser concluído até meados de 2012. O resultado inicial, porém, já surpreendeu o fisioterapeuta Gabriel Cordeiro, 33 anos, que fazia compras ontem em supermercado da capital. “Nunca tinha ficado em dúvida”, disse.

FIQUE ATENTO

O QUE PODE SER USADO
Sacola biodegradável compostável: Feita de amidos (milho, mandioca ou batata) ou do bagaço de cana-de-açúcar. Não poluente e sem resquícios de toxicidade, a sacola tem decomposição natural no prazo de 180 dias sob determinadas condições de umidade e de luz.

Sacolas retornáveis: Feitas de tecidos, lonas, TNT, sisal ou plásticos, com espessura mínima de 0,3 mm. São resistentes e duráveis

Sacos plásticos transparentes: Usados para embalar frutas e verduras nos sacolões e carne nos açougues, não são citados na lei porque não têm finalidade de transporte

Saco de lixo biodegradável: Produzido com amidos ou bagaço de cana, tem prazo de decomposição de até 180 dias e substitui os sacos de lixo convencionais à base de petróleo. Resíduos finais resultantes nãosão danosos ao meio ambiente

O QUE NÃO PODE SER USADO
Sacola de plástico convencional: Produzida à base de petróleo, é descartável e tem tempo de decomposição de até 400 anos

Oxibiodegradável: Sacola plástica feita de polímero de petróleo que contém o aditivo D2W, que acelera a decomposição. O aditivo faz a sacola se separar em partes, mas o processo não ocorre naturalmente

Biodegradável compostável sem selo : Não tem a identificação de atendimento das normas da ABNT porque foi confeccionada antes da publicação do Decreto 14.367, no último dia 12, que exige o selo

Reciclada: Sacola de plástico descartável feita com sobras de produção e de plástico reciclado oriundo de catação. Geralmente é colorida (verde, amarela, vermelha ou preta), tem impurezas e resíduos tóxicos prejudiciais para o meio ambiente.

PONTO CRÍTICO
A lei das sacolas biodegradáveis compostáveis é positiva?

Marcus Vinicius Polignano, ambientalista, coordenador do Projeto Manuelzão da UFMG
SIM
“Desde que a lei das sacolinhas foi sancionada, milhares de embalagens plásticas foram retiradas de circulação. Nosso modelo de consumo propicia conforto e comodidade, mas pouco se preocupa com o destino dessas sacolas e isso leva à degradação do meio ambiente. O jeito mais comum de reutilizar as sacolas plásticas é para jogar o lixo fora. A gente produz, consome e joga fora. Há sacolas plásticas, pilhas, pneus e material de computador. Se queremos ter sustentabilidade, teremos que abrir mão da comodidade. A sociedade precisa evoluir. Evitar o consumo de matéria-prima e o descarte de material que não é biodegradável é um exercício de cidadania. E cada um de nós pode ter atitudes mais significativas com o meio ambiente em nosso dia a dia. A prefeitura também precisa fazer sua parte e ampliar a coleta seletiva. Outra vertente para se discutir é a fiscalização. Os órgãos de certificação precisam qualificar produtos verdadeiramente com essas características. Senão, é malandragem da indústria”.

Roberto Fernando de Souza Freitas, coordenador do Grupo de Pesquisa em Géis e Polímeros da UFMG

NÃO
“A lei tem equívocos básicos e tira o conforto do cidadão, banindo certos tipos de sacolinhas plásticas, mas isso não contribui em nada para a diminuição do impacto no meio ambiente. Os sacos transparentes usados para embalar frutas, carnes e peixes continuam disponíveis no mercado e eles têm a mesma composição química das outras embalagens. Além disso, a lei passa uma ideia de que você pode descartar as sacolas no meio ambiente por elas serem ecologicamente corretas, o que não é verdade. Os plásticos invadiram nossas vidas porque são mais leves, personalizáveis, impermeáveis, fáceis de processar em qualquer forma. Paradoxalmente, o que traz facilidade traz também um problema que só se desfaz entre 100 e 500 anos. Exatamente pela sua durabilidade, ele pode ser reciclado. As sacolas convencionais serviam para seu fim e uma possibilidade era melhorar sua qualidade para diminuir seu uso. O problema não é usar a sacolinha, mas a forma como descartá-la”.


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