Um passeio pela Avenida Abílio Machado, uma das principais vias da Região Noroeste de Belo Horizonte, se revela uma aventura para quase todos os sentidos do corpo. A visão se perde na multidão que entra e sai de 290 lojas e esbarra em mais de 30 camelôs e vitrines a céu aberto. Os ouvidos quase enlouquecem com os ritmos que pulsam, no mais alto volume, das caixas de som na porta dos comércios; dos shows improvisados e megafones usados para atrair clientes; e da música de gosto duvidoso do celular de grande parte dos pedestres. O olfato se impressiona com a profusão de aromas e perfumes, vindos das bancas de pequi, das máquinas de frango assado e das fragrâncias falsificadas e comercializadas pelos ambulantes. Tudo isso com muito tato e habilidade para desviar dos montes de lixo espalhados pela rua; carros, motos e bicicletas nas calçadas; buracos no chão; e dezenas de mercadorias, como sofás e máquinas de lavar expostos nos passeios.
Esse pequeno trecho funciona no velho esquema do “vale-tudo” e, em poucas horas da manhã de ontem, a equipe do Estado de Minas constatou uma lista de problemas. Por volta das 11h, nada menos que 33 carros e motocicletas estavam estacionados sobre o passeio, 31 camelôs tinham bancas armadas na via, 17 lojas ostentavam caixas de som na entrada, sete montes de lixo obstruíam a passagem dos pedestres, 12 pessoas distribuíam panfletos para o público e nove bares ou carrinhos improvisados vendiam espetinhos e sanduíches em mesas e cadeiras espalhadas no passeio. Isso sem falar dos 14 buracos na calçada e de uma criança que, ao lado da mãe e sem nenhuma noção de civilidade, não se incomodou com o movimento e se encostou no muro para fazer xixi. Mesmo para um domingo, um detalhe importante chamou a atenção: nenhum fiscal ou agente da prefeitura foi visto no local.
Uma das cenas mais inusitadas foi a do show de moda de viola em um açougue, na esquina da Avenida Abílio Machado com a Rua Mário de Melo. A dupla Romano e Roceri estacionou um carro de publicidade sobre o passeio – infração pelas Posturas Municipais – e montou o palco na entrada do estabelecimento, em meio a um mar de anúncios de joelho de porco, costela de boi e frango assado. Misturados à fila de pessoas interessadas na compra das carnes e de sorvetes, também vendidos num canto do açougue, grandes clássicos da música sertaneja de raiz ecoavam pelos quatro cantos da via e dificultavam até uma simples conversa entre os pedestres.
O trânsito é capítulo à parte no domingo da avenida. Na manhã de ontem, a equipe do EM levou 27 minutos para percorrer os 3,1 quilômetros da Abílio Machado no sentido bairro/Anel Rodoviário. Mas, na direção contrária, foram 56 minutos para fazer o percurso. Além do maior movimento de ônibus e carros no lado direito da rua (de numeração par), uma obra da Copasa próximo à Praça Paulo VI, transformou em caos o que já estava bastante complicado.